No início do século XIX o viajante que chegava
ao Planalto de Piratininga, procedente de Santos, via-se cercado pela Mata
Atlântica, por onde corriam o rio Tamanduateí e seu afluente da margem esquerda,
o córrego do Ipiranga. O trajeto era o mesmo que o silvícola usava muito antes
da chegada dos portugueses às terras Tupiniquins e que mais tarde foi chamado também
de Caminho do Padre José em decorrência das idas e vindas do padre José de Anchieta entre a praia e São Paulo.
Mais famoso
que o rio ficou o córrego, graças às artes de um príncipe rebelde que o fez conhecido
pela vastidão de 8.516.000 km²
do Brasil a que ele deu à luz. Com a inclusão do riacho à história pátria, os
linguistas começaram uma briga para traduzir ou interpretar o significado de
Ipiranga. Assim, uns dizem que quer dizer “terra roxa ou vermelha” (Azevedo
Marques) e outros juram que é “leito desigual e empinado” (João Mendes). A
Prefeitura de São Paulo parece que prefere a primeira versão, como se pode
constatar em seu site.
No princípio a região era
ocupada por pequenos proprietários. Chácaras e sítios e algumas fazendas
pequenas. Em 1621, Catarina de Pontes, por exemplo, tinha “sítio e casa, roças,
50 cabeças de gado e três cavalos avaliados em 134 mil réis”. Entre os
primeiros moradores destaca-se a figura de Antônio Proença. O filho
dele, Francisco de Proença, e quatro filhas formaram o clã dos Taques, Laras,
Almeidas, Toledos e Morais. A região viveu em pé de guerra no século XVII por
questões de terras e envolveu os descendentes de Proenças com Pires e Camargos
por duas gerações, “numa versão barroca da Verona medieval”, no dizer de Barro
& Bacelli.
Poucos habitantes. Uma vida
simples. Um pequeno comércio à beira do caminho para atender aos viajantes. Nada
mais que isso existia no entorno do riacho do Ipiranga, quando no final da
tarde de sábado, 7 de setembro de 1822, a comitiva do príncipe Dom Pedro,
procedente de Santos, encontrou-se com o correio Paulo Bregaro que trazia cartas
importantes de José Bonifácio de Andrade e Silva e de Dona Leopoldina. Cartas
que mudariam o rumo da história do Brasil e o destino do príncipe.
A famosa “Casa do Grito” não existia
em 1822. A documentação mais antiga do imóvel remonta a 1884, mas quando Pedro
Américo (1843-1902) pintou o quadro “Independência ou Morte” em 1888 incluiu a
casa na cena.
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