O Carnaval está chegando Compilei lembranças da festança
nacional que pessoas importantes da nossa cultura ou para nossa cultura
registraram.
Jorge
Americano (1891-1969), professor da Faculdade de Direito da USP e quarto reitor
da Universidade de São Paulo, foi promotor público e deputado federal na
Assembleia Nacional Constituinte de 1939. Ao se aposentar, escreveu três livros
sobre usos e costumes da cidade a partir de sua infância em São Paulo: São
Paulo Naquele Tempo – 1895 a 1915; São Paulo Nesse Tempo –
1915 a 1935 e São Paulo Neste Tempo – 1935 a 1962, reeditada
com novo título: São Paulo Atual – 1935 -1962.
JORGE AMERICANO
“Ali por 1904 os préstitos de carnaval chegavam
muito tarde à cidade (Ruas 15 de novembro, Direita e São Bento). Começou então
o habito, de havendo já muitos automóveis (uns 100 mais ou menos) fazer-se o
‘corso’ n o centro.
“Ali por 1904 os préstitos de carnaval chegavam
muito tarde à cidade (Ruas 15 de novembro, Direita e São Bento). Começou então
o habito, de havendo já muitos automóveis (uns 100 mais ou menos) fazer-se o
‘corso’ n o centro.
As serpentinas foram desprezadas, e os rapazes e
moças usavam lança-perfumes. Dado o novo gênero, ninguém mais queria ficar nas
janelas dos sobrados, e vinham para as portas embaixo. Várias lojas abriam suas
portas, faziam uma cancela provisória até um metro de altura, juntavam
cadeiras, e alugavam às famílias, essa espécie de camarotes. O corso seguia
devagar pelo centro da rua, os automóveis cheios de famílias. Os rapazes nas
calçadas, acompanhavam a pé os carros, esguichando lança-perfumes nas moças.
Quando os carros aumentavam a velocidade, eles seguiam pelas calçadas e
esguichavam lança-perfumes nas moças das portas das casas. Às vezes paravam e
ficavam conversando, mas sempre esguichando lança-perfumes.”
A
polícia fiscalizava os festejos. O trânsito já era um problema, pois quando “o
tráfego entulhava, desciam grupos de uns carros e iam atacar outros com
confetes atirados na boca dos que rissem ou falassem”. Americano conta que
Cardoso de Almeida, chefe de polícia na época, passeava a pé, usando cartola e
fraque, acompanhado de um ajudante para fiscalizar o trânsito.
Em 1910 o corso foi transferido para a Avenida Paulista e, pasmem, começava às 16 horas e terminava às 21 horas! O professor lembra que os carros eram enfeitados com flores e a serpentina tinha voltado à moda.
“Os rapazes
atacantes subiam quase sempre nos estribos externos e assim iam conversando e
rindo e jogando confetes e lança-perfumes. As moças ajustavam entre si trocas
de lugares, para ficarem mais perto dos preferidos, uns deles no estribo
esquerdo, outros do lado direito. As mães, afundadas nos bancos, iam abafadas
por aqueles biombos de gente.
Além da munição de combate que levavam (serpentina, confete, lança-perfume), conduziam cestas com munição de boca: sanduíches, bolos, bombons, água mineral, copinhos inquebráveis.
De repente chovia, paravam todos os carros, levantavam-se as capotas, comprimia-se em baixo o monte de gente.”
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