quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

DIA DE REIS

O dia amanheceu claro e quente. Típico de verão. Nem poderia ser diferente já que é verão. Leio os jornais, olho a correspondência e na internet procuro sebos no bairro. Localizo quatro e decido ir ao mais distante, na vila Mariana, porque o que fica próximo de casa é muito pequeno e o do Largo Ana Rosa fechou faz tempo. 

Lá vou eu subindo a ladeira enquanto o sol ainda está agradável e vejo uma senhora conversando com o porteiro de um prédio. Paro no semáforo, ela me alcança e não perde tempo em entabular conversa ‒ a velha história sobre o tempo. Respondo sem entusiasmo, mas não se importa, continua animada e logo sei que ela tem problemas nos pés, tem uma enorme coleção de sapatos, sofreu um tombo com tênis e, felizmente, chegamos ao Largo Ana Rosa, onde nos separamos. Observo que o movimento nas ruas aumentou, mas está longe do que era em outros tempos. Na Rua Madre Cabrini nem sombra do sebo; mas o outro é próximo à Rua Sena Madureira. Noto que o Colégio MADRE CABRINI está fechado, assim como o ZAIS, “a casa mais dançante de São Paulo” ‒ o aviso de que voltariam em breve desapareceu da porta. Espero que levado pelo vento e não por outros desígnios. 

Enfim, nada do outro sebo. Pesarosa, resolvo tomar um cafezinho e a mocinha me recepciona com um termômetro (temperatura normal). O salão está vazio. No retorno, uma senhora me aborda: “A senhora é católica?” Oh! Céus! Catequese? Respondo que não. Ela se desaponta: “Ah! É que eu queria saber o nome dos Reis Magos”. Disse para ela que isso eu sabia, ou melhor, achei que sabia, porque depois do Belchior e do Baltazar embatuquei; ela então comentou que do nome desses dois ela também se lembrava, mas o terceiro... “Vamos resolver isso.” Entramos em um desses pequenos mercados de grandes redes que pipocam por todas as ruas da cidade e, no celular, pesquisei no Google e descobri o nome do esquecido: Gaspar.

Ela se despediu satisfeita e eu continuei o caminho, desapontada por não encontrar o sebo; mas eis que de repente avisto na outra calçada a loja! Ela estava fechada quando passei e não tem placa! O dono ou gerente comenta que, atualmente, não se preocupa muito com horário ‒ abre entre 10 e 11 horas. Ele não tem o livro, que para encurtar a história encontrei no sebo aqui pertinho de casa ‒ um ótimo sebo, por sinal. Valeu o passeio, que terminou com um delicioso sanduíche de falafel.


“Adoração dos Magos”, de Bartolomé Murillo (1617-1682), pintor barroco espanhol. Acervo: Museu de Toledo.


Ignoro o autor, mas esta é uma imagem dos tempos de Coronavírus. 

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