segunda-feira, 24 de setembro de 2018

A HISTÓRIA É UMA HISTÓRIA...

Strahov - A Sala Teológica, Praga, República Checa. Biblioteca do século XVII.
A minha leitura do momento é sobre livros. Um passeio muito bom sobre o desenvolvimento da escrita, os meios que o homem usou para registrar suas experiências e seus pensamentos até que se chegasse ao livro como o conhecemos nos dias atuais. A escrita nasceu da necessidade de contabilizar a produção agropastoril, assim, ao contrário do que dizem as más línguas, as duas profissões mais velhas do mundo são a do pastor e a do agricultor. A terceira, provavelmente, a do contador. E fazer onde essa contabilidade básica? Usou-se de tudo. Em pedra onde segundo a tradição hebraica foram gravados os dez mandamentos; os romanos usavam bronze para redigir seus documentos, como a Lei das Doze Tábuas. Os egípcios usavam papiro, um vegetal. É provável que os mais antigos papiros remontem a 3.500 anos.
Os gregos também escreviam em tábuas de madeira, que depois aproveitavam para usar como lenha na cozinha (segundo um autor, eles cozinhavam seus legumes com as leis de Sólon e de Drácon). Os chineses, inventores do papel e da prensa, começaram escrevendo em trapos e seda. Na Ásia, muito antes da era cristã já se usava o pergaminho, feito de pele de carneiro. Coube aos chineses a invenção do papel e, possivelmente, por volta de 213 a. C., mas a maravilha só chegou à Europa em 1144 via Espanha.
Todos os povos iam absorvendo as novidades à medida que delas tomavam conhecimento. Assim, surgiram as bibliotecas que eram bem diferentes do conceito contemporâneo: funcionavam como depósitos dos registros comerciais, legais e religiosos. A mais importante biblioteca da Antiguidade foi a de Alexandria – que era dividida em duas seções em bairros diferentes. Consta que tinha mais de setecentos mil volumes, mas os historiadores alertam para o fato de que “volume”, nesse caso, refere-se às divisões de uma mesma obra: “assim, o poema da Ilíada, em 24 cantos ou livros, formava 24 volumes”.  
Há duas versões sobre o incêndio da biblioteca de Alexandria. A versão de que ela teria sido destruída pelos muçulmanos é desmentida por um bibliógrafo francês que atribui aos cristãos o crime. Realmente, houve um incêndio acidental em 47 a. C. quando Julio César entrou em Alexandria, mas a seção de Serápio “foi destruída pelo bispo Teófilo, quatrocentos anos depois”.
Os gregos que cultivaram a filosofia e as ciências preferiam bibliotecas privadas, portanto, pequenas; entretanto, os romanos que se dedicaram à conquista do mundo, possuíam as melhores bibliotecas e foram os primeiros a criar bibliotecas públicas. Aliás, quem teve a ideia da biblioteca pública foi Júlio César, mas só implantada após sua morte no átrio do templo da Liberdade. Mas naquela época como hoje as coisas podem ser um pouco diferentes, como Wilson Martins transcreve Ovídio:

“Meu guia me conduziu, através de degraus magníficos ao templo de degraus de mármore branco consagrado ao deus cuja cabeleira está sempre intacta [Apolo]... Aí todas as criações dos gênios antigos e modernos são postas à disposição dos leitores... O guarda desses lugares sagrados expulsou-me. Dirijo-me para um outro templo, situado perto de um teatro vizinho; também me proibiram a entrada. Desse primeiro asilo das belas-letras, a Liberdade, que aí pontifica, não me permitiu atravessar o vestíbulo...”.

No século IV havia 28 bibliotecas públicas em Roma, com o serviço de empréstimo organizado e em funcionamento.




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