O JORNALISTA BILLY WILDER
Houve um tempo em que
ninguém se importava muito com diretores de filmes. As pessoas iam ao cinema
pelos atores, que eram uma grande atração, embora não fizessem milagre para
salvar roteiros ruins e muitas vezes se viam envolvidos em fracassos de bilheteria.
Se muita gente não sabe quem é Billy Wilder (1906-2002), com certeza assistiu a
pelo menos dois ou três dos seus ótimos filmes. Só para citar alguns: “A
montanha dos sete abutres” (Kirk Douglas), “Crepúsculo dos Deuses” (William
Holden/Gloria Swanson), “Se meu apartamento falasse” (Jack Lemmon/Shirley
MacLaine), e “Quanto mais quente melhor” (Tony Curtis, Jack Lemmon/Marilyn
Monroe). Para que mais?
Dia desses pesquisando a
prateleira de cinema da Biblioteca Sergio Milliet vi uma biografia dele, que li
há muito tempo e resolvi reler: “Billy Wilder e o resto é loucura”, de Hellmuth
Karasck. São Paulo, DBA – Dórea Books and Art, 1992.
O premiado Billy Wilder. |
Billy Wilder nasceu na
Galícia, em uma cidade que fazia parte do império austro-húngaro, mas atualmente
é território polonês. Aos 19 anos mudou para Viena com o objetivo de ser
jornalista. Sem conhecer ninguém, percorreu redações em vão até que abriu a
porta certa na hora errada e conseguiu o posto de repórter. (Surpreendeu o
crítico de teatro com uma senhora num canapé.) O jornalismo, entretanto, não
lhe proporcionou o mundo de aventuras que imaginou e muito menos remuneração
decente. Depois tentou Berlim, onde para complementar o salário tornou-se
dançarino profissional em um café. Aproveitou a experiência para escrever uma reportagem
sobre o assunto. Aliás, era um redator muito bom e criativo, que já revelava o
roteirista que existia nele.
Na entrevista com Karasck
conta que, se não dançava tão bem quanto os colegas, com certeza era dono dos
melhores diálogos. E conta que durante uma valsa lenta, após pedir permissão,
ele pergunta:
Sabe o que a senhora me lembra?
Não.
Não tenho coragem de dizer!
Diga!
Um magnífico suflê.
Um suflê?
Preparado por anjos. Numa varanda do Mediterrâneo.
Extremamente delicado, recheado de iguarias divinas.
O senhor está me dando fome.
O bom nesse emprego é que
além do parco salário e de boas gorjetas, ele podia comer à vontade.
Até descobrir o cinema
muita água rolou, mas graças ao seu talento e com esforço ele conheceu o sucesso em Berlim, ganhou
dinheiro até que o bando de malfeitores assumiu o poder e Billie Wilder teve que deixar tudo
para trás (inclusive documentos) e partir para Paris, onde recomeçou do nada. A
mudança seguinte foi para os Estados Unidos. O convite partiu de um amigo
alemão, que já fazia sucesso por lá, e enviou um telegrama com uma lista de
pedidos rocambolescos: “No Prunier da
Avenue Victor Hugo bebi vinho de Anjou da safra de 1926. O preço na carta era
de dezesseis francos. Traga 120 garrafas. Dê meu endereço ao proprietário para
o caso de pedir uma nova remessa stop Aqui não sabem o que é bidê por isso
traga três belos bidês, alem de duas peneiras para espinafre. Encomende logo
três camisas de fraque como de costume no Knize a fim de poder trazê-las stop
Zama ajudará a arranjar passagens de navio mais baratas”.
Claro que Billy Wilder
não levou nada: não tinha dinheiro para as camisas e o vinho, quanto aos bidês
sugeriu que o amigo tomasse banho de cabeça para baixo. O início da carreira em
Hollywood também não foi fácil, mas tinha talento de sobra para conquistar seu
lugar ao sol.
Assisti a muitos filmes dele e o único de que não gostei foi “Romance na tarde”, mas “ninguém é perfeito”.
Assisti a muitos filmes dele e o único de que não gostei foi “Romance na tarde”, mas “ninguém é perfeito”.
Joe E. Brown e J. Lemmon: "Ninguém é perfeito." |
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