segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

PRESÉPIOS MODERNOS

 

                                                    Adoração dos Magos, Albrecht Dürer (1471-1528).

Desde que me entendo por gente lembro-me que a cena do presépio se repetia tanto em igrejas como na casa das pessoas:  era sempre com a mãe e a criança acomodadas sobre a palha enquanto o pai vela a família na presença dos reis magos, que chegaram guiados pela estrela. Tempos atrás ao passar em frente à igreja da avenida Ana Costa (Santos) notei que faltava a criança no presépio; visitando uma igreja em São Paulo, percebi a ausência do menino e, curiosa, fui à sacristia, onde um funcionário me “explicou”, rispidamente, que Jesus nasceu em 25 de dezembro e, portanto, só nesse dia iria para a manjedoura. Entre aborrecida pelo mau tratamento e pasma com a novidade, me retirei. Teimosa, visitei outras igrejas e constatei a “inovação”. 

Estamos em uma época em que todos querem reescrever a história e as lendas de acordo com suas verdades. Não sei quem teve essa brilhante ideia de impor realidade a uma alegoria – nem estou interessada. Se a criança não nasceu, Maria está grávida e os reis Magos ainda nem se puseram a caminho para encontrar o menino, anunciado como “rei dos judeus”. Se é para levar tudo ao pé da letra, temos que mudar a cena toda, pois o casal estava a caminho da Judeia para o censo e só se abrigou no curral em Belém, quando Maria começou a sentir dores do parto. A criança já havia nascido, quando os reis magos, guiados por uma estrela, chegaram ao presépio. Minha proposta: como ninguém sabe quando Jesus nasceu, nem ano e muito menos dia e mês, que tal montar o presépio só no dia 25? Foi o papa Júlio I (280-352) que estabeleceu 25 de dezembro como nascimento de Cristo e o primeiro registro da celebração do Natal foi no ano 354 (século IV) e foi no Natal de 1223 que São Francisco de Assis teve a ideia de fazer uma representação da natividade numa gruta em Greccio (Itália), baseada nos Evangelhos.



2 comentários:

Nilton Tuna disse...

Excelente observação, Hilda. Essa mania de levar tudo ao pé da letra já está irritando. Só uma observação: acho que não era para o Egito que eles iam para o censo.... A fuga para o Egito foi depois. a conferir... Beijos.

Hilda Araújo disse...

Olá, Nilton, você está certo. Fui consultar a bíblia e Lucas diz que o casal deixou Nazaré para ir à Judeia, mas a criança nasceu em Belém numa manjedoura porque não havia lugar nas hospedarias. Mateus é quem conta sobre a fuga para o Egito após a partida dos reis magos. Muito obrigada pelo alerta. Beijos.