sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

CARNAVAL E CHUVA

 

GUILHERME DE ALMEIDA

“Carnaval em São Paulo é sinônimo de chuva” – escrevia o poeta Guilherme de Almeida (1890-1969) na sua crônica no DIÁRIO NACIONAL de 18 de fevereiro de 1928, sábado de Carnaval. “E mascarado é sinônimo de capa de borracha, galochas, guarda-chuva, escafandro, etc.” É da crônica dele de domingo que quero exaltar.

“Estes três dias de alegria me fazem triste, fazem lembrar o colégio. O colégio interno.

Nos colégios internos há sempre uma campainha onipotente e eterna, que como Deus, cria e dirige a vida. A campainha toca pela manhã: é hora da gente não ter mais sono. Toca para a oração: é hora da gente ter fé. Toca para o estudo: é hora da gente ficar inteligente. Toca para o almoço: é hora da gente ter fome... E assim por diante. E a gente, quer queira quer não, vai na onda: deixa de ter sono, fica piedoso, inteligente, faminto.

O carnaval é assim. Tocou a campainha do recreio: é hora da gente ficar alegre e brincar. É do regulamento. É preciso. São ordens. Senão... Senão vai de castigo! [...]”

O poeta, coberto de razão. Eu não estudei em colégio interno, mas nunca entendi essa coisa de ter três dias para dançar e cantar freneticamente só porque está no calendário ...

 ILUSTRAÇÃO: Arlequim (1915), de Pablo Picasso.


Nenhum comentário: