quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

ELA É CARIOCA

 

    Hoje fui atormentar os funcionários dos Correios da agência centenária da Praça Pedro Lessa. Antes de sair de casa eu havia pesquisado sobre o que queria no site. Agência quase vazia. Peguei a senha e mal sentei o painel mostrou meu número. Fui ao balcão:

    Boa tarde! O que me traz aqui é um serviço bem antigo. Nem sei se ainda existe.

    A moça ficou curiosa e riu quando disse que precisava passar um telegrama.

    “Sim, passamos.” E foi me explicando que bastava eu preencher o formulário e escrever a mensagem. Enquanto ela procurava o formulário, percebi um ambiente descontraído no guichê ao lado e olhei. Uma jovem muito bonita conversava com a funcionária e, ao meu olhar, me incluiu na conversa.

    “Desculpe-me, mas não ouvi o que vocês falavam.”

    E ela resume numa linguagem cheia de expressões jovens que não guardei, mas traduzo: “Quem não iria a um lugar para fazer um penteado lindo e uma maquiagem super bonita de graça e ainda tirar uma foto para o Instagram? A senhora não iria?”

    “Ih! Não iria – não uso pintura e meu cabelo desaba duas horas depois do penteado...” A moça ri gostoso. “Se fosse no Rio, o lugar estaria lotado de gente.” Aí eu elogiei a mulher carioca, elegante e vaidosa e acrescentei, não por bajulação, mas por causa do sotaque inconfundível: “E você é carioca, não é?  Ela riu com vontade. Claro que era!

     Chegam os formulários, vou preencher (em letra de forma! Oh! Céus!) e retorno ao balcão. O sistema está lento. A carioca continua por lá distribuindo simpatia. Agora em outro guichê. Soube que ela abrira empresa em São Paulo em sociedade (acho que ela é representante de produtos de beleza), mas agora estava por conta própria. Ela foi embora, mas sua juventude, personalidade descontraída e o entusiasmo continuam agindo sobre o grupo no balcão. Aproveito para tentar resolver um problema com o meu celular (a operadora é Correios). O funcionário chama a supervisora e vai explicando: “Dona Hilda (cruzes!) precisa de ajuda com o chip.”

   Não lembro de ter sido atendida numa repartição pública com tantos funcionários sorridentes. E ainda dizem que não há diferença entre Rio e São Paulo... Tom, Vinicius e Lúcio que o digam.


"Ela é carioca" também é o título de um livro de Ruy Castro.

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