quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

“A CONVERSA E OS CONVERSADORES”.

“A literatura, em suas muitas ramificações, nada mais é que a sombra de uma boa conversa; é, porém, uma cópia muito aquém do original em vivacidade, liberdade e efeito. Há sempre duas pessoas em uma conversa, dando e recebendo, comparando suas experiências e tirando as mesmas conclusões. A conversa é fluida, incerta, e busca sempre progredir; já as palavras escritas são fixas, são como ídolos mesmo para quem as escreve, marcam dogmas na madeira e fossilizam erros. Por ultimo e mais importante, enquanto a literatura usa mordaça e lida apenas com uma fração da vida humana, a conversa é livre e fala a verdade. A conversa não poderia, mesmo que quisesse, ter mero valor estético ou ser clássica como a literatura. Um gracejo acontece, um engodo solene dissolve-se no riso, e o discurso segue como que de um corredor em direção à natureza aberta, alegre e sorridente, como crianças saídas da escola. É na conversa que aprendemos sobre nós mesmos. Em suma, a primeira tarefa do homem é falar; é esta sua ocupação mais importante neste mundo; e a conversa, discurso harmonioso entre duas ou mais pessoas, é de longe o mais acessível dos prazeres. Não custa dinheiro e só oferece vantagens; completa nossa educação, funde e nutre nossas amizades, e pode ser desfrutada em qualquer idade e em quase qualquer estado de saúde.” 

“A Conversa e os Conversadores”, de Robert Louis Stevenson (1850-1894). Ele é o autor de de “A Ilha do Tesouro”, um dos clássicos da literatura juvenil.


"Almoço dos remadores", de Renoir. Uma cena em que a conversa flui agradavelmente.


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