Há 80 anos morria Mário de Andrade – doze dias após o Carnaval, que ele tanto amava. Morreu em casa na Rua Lopes Chaves de um ataque cardíaco aos 51 anos. Viveu pouco, mas deixou uma obra extraordinária. Grande nome da Semana de Arte Moderna, ele foi escritor, poeta, músico, pesquisador, fotógrafo e, acima de tudo, um apaixonado por São Paulo. Foi um estudioso do Brasil. De “Macunaíma” a “Turista Aprendiz”, de “Amar Verbo intransitivo” à “Pauliceia desvairada” – há alguma expressão melhor para definir essa cidade fantástica?
Ele
não morreu – de uma certa forma o desejo que ele pôs em versos se realizou – há
um pedaço dele em vários pontos da cidade: na rua Aurora, no Paissandu, na rua
Lopes Chaves, no Instituto de Estudos Brasileiros/ USP, no Centro Cultural São
Paulo, na Biblioteca Mário de Andrade...
Pouca
gente conhece, entretanto, uma das suas grandes realizações que, sem dúvida,
foi a criação dos Parques Infantis, como diretor do Departamento de Cultura,
idealizado por ele e implantado em 1935 na gestão do prefeito Fábio Prado
(1934-1938).
Os
três primeiros parques foram instalados no Parque D. Pedro, Lapa e Ipiranga e
atendiam a 1.624 crianças. Em 1936 foi agregada aos parques uma educadora
sanitária após a constatação das condições precárias de vida da classe operaria
por meio de pesquisas da prefeitura paulistana. Mário “reativou nas praças e
parques infantis as danças dramáticas e folclóricas, organizou corais nesses
mesmos parques”, de acordo com Oneyda Alvarenga (1911-1984), poeta, musicóloga,
folclorista etnóloga, ex-aluna e grande colaboradora de Mário de Andrade.
Os
Parques Infantis, destinados às crianças de 3 a 12 anos, filhos de famílias
operárias, possibilitavam que vivenciassem a infância brincando em contato com
a natureza, conhecessem as manifestações culturais brasileiras, produzindo
história e cultura. Em sua tese de doutorado, a professora Ana Lúcia Goulart de
Faria, da Faculdade de Educação da Unicamp, explica que “(...) as ideias de
Mário de Andrade a respeito da construção de uma identidade nacional englobavam
todas as faixas etárias e todas as camadas sociais. Através das manifestações
populares, folclóricas, artísticas e estéticas, a infância e o operariado
estavam presentes consumindo e produzindo cultura, abrasileirando, portanto, o
país”.
Infelizmente,
a cultura – música, danças e lendas – brasileira foi engolida por unicórnios,
bruxas, fadas, Pocahontas, leões etc., o cardápio oferecido em escolas em
geral.
2 comentários:
Bela homenagem!
Bom dia, Nilton! Gosto demais de Mário.
Postar um comentário