Costumam dizer que o romance policial é um gênero literário menor. Há certo esnobismo na afirmação. Não sou crítica literária nem pretendo ser, mas o gênero tem ótimos escritores e, certamente, pode ser um caminho para conquistar leitores para outras variedades. Os autores costumam usar uma linguagem acessível, estilo leve para contrabalançar com a violência dos crimes e conduzem o leitor pelos meandros da investigação, instigando a imaginação do leitor num verdadeiro jogo para encontrar o culpado.
Sou fã do escritor americano Rex Stout (1886-1975). Se Raymond Chandler conduz o leitor por Los Angeles dos anos 1930, desvendando tanto o submundo como os salões e dormitórios de ricos e famosos da cidade dos anjos por meio de Philip Marlowe na busca de criminosos, Stout nos revela New York, percorrida pelo detetive Archie Goodwin a serviço do preguiçoso, genial e gordo Nero Wolf.
Este
ano li meu primeiro livro do italiano Andrea Camilleri (1925-2018). Na verdade,
foi em 1999 que conheci a série de TV “O comissário Montalbano”, protagonizado
pelo ator Luca Zingaretti. No final do ano passado soube que o criador do
personagem era Camilleri e fiquei curiosa. Da série lembro-me das paisagens
maravilhosas da Sicília e das histórias muito boas. O encontro com Camilleri aconteceu
com “Uma voz na noite” e ele me conquistou logo nas primeiras páginas.
Não pude deixar de me lembrar de Nero Wolf. Montalbano entre uma investigação e outra se empanturra de boa comida seja em restaurante ou trattoria, casa de testemunha ou de quem lhe ofereça um bom prato. Nero Wolf do outro lado do Atlântico prefere seu próprio cozinheiro porque, como misantropo, detesta comer fora. Hora das refeições são rigorosamente respeitadas. O cliente que se amole O comissário italiano gosta de uísque, o detetive americano não dispensa cerveja. Sobrou uma curiosidade: pelo que come Montalbano deveria ter o físico de Wolf, que por sua vez come moderadamente de acordo com as descrições feitas por Goodwin; entretanto, o comissário aparece sempre lépido e agitado.
Andrea Camilleri tem um texto leve e divertido, povoou a delegacia (comissariado) com personagens interessantes e introduz o leitor à culinária local. Não resisti e já li também “Água na Boca” e “A paciência da aranha”.
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