Strahov - A Sala Teológica, Praga, República Checa. Biblioteca do século XVII. |
A minha leitura do
momento é sobre livros. Um passeio muito bom sobre o desenvolvimento da
escrita, os meios que o homem usou para registrar suas experiências e seus
pensamentos até que se chegasse ao livro como o conhecemos nos dias atuais. A
escrita nasceu da necessidade de contabilizar a produção agropastoril, assim,
ao contrário do que dizem as más línguas, as duas profissões mais velhas do
mundo são a do pastor e a do agricultor. A terceira, provavelmente, a do
contador. E fazer onde essa contabilidade básica? Usou-se de tudo. Em pedra
onde segundo a tradição hebraica foram gravados os dez mandamentos; os romanos
usavam bronze para redigir seus documentos, como a Lei das Doze Tábuas. Os
egípcios usavam papiro, um vegetal. É provável que os mais antigos papiros remontem
a 3.500 anos.
Os
gregos também escreviam em tábuas de madeira, que depois aproveitavam para usar
como lenha na cozinha (segundo um autor, eles cozinhavam seus legumes com as
leis de Sólon e de Drácon). Os chineses, inventores do papel e da prensa,
começaram escrevendo em trapos e seda. Na Ásia, muito antes da era cristã já se
usava o pergaminho, feito de pele de carneiro. Coube aos chineses a invenção do
papel e, possivelmente, por volta de 213 a. C., mas a maravilha só chegou à
Europa em 1144 via Espanha.
Todos
os povos iam absorvendo as novidades à medida que delas tomavam conhecimento.
Assim, surgiram as bibliotecas que eram bem diferentes do conceito
contemporâneo: funcionavam como depósitos dos registros comerciais, legais e
religiosos. A mais importante biblioteca da Antiguidade foi a de Alexandria –
que era dividida em duas seções em bairros diferentes. Consta que tinha mais de
setecentos mil volumes, mas os historiadores alertam para o fato de que
“volume”, nesse caso, refere-se às divisões de uma mesma obra: “assim, o poema
da Ilíada, em 24 cantos ou livros, formava 24 volumes”.
Há
duas versões sobre o incêndio da biblioteca de Alexandria. A versão de que ela
teria sido destruída pelos muçulmanos é desmentida por um bibliógrafo francês
que atribui aos cristãos o crime. Realmente, houve um incêndio acidental em 47
a. C. quando Julio César entrou em Alexandria, mas a seção de Serápio “foi
destruída pelo bispo Teófilo, quatrocentos anos depois”.
Os
gregos que cultivaram a filosofia e as ciências preferiam bibliotecas privadas,
portanto, pequenas; entretanto, os romanos que se dedicaram à conquista do
mundo, possuíam as melhores bibliotecas e foram os primeiros a criar
bibliotecas públicas. Aliás, quem teve a ideia da biblioteca pública foi Júlio
César, mas só implantada após sua morte no átrio do templo da Liberdade. Mas
naquela época como hoje as coisas podem ser um pouco diferentes, como Wilson
Martins transcreve Ovídio:
“Meu guia me conduziu,
através de degraus magníficos ao templo de degraus de mármore branco consagrado
ao deus cuja cabeleira está sempre intacta [Apolo]... Aí todas as criações dos
gênios antigos e modernos são postas à disposição dos leitores... O guarda
desses lugares sagrados expulsou-me. Dirijo-me para um outro templo, situado
perto de um teatro vizinho; também me proibiram a entrada. Desse primeiro asilo
das belas-letras, a Liberdade, que aí pontifica, não me permitiu atravessar o
vestíbulo...”.
No
século IV havia 28 bibliotecas públicas em Roma, com o serviço de empréstimo
organizado e em funcionamento.
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