quarta-feira, 5 de setembro de 2018

UM MONUMENTO. UMA NOVELA



Museu Paulista da Universidade de São Paulo, no Ipiranga. Foto: HPPA.

A vida pouco mudou no entorno do riacho após a proclamação da Independência até a inauguração da estrada de ferro São Paulo Railway, ligando São Paulo a Santos, e o loteamento da área compreendida entre Glória, Lavapés e o Morro do Ipiranga. No final do século XIX, os principais proprietários de terras eram o conde José Vicente de Azevedo (1859-1944) e os herdeiros de Antônio de Moraes.

Contam os historiadores que a ideia de construir um monumento às margens do Ipiranga surgiu após o grande evento histórico, mas... Adivinhem. Não havia verba. Capitaneados por Antônio da Silva Prado moradores se mobilizaram para fazer uma subscrição pública para “se erigir no lugar, denominado Piranga hum monumento”.  Isso mesmo: Piranga. Em 26 de fevereiro de 1823 José Bonifácio dá a concessão para a construção do marco. Em setembro de 1824 ainda se discutia o caso, pois os edis queriam que o monumento fosse erguido na cidade porque o Ipiranga ficava muito longe.

A Coroa determinou que fosse “aquela memória inaugurada no próprio sítio do Piranga em que foi proclamada a Independência Política do Império”.  A verdade é que a Câmara marcou o local e nada mais fez. A Câmara do Rio resolveu abrir uma subscrição nacional para o monumento; entretanto, em 1829 a obra já estava parada por falta de dinheiro. Os paulistas não puseram a mão no bolso para a obra, sem contar que “a estética que a inspirara era a mais deplorável”, segundo o historiador Afonso D’Escragnolle Taunay. Por traz de todo esse descaso havia uma longa história com a Maçonaria. Com a abdicação de D. Pedro em 1831, a obra foi abandonada.

Vinte e quatro anos depois D. Pedro II em visita a São Paulo quis conhecer o local onde o pai proclamara a Independência. Bem amargurado deve ter ficado ao ver “apenas uma torrezinha de madeira carcomida pela intempérie como marco comemorativo”.

O descaso não era total. Todos os anos em 7 de setembro os estudantes do Largo de São Francisco organizavam uma visita ao Ipiranga. Nova mobilização: o governo criou uma loteria para arrecadar fundos. Houve muitos desentendimentos entre o arquiteto italiano Thomaz Gaudêncio Bezzi contratado em 1885, que insistiu no projeto de um palácio enquanto os contratantes queriam um prédio de utilização prática, como um estabelecimento de educação.

Estavam as coisas nesse pé, quando o Império caiu. A República nasceu sem que houvesse um marco da independência que, enfim, foi inaugurado em 7 de setembro de 1895. Inacabado, diga-se de passagem, por falta de recursos para a execução das alas laterais do palacete. Graças à teimosia de Bezzi, temos hoje no alto da colina do Ipiranga o prédio em estilo eclético, que abriga o Museu Paulista da Universidade de São Paulo. A obra teve a supervisão do italiano Luiz Pucci, autor do projeto da Avenida D. Pedro I.

O Museu Paulista encontra-se fechado há cinco anos para obras de restauro e recuperação e deverá reabrir em 2022 para as comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil. (7/09/18).


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