sábado, 11 de dezembro de 2021

PENÚLTIMO SÁBADO DE PRIMAVERA

Saí para caminhar e pensava onde ir aproveitar o sol, quando o ônibus apareceu na curva. No ponto algumas pessoas que logo começaram a embarcar. Subi e me sentei no banquinho do contra ‒ de frente para o cobrador e de costas para o motorista.  Ainda sem decidir aonde ir, me contentei em observar as vitrines, as pessoas, o trânsito. O cobrador era do tipo falante ao contrário do motorista. Puxou conversa com uma senhora, mas ela desceu logo; então ele se queixou da falta da decoração de natal na Avenida Paulista, passamos pela Casa das Rosas e ele explicou a um auditório indefinido que ela fora construída por poeta que depois morou lá e mais tarde foi vendida. Pelo menos deu para perceber que ele tinha lido alguma coisa, mas embaralhara tudo ‒ o “poeta” é Ramos de Azevedo, que morreu antes que a obra terminasse e quem morou lá foi a filha dele. Agora passamos por um restaurante que informa que a feijoada custa R$ 31. O cobrador aprova o preço, caso ela seja completa. O motorista não se entusiasma. Estamos em frente a um banco que fez uma decoração simples e muito bonita. Novamente, mereceu aprovação do cobrador, que deve ter uns cinquenta anos. Fica encantado com os canteiros de poinsetias (ou bico-de-papagaio?).   

 Algo me chama atenção. Há um enfeite natalino bem engraçadinho para colocar do lado de fora de janelas: um Papai Noel que escala a parede para entregar os presentes (já que não há chaminés...) aos moradores. O que vejo, entretanto, é algo muito engraçado. Em um prédio: o morador colocou o bom velhinho do lado de dentro da varanda do apartamento, fixado na tela de proteção. O resultado foi o oposto do desejado: parece que Papai Noel está fugindo desesperadamente e tenta escalar a rede para escapar. Família Adams?

 Desço no Largo de Santa Cecília. Outra igreja que nunca visitei. Entro e ela está toda decorada para um casório. Tempos de pandemia. Um senhor vai borrifando todo mundo com álcool. Nada de água benta.

Acho um bonde pintado numa porta (espero que não estraguem o trabalho do artista) na velha Alameda Barão de Limeira (estiquei o pescoço e localize ao longe o prédio da Folha da Manhã. Ah! aquelas pastilhas amarelas!). Rua dos Guaianazes esquina com a Alameda Glete, uma montanha de lixo junto ao muro dos fundos do Palácio dos Campos Elíseos, antiga sede do governo do Estado de São Paulo. Prédio de 1899, muito bonito e tombado. Cena vergonhosa para todos: políticos e cidadãos. Uma montanha de lixo se acumula atraindo pragas; ameaça as galerias pluviais de entupimento e as ruas de inundações. Uma visão forte que não combina com os discursos ambientalistas.  

Hora de voltar para a Aclimação. Hora do almoço.

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