sábado, 31 de dezembro de 2016

31 DE DEZEMBRO

Um dia dedicado às superstições. Para quem não sabe o significado, o dicionário Houaiss explica que superstição é “a crença ou noção sem base na razão ou no conhecimento, que leva a criar falsas obrigações, a temer coisas inócuas, a depositar confiança em coisas absurdas, sem nenhuma relação racional entre os fatos as supostas causas a eles associadas; crendice, misticismo”. É ainda a “crença em presságios e sinais, originada por acontecimentos ou coincidências fortuitas, sem qualquer relação comprovável com os fatos dos quais se acredita sejam prenúncio”.
          Se você não se enquadra, é desagradável, mal visto já que poderá trazer “má sorte” aos que se sujeitam às baboseiras da época. Eu não sou supersticiosa. Minha vida se pauta pela razão. E é bastante divertida, para informação de quem já pode estar julgando que é muito aborrecida.
Para começo de conversa odeio roupa branca e detesto lentilhas. Para ganhar dinheiro só vejo um meio: trabalho.
Outra moda que começou na segunda década do século passado é a de ir para a praia à meia-noite molhar os pés na sétima onda, tomar banho de mar ou simplesmente molhar os pés. Se funcionasse, moradores do litoral teriam grande sucesso na vida e os que têm dinheiro para viajar para as praias estariam muito melhores de vida.
Ver fogos de artifício que se queimam à meia-noite é outra superstição milenar, pois a ideia dos chineses era espantar os maus espíritos com muito barulho. E olha que começaram a fazer barulho muito antes da invenção da pólvora, usando bambus que, lançados no fogo, explodem. Assisti a dois ou três espetáculos pirotécnicos à beira-mar e, sinceramente, preferi estar em casa com amigos, lendo ou dormindo.
Esta superstição tem um alto custo social e ecológico: as municipalidades pagam pelo espetáculo e a sociedade arca também com os custos da limpeza pública extra e com o prejuízo ecológico que as toneladas de lixo deixadas por irresponsáveis provocam no meio ambiente. A desculpa por jogar o lixo na praia, geralmente, é a de que gari está lá para limpar, o que demonstra também pouca consideração com o trabalhador e nenhuma com os micro-organismos que vivem na areia...
Para mim ano novo é apenas um detalhe na hora de preencher os cheques a partir de amanhã: 1º de janeiro de 2017.
Como não sou contra diversão, uma boa festa ou bom descanso com os votos de que as metas propostas por cada um sejam alcançadas. Independentemente do ano...  





sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

OS CHALÉS SANTISTAS

Os chalés fazem parte da paisagem santista, mas a crescente corrida imobiliária que assola a cidade desde o século passado foi responsável pelo desaparecimento da maioria dessas construções populares que apareceram no final do século XIX no Brasil. O chalé (do francês chalet) é uma casa rústica, pequena de madeira, com telhado pouco inclinado cujo beiral protege as paredes. Não têm porão e o primeiro piso é suspenso para evitar a umidade do solo. Esta construção lembra os chalés suíços, onde são usados para fins de semana. Nos bairros do Jabaquara e do Marapé, por exemplo, ainda há vários em bom estado de conservação; outros foram descaracterizados por reformas e muitos estão abandonados.
MARAPÉ

MARAPÉ

JABAQUARA
JABAQUARA




quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

CENAS DE RUA



Meus amigos não perdoam o fato de que um dia pedi desculpa para um manequim na loja da SEARS da Rua Amador Bueno em Santos. Só descobri que era um boneco, quando o olhei aborrecida por ele não se manifestar. Desde então tenho muito cuidado em lojas para evitar novo vexame, mas parece que eles me perseguem. Outro dia estes me esperavam na saída de uma galeria no Gonzaga, em Santos.



CENA DE RUA












Ontem, no passeio de fim de tarde, encontrei os dois na esquina da Avenida Paulista com a Rua Leôncio de Carvalho num momento fictício de ternura.O prédio dessa esquina está em obras há algum tempo e os cartazes afixados no tapume são bastante criativos.


quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

E por falar em finanças...

SAMBA DA BOA VONTADE
Noel Rosa (1910-1937) e Braguinha
Viver alegre hoje é preciso
Conserva sempre o teu sorriso
Mesmo que a vida esteja feia
E que vivas na pinimba
Passando a pirão de areia
Gastei o teu dinheiro
Mas não tive compaixão
Porque tenho a certeza
Que ele volta à tua mão
Se ele acaso não voltar
Eu te pago com sorriso
E o recibo hás de passar
(Nesta questão solução sei dar)
Neste Brasil tão grande
Não se deve ser mesquinho
Quem ganha na avareza
Sempre perde no carinho
Não admito ninharia
Pois qualquer economia
Sempre acaba em porcaria
(Minha barriga não está vazia)

Comparo o meu Brasil
A uma criança perdulária
Que anda sem vintém
Mas tem a mãe que é milionária
E que jurou batendo o pé
Que iremos à Europa
Num aterro de café
(Nisto eu sempre tive fé).

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

TERRA DOS HOMENS HONESTOS

O argentino Edgardo Otero resolveu ajudar os simples mortais a elucidar o grande enigma que é a origem do nome dos países do mundo. Otero teve o cuidado de dividir os países por continentes; incluir informação etimológica das palavras e ainda presenteia o leitor com uma breve história de cada país e sua etnografia. O bom da história é que o autor não se limitou aos países, mas avançou pelo mundo das ilhas e arquipélagos importantes que estão sob domínio ou proteção de algum Estado. Ao todo são mais de quatrocentos verbetes.
À medida que se avança na leitura mais forte se mostra a influência portuguesa pelo mundo. Onde os seus navegadores não foram a partir do século XV? Na esteira deles, os espanhóis, ingleses e holandeses também se aventuraram em suas embarcações frágeis por oceanos desconhecidos num misto de aventura e ânsia de poder e glória, claro. O trágico é o rastro de sangue e devastação que todos deixaram nessa rota de “descobrimentos”.
 Otero teve o cuidado de informar o sistema de governo atual dos países e colocar os topônimos de cada um. “A Origem dos Nomes dos Países” (São Paulo: Panda Books, 2006) é desses livros que a gente vai lendo aos poucos e da forma que quiser – do começo para o fim, de trás para frente, do meio... É sempre muito interessante.
Quem conhece a República do Kiribati (Quiribati) – cujo nome significa “perfume do mar”? Trata-se de um país insular no Pacífico Central, com 33 atóis de corais e ilhas ao longo do equador. A capital é Tarawa. Seus habitantes são os kiribatianos (quiribatianos).
A origem do nome de Barbados, no Caribe, é o ficus barbata, que havia em abundância na ilha, quando os espanhóis chegaram por lá no século XVI e a denominaram de Isla de las Higueras Barbadas. Com o tempo o nome acabou reduzido para Barbados. O país faz parte da British Commonwealth e a capital é Bridgetown. Quem nasce lá é barbadense ou barbadiano. Assim, o Brasil não é o único país com nome de árvore como alguém me disse recentemente.
Mas Burquina Faso, na África, onde vivem os burquinenses, mereceu todo meu interesse, afinal, seu nome significa “terra dos homens honestos”. Quem sabe um dia mudo para lá. Enfim, o livro de Edgardo Otero é bastante útil para jornalistas que frequentemente se veem às voltas com notícias de lugares pouco conhecidos pelo mundo afora. 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

A ARTE DE PAGAR SUAS DÍVIDAS

E sem desembolsar um tostão! Ah! Quem não quer essa receita? Foi por isso que o barão de Empésé resolveu escrever a biografia de seu tio, que viveu “de fato como um homem que tem 50 mil libras de renda, se bem que nunca tivesse possuído de direito nem um tostão”. Aproveitou para divulgar o sistema que o parente criara e testara ao longo de sua existência. O último pedido do tio aos 222 credores reunidos a seu pedido para explicar o não pagamento das dívidas foi de que não deixassem de comprar o livro do sobrinho, pois a obra lhes serviria de guia para futuros negócios. (Quem avisa, amigo é.)
Claro que nada disso é verdade. “A arte de pagar suas dívidas e satisfazer seus credores sem desembolsar um tostão” é uma obra satírica escrita, presumivelmente, por Émile Marco de Saint-Hilaire (1796-1887), e editada por Honoré Balzac, que pode ter sido mesmo autor ou coautor do livro.
O sistema criado pelo tio espertalhão não passa de um manual para a prática de estelionato a partir da conquista da confiança do credor. Dois exemplos. Ele aconselha que se compre sempre de fornecedores ricos porque eles têm tudo de excelente qualidade e porque, se eles têm demais e você não tem o bastante, “é um favor que se lhes presta, e ao senhor também, o de procurar restabelecer o equilíbrio e ninguém tem mais interesse nisso do que o senhor”. O cínico tio diz que o prejuízo será coberto pela clientela pagante que virá atraída pelo que viu o tratante consumir.
O espertalhão recomenda até mesmo a escolha do bairro para morar em Paris (século XIX), levando em conta a visita dos credores – quanto mais longe deles, melhor. Na escolha, devem ser levados em conta os porteiros que, segundo ele, exercem um grande poder sobre o destino dos devedores (dizendo que estamos em casa quando não estamos ou que não estamos, quando estamos).
O tio também afirma que é melhor dever 100 mil francos a uma só pessoa do que dever mil francos a mil pessoas. E para terminar, um dos aforismos do cavalheiro: “Fazer dívidas com pessoas que não têm o bastante é aumentar a desordem, é multiplicar os infortúnios; dever para pessoas que têm demais é, ao contrário, compensar as misérias e tender para o restabelecimento do equilíbrio social”.

Um livro divertido e crítico. Se você está cheio de más intenções, lembre-se que o sistema foi “criado” no século XIX e a sociedade, a economia e as leis mudaram muito desde então; portanto, o ideal é não usar o manual para se dar bem. 


“A arte de pagar suas dívidas e satisfazer seus credores sem desembolsar um tostão”, de Émile Marco de Saint-Hilaire. São Paulo, Editora UNESP, 2011. R$ 36.00.

domingo, 25 de dezembro de 2016

PROGRAMA DE NATAL

Charles Dickens (1812-1870) é o autor da mais famosa história de Natal. Escrita há 173 anos “Um Conto de Natal” (A Christmas Carol) continua encantando adultos e crianças pelo mundo afora. Quem não conhece esta obra pode encontrar uma edição de bolso da L&PM por R$ 16,90. Vale a pena. O velho Scrooge, conhecido na cidade por sua sovinice, na véspera do Natal vive uma experiência que mudará sua vida. A história foi adaptada para o cinema várias vezes e o personagem inspirou a criação de Tio Patinhas (Disney).
Uma das melhores versões de “Um Conto de Natal” (1938) foi dirigida por Edwin L. Marin, com Reginald Owen, Gene Lockhart e Kathleen Lockhart. Há uma adaptação musical bastante elogiada de 1970 com o título diferente (“Adorável Avarento”) e dirigida por Ronald Neame, com Albert Finney e Alec Guinness.
No cinema, a história de Dickens só perde em popularidade para “A Felicidade não de compra”, filme americano dirigido por Frank Capra, em 1946. O enredo conta com um milionário malvado, um homem bom à beira do suicídio e um anjo para ajudar a resolver uma situação desesperada. Na véspera de Natal, claro. O elenco tem James Stewart e Donna Reed.
Outro clássico do cinema sobre o tema é estrelado por Bing Crosby, Rosemary Clooney e Danny Kaye: “Natal Branco” (1954), dirigido por Michael Curtis. As canções são de Irving Berlin. Após a II Guerra, dois ex-combatentes descobrem que o ex-comandante deles passa por dificuldades e vão ajudá-lo realizando um show.
Para os amantes de Humphrey Bogart, uma oportunidade para ver (ou rever) o ator em uma comédia: “Veneno de Cobra” (1955), dirigido por Michael Curtiz. Três criminosos fugitivos da prisão na Ilha do Diabo vão trabalhar em uma loja para roubá-la e fugir de navio no dia seguinte. Entretanto, o espírito de Natal muda os planos dos condenados.

(Charles Dickens é inglês e escreveu livros de ótima qualidade como Liver Twist, David Copperfield e Grandes Esperanças entre outras.)
Só falta a pipoca para um domingo perfeito. 
  

sábado, 24 de dezembro de 2016

SOBRE GALINHAS E PERUS

Aquela velha pergunta –“o que veio primeiro o ovo ou a galinha?” – poderia variar um pouco. Afinal, qual a origem da galinha? A ave é proveniente da Ásia, provavelmente, Índia, onde as primeiras criações destinavam-se às brigas de galos. Ela já era domesticada na Grécia no século VII a. C. e os romanos foram os primeiros a desenvolver uma espécie diferenciada da ave que conquistou o mundo. Foi o prato preferido de reis – como D. João VI de Portugal; muito antes dele, porém, Dom Sebastião (1554-1578) proibiu por decreto (“Pragmática contra o Luxo”) o manjar branco, doce famoso feito à base de peito de frango.
A galinha veio a bordo das caravelas para as Américas e proliferou rapidamente. Entretanto, foi deste lado do Planeta que a ave encontrou um grande rival – o peru. Ele foi encontrado pelos europeus na América do Norte. No sudoeste dos Estados Unidos há indícios de que tenham sido domesticados há mais de dois mil anos, mas eles seriam provenientes de Yucatán (México). Em 1621 o peru fez parte da refeição preparada pelos peregrinos em agradecimento pela boa colheita. Assim, o peru acabou se tornando popular na cultura norte-americana, atravessou o Atlântico e conquistou a Europa.
Mas essa ave feiosa tem um problema: a denominação. Em Portugal ganhou o nome de peru porque as pessoas acreditavam que ele era importado daquele país. Em inglês ele se tornou turkey porque achavam que vinha da Turquia (Turkey). Há outra versão: o nome era atribuído erroneamente à outra ave e depois da correção apareceu o peru que ficou com o nome vacante, por assim dizer, e mais uma vez errado. E o que o Peru – país andino – tem a ver com a história? Nada. Embora haja controvérsias sobre a origem da denominação do país, ele seria derivado de Berú, Birú ou Pelú que eram os nomes de um cacique aborígene, uma comarca e um rio, respectivamente.
Os Estados Unidos são o maior produtor de carne de frango do mundo e no ano passado o Brasil alcançou o segundo posto com 13.146 milhões de toneladas. A China ficou em terceiro lugar. (Globo Rural) O Brasil também se destaca entre os principais produtores de carne de peru do mundo.  
Natal é dia de galinha ou peru... Mas segundo o dito popular, o peru morre na véspera. Assim como o porco, que não entrou nesta história, mas estará em muitas mesas por aí. 



sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

VIZINHOS MUITO ESPECIAIS

Hoje é Dia do Vizinho. Eu tenho ótimos vizinhos. Uns poucos, ranzinzas. Escrevi um pouco sobre eles, mas corro risco de ser apontada como a fofoqueira do prédio; entretanto sou jornalista, fazer o quê? Assim, preferi marcar a data citando três clássicos (TV e cinema) sobre relações com vizinhos.

Ethel (Vivan Vance) e Fred (William Frawley) eram os vizinhos de Lucy e
Lucy e Rick Ricardo na série I Love Lucy (1951-1957).


Marilyn Monroe foi a vizinha do andar de cima em “O pecado mora ao lado”,
 de Billy Wilder (1955).
James Stewart fez o vizinho voyeude “Janela Indiscreta”, de Hitchcock (1955)


quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

SOLSTÍCIO DE VERÃO

Com Fernando Pessoa (1888-1935) e Paul Cézanne (1839-1906).


Aqui na orla da praia...*

Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar,
Sem nada já que me atraia, nem nada que desejar,
Farei um sonho, terei meu dia, fecharei a vida,
E nunca terei agonia, pois dormirei de seguida.

A vida é como uma sombra que passa por sobre um rio
Ou como um passo na alfombra de um quarto que jaz vazio;
O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é;
A glória concede e nega; não tem verdades a fé.

Por isso na orla morena da praia calada e só,
Tenho a alma feita pequena, livre de mágoa e de dó;
Sonho sem quase já ser, perco sem nunca ter tido,
E comecei a morrer muito antes de ter vivido.

Dêem-me, onde aqui jazo, só uma brisa que passe,
Não quero nada do acaso, senão a brisa na face;
Dêem-me um vago amor de quanto nunca terei,
Não quero gozo nem dor, não quero vida nem lei.

Só, no silêncio cercado pelo som brusco do mar,
Quero dormir sossegado, sem nada que desejar,
Quero dormir na distância de um ser que nunca foi seu,
Tocado do ar sem fragrância da brisa de qualquer céu.


Fernando Pessoa

Cancioneiro.
Fonte: Fernando Pessoa – Obra Poética. Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1981. 
* Mantive a ortografia da publicação de 1981.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

UM QUADRO PROIBIDO
O pintor norte-americano Paul Cadmus (1904-1999) é um dos criadores do realismo fantástico e sua obra caracteriza-se pelo teor homoerótico. Ele é o autor de The fleet’s in!, uma pintura (óleo sobre tela) de 1934, que retrata um grupo de marinheiros de licença, se divertindo provavelmente em Riverside Park. Se hoje parece apenas divertido, na época foi um escândalo. Tudo bastante descontraído. As mulheres usam roupas reveladoras e os traseiros têm um destaque especial, sem conta um toque homossexual que enraiveceu muita gente. Como, por exemplo, o Almirante Hugh Rodman (1859-1940), que não poupou críticas à obra e a denunciou aos superiores.
O assistente do Secretário da Marinha, Henry L. Roosevelt, achou melhor recolher a obra da exposição na Galeria de Arte Corcoran de Washington, que fazia parte do programa de arte do governo americano (New Deal). Henry Roosevelt, entretanto, não viu nenhum problema em levar o quadro para casa e exibir para os amigos. A censura (como sempre) funcionou de forma inversa. O quadro ganhou grande notoriedade. “Para cada indivíduo que talvez tivesse visto o original na Corcoran, ao menos mil o viram em reproduções em preto e branco” – afirmou o historiador de arte Richard Meyer.

Em 1937, pouco antes de morrer, Henry L. Roosevelt transferiu a obra para um famoso clube masculino de Washington, o Alibi Club, que o manteve no acervo por 44 anos até que a Marinha reivindicou a posse do quadro, iniciando um processo legal. 
O quadro encontra-se em exposição na Galeria de Arte da Marinha desde 1994

domingo, 18 de dezembro de 2016

VAMOS LER

“Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável, não crê em lemas que alguns fazem passar por ideias” – Mario Vargas Llosa (1936).


Uma oportunidade para informar que meu livro está a venda nas livrarias
Nobel do Parque Balneário em Santos (Avenida Ana Costa, 549 - Gonzaga ) e 
Capítulo Primeiro em Santos (Avenida Floriano Peixoto, 4 - sala 4 Gonzaga)
e pelo site


sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

NASCE O PARQUE

O movimento ambientalista dava os primeiros passos quando o governo paulista criou o Parque Estadual de Ilhabela (Decreto nº 9.414, 20-01-1977), que abrange o arquipélago de São Sebastião, formado por lajes e 12 ilhas entre as quais se destacam quatro: São Sebastião (sede do município de Ilhabela), Vitória, Búzios e dos Pescadores. Esta unidade de conservação administrada pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente, através da Fundação Florestal, tem 27.025 hectares.
Na Ilha de São Sebastião, pode-se observar a beleza e exuberância da Mata Atlântica e imaginar o que teria sido a região há 500 anos, quando os europeus chegaram por aqui. Uma floresta densa, com árvores de 20 a 30 metros de altura, abrigando bromélias, caraguatás e orquídeas; montanhas com picos de até 1.300 m revestidas de mata; rios, riachos e córregos que formam cerca de 300 cachoeiras e alimentam os manguezais.
Ali, a fauna rica e diversificada dá mais vida ao colorido da natureza onde vivem caxinguelê, macaco-prego e jaguatirica (estes dois ameaçados de extinção); tucano, maritaca, tiê-sangue, macuco, gavião-pega-macaco, apuim-das-costas-amarelas, jacu e jacutinga. Há ainda o cururuá, tipo de rato peludo que só se encontra na restinga de Ilhabela. O arquipélago também é importante para as espécies migratórias de pequena, média e longa distância que fazem pouso na região.
Depois de um longo período de esquecimento – até porque a ilha está situada a 18 km da costa e o único acesso a ela é por balsas –, a situação mudou em meados do século passado, com a construção da rodovia dos Tamoios (SP-99), ligando a Capital e o Vale do Paraíba ao Litoral Norte. Na década de 1970, com a abertura da Rodovia Rio-Santos (BR-101) e a criação do Parque Estadual de Ilhabela, o setor turístico cresceu mais e o interesse pela ilha aumentou.
Em 1994, o governo federal autorizou a realização de cruzeiros marítimos na costa brasileira e Ilhabela estava entre as escalas oferecidas. O município se organizou e investiu em turismo receptivo. Atualmente, o município tem outro titulo importante: capital da vela. Há pelo menos duas grandes competições anuais que terminam lá.
Ilhabela preserva a riqueza da cultura caiçara que se manifesta em sua arquitetura, no artesanato, nas embarcações e em festas, como a Congada de São Sebastião e outras manifestações folclóricas animadas pela a "cirandinha" e "quebra - chiquinha". Afinal, ali vivem cerca de 20 comunidades tradicionais de pescadores e artesãos.
O município tem 347 km² – 85% dos quais fazem parte do Parque – e 32.782 habitantes (IBGE/2016). Depois de conhecer a cidade, inclusive o acervo arqueológico do arquipélago em exposição no Instituto Histórico, o visitante deve ir ao Parque para percorrer a trilha da Água Branca, com 2.145m de extensão de dificuldade média. Atrativos não faltam: flora da Mata Atlântica (pau-jacaré, guapuruvu, manacá-da-serra e quaresmeira) e fauna (aves como tangará, o trinca-ferro, a araponga e o pica-pau). Cachoeiras e piscinas naturais são outro encanto do parque. Basta escolher entre os Poços da Pedra, da Escada e do Jabuti.
Quando cansar, basta escolher uma das 40 praias para tomar sol e banho de mar. Sem esquecer que o bom turista leva apenas fotos e lembranças, deixando para traz somente as pegadas...


SERVIÇOS: O Centro de Visitantes do Parque Estadual de Ilhabela funciona de segunda à sexta-feira das 8 às 17 horas. Informações sobre os horários em fins de semana e feriados podem ser obtidas pelo telefone 12-3896-2585/1646. (Facilitaria muito para turistas se definissem esses horários e divulgassem, evitando desgaste de telefonemas, esperas etc.). O endereço é Praça Coronel Julião de Moura Negrão, n°115. O acesso à Ilhabela é por balsas que saem de São Sebastião. A passagem de automóveis e camionetes custa R$ 17,80 (dias úteis) e R$ 26,70 (sábados, domingos e feriados); motos e similares, R$ 8,90 (dias úteis) e R$ 13,40 (sábados, domingos e feriados). A duração média da travessia é de 15 minutos. A DERSA dispõe de serviço com hora marcada a preços diferenciados.


quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

BELA ILHABELA

Muito antes da chegada dos portugueses ao Brasil, o homem já havia se instalado no arquipélago existente em frente à atual praia de São Sebastião, como revelam os 14 sítios do Projeto Arqueológico de Ilhabela. Os sambaquis remontam há 2000 anos a.C. Os índios que viviam por ali usavam a ilha, que chamavam de Maembipe, para trocar escravos (inimigo vencido em guerras tribais) por mercadorias. O nome de São Sebastião foi dado por Américo Vespúcio, que participou da primeira expedição de reconhecimento enviada a estas terras por Portugal sob o comando de Gonçalo Coelho. Como na época o nome dos acidentes geográficos era escolhido de acordo com o santo do dia, a esquadra passou por lá em 20 de janeiro de 1502.
A região só veio atrair colonos em 1608, quando Diogo de Unhate e João de Abreu vieram da Vila do Porto de Santos, iniciando o plantio de cana e a produção de açúcar. Havia também a cultura em menor escala de fumo da terra, anil, arroz, feijão e mandioca. Francisco de Escobar Ortiz construiu os dois primeiros engenhos de açúcar da Ilha de São Sebastião, mas sua principal atividade era o comércio de escravos, agora trazidos de Angola em um navio de sua propriedade.
Em 16 de março de 1636, o povoado emancipou-se da Vila de Santos, passando a denominar-se Vila da Ilha de São Sebastião, mas estava integrada ao território da Vila de São Sebastião, assim permanecendo até o início do século XIX.  A Ilha fez parte das rotas de piratas e corsários que flagelaram a costa brasileira nos séculos XVI e XVII. O resultado foi a construção de um sistema para defesa das duas vilas – a continental e a insular – constituído por sete fortificações erguidas nas duas margens do Canal do Toque-Toque (atual Canal de São Sebastião). O principal foi o forte do Rabo Azedo, ao norte da ilha, próximo da fortificação da Ponta das Canas cujas ruínas ainda existem.
Com o crescimento da população, o povoado foi elevado à condição de Capela de Nossa Senhora D´Ajuda e Bom Sucesso (c.1785). Mas no final do século XVIII, com o ciclo do açúcar em crise, a liderança pleiteava a emancipação do território abrangido pela ilha. O movimento sensibilizou o capitão-general da Capitania de São Paulo, Antônio José da Franca e Horta que, em 3 de setembro de 1805, elevou a capela à vila, com a denominação de Vila Bela da Princesa. O nome escolhido pelo próprio Franca e Horta foi uma homenagem à Princesa da Beira, Dona Maria Teresa Francisca de Assis Antonia Carlota Joana Josefa Xavier de Paula Micaela Rafaela Isabel Gonzaga de Bragança, filha mais velha do príncipe D. João (futuro rei de Portugal) e D. Carlota Joaquina. Vila Bela da Princesa foi instalada em 23 de janeiro de 1806.
Com a proibição internacional do comércio de escravos, a costa da ilha voltada para alto mar, especialmente a Baia dos Castelhanos, era usada clandestinamente para o desembarque de escravos para a lavoura cafeeira. Foi a cafeicultura que proporcionou riqueza para a região, com danos ambientais graves: devastação da Mata Atlântica e desaparecimento de espécies nativas da fauna.
A era do café na região terminou com a abolição da escravidão. A Vila Bela da Princesa e as povoações do Litoral Norte entraram em decadência; entretanto, a crise econômica possibilitou a reconstituição parcial da floresta.
No século XX, a Ilha de São Sebastião voltou a produzir cachaça, fabricada em 13 engenhos movidos por rodas d’água. A pinga era transportada para Santos em pipas por meio de uma flotilha de canoas de voga, junto com os excedentes agrícolas produzidos pelas roças de subsistência. Em 1934, houve uma reestruturação da divisão administrativa do Estado de São Paulo que extinguiu 18 municípios que não tinham arrecadação suficiente para se manterem. Vila Bela da Princesa tornou-se distrito do município de São Sebastião. A população, entretanto, não aceitou o rebaixamento e sete meses depois o governo teve que voltar atrás.
Mas os problemas não terminaram aí.  Em janeiro de 1939, Vila Bela da Princesa virou Vila Bela. Então, em 1940, Getulio Vargas, como todo ditador, resolveu mudar o nome da cidade para Formosa, gerando um movimento popular que levou o governo a voltar atrás (demorou quase cinco anos) e desta vez todos concordaram que seria Ilhabela.

 
Ilhabela (SP): foto Secretaria de Estado do Meio Ambiente.
NATAL E ARTE

A tela “A Véspera do Dia de São Nicolau” é do holandês Jan Steen (1626–1679) e se encontra no Rijksmuseum (Amsterdã). O que chama atenção na cena familiar é o menino que se comportou mal e não recebeu presente de Papai Noel, em contraste com a garota que se regozija com os brinquedos que premiaram sua boa conduta. 



terça-feira, 13 de dezembro de 2016

 DIA DO MARINHEIRO

O lado bom de não ser historiador é que se pode brincar com fatos e situações pouco reveladores de um acontecimento histórico. Lembro-me de um anúncio da VARIG, nos anos 60, sobre a chegada dos portugueses ao Brasil em que mostrava um solitário marinheiro na gávea, avisando a tripulação de que havia “Terra à vista!”.
 Na carta ao Rei de Portugal, Caminha escreve “Neste mesmo dia à hora de vésperas, avistamos terra.”  Assim, graças a esse plural oficial, nunca soubemos nem saberemos quem avistou primeiro as terras a que o capitão foi logo nomeando de Terra de Santa Cruz. Quem se importou algum dia com esse marinheiro desconhecido?  Este dia do marinheiro é uma boa oportunidade para se lembrar dele e de todos os outros que servem na Marinha Mercante ou de Guerra do Brasil.
Sem esquecer três marinheiros brasileiros: Marcílio Dias (1838? -1865), Antonio Cândido Felisberto (1880-1969) e Artur Bispo do Rosário (1909?-1989). Três histórias bem diferentes.
Gaúcho de Rio Grande, negro, Marcílio Dias entrou na Marinha por força de uma ordem  do juiz municipal para o capitão do porto em 30 de julho de 1855. Prestou juramento à Bandeira Nacional no quartel-general da Marinha Imperial, na Ilha de Villegaignon, no Rio de Janeiro para onde fora levado e como grumete foi embarcou na fragata Constituição. Sempre teve comportamento exemplar e uma década depois foi promovido a marinheiro de primeira classe (cabo). Marcílio Dias participou de duas batalhas decisivas da Guerra do Paraguai e em ambas demonstrou a coragem que o notabilizaria como herói: a de Paissandu (1864) e a de Riachuelo (1855). Na batalha de Riachuelo, a bordo da fragata Parnayba, ele morreu enfrentando os inimigos à espada. No dia seguinte, o corpo “foi sepultado com rigorosa formalidade no rio Paraná”, segundo o livro de bordo da embarcação.
Antonio Cândido Felisberto, gaúcho de Encruzilhada, planejou e protagonizou a Revolta da Chibata com 2.400 marinheiros na baia da Guanabara entre os dias 22 e 27 de novembro de 1910. Os castigos físicos eram norma na Marinha do Brasil* e foram abolidos com a República; entretanto, um  decreto de 1890 (não publicado) restabeleceu as punições físicas. Faltas graves eram castigadas com 25 chibatadas, no mínimo.  Ao contrário de Marcílio Dias, ele se alistou na Marinha e também se destacou no serviço. No final do governo de Nilo Peçanha, enquanto João Cândido reivindicava o fim das punições e a melhoria das condições de trabalho dos marujos junto ao governo republicano, já se organizava um movimento conspiratório.
          A punição de um marinheiro do encouraçado Minas Gerais com 250 chibatadas foi a gota d’água para a explosão da revolta. A rebelião estendeu-se aos seis navios da esquadra. João Cândido assumiu o comando do Minas Gerais e de toda a esquadra e por quatro dias o Rio de Janeiro ficou sob a mira dos canhões. No ultimato dirigido ao recém-empossado presidente Hermes da Fonseca os revoltosos declararam: "Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podemos mais suportar a escravidão na Marinha brasileira". Foi uma luta e tanto, mas quem quiser saber dos detalhes pode ler o livro do jornalista Edmar Morel, escrito em 1959: “A Revolta da Chibata”.
          O sergipano Arthur Bispo do Rosário foi marinheiro entre 1925 e 1933, mas enjoou do mar e foi trabalhar para uma família tradicional do Rio de Janeiro. Em 1938 teve o surto que provocou sua  internação no Hospício Pedro II; mais tarde, diagnosticado como “esquizofrênico paranoico”,  foi removido para a Colônia Juliano Moreira, no subúrbio de Jacarepaguá, onde viveu por mais de 50 anos.  Nesse longo período, Arthur Bispo do Rosário usou lixo e sucata para produzir  objetos que foram reconhecidos como arte e até mesmo comparados à obra de Marcel Duchamp (1887-1968). A obra mais conhecida é o Manto da Apresentação, que ele deveria usar no dia do Juízo Final. Quem visitou a Bienal de São Paulo de 2012 teve oportunidade de ver parte do fantástico  trabalho desse marinheiro enlouquecido, que não esqueceu as suas origens.  A obra dele está reunida no Museu Bispo do Rosário, na antiga colônia Juliano Moreira.
Obra de  Arthur Bispo do Rosário na Bienal de São Paulo, 2012.

Manto da Apresentação para Bispo se apresentar no Dia do Juízo Final.


(Publicado originalmente em 13/12/2012.)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

FILHOS DE PEIXE (2)

Procópio Ferreira ou João Álvaro de Jesus Quental Ferreira (1898-1979) é um dos maiores nomes do teatro brasileiro e a filha Abigail Izquierdo Ferreira (1922) herdou o talento e a paixão dele pela arte. Ela é Bibi Ferreira, 94 anos, atriz, diretora, escritora e cantora.
De tradicional família mineira Tarcísio Meira (Tarcísio Magalhães Sobrinho), 81 anos, faz parte da geração de atores que migrou do teatro para a televisão – onde estreou em 1959 (Teleteatro Tupi) e em 1969 foi protagonista da primeira novela da TV (2-5499, ocupado). É casado com Nilcedes Soares Guimarães ou Glória Menezes, 82 anos. O casal tem um filho Tarcísio Pereira de Magalhães Filho, 52 anos, que também é ator. Tarcísio Filho estreou na televisão em 1980 em Coração Alado e no cinema em 1972 interpretando D. Pedro I em Independência ou Morte.
Tonia Carrero ou Maria Antonietta Portocarrero Thedim, 94 anos, não foi apenas uma das mulheres mais bonitas do Brasil. Ela é uma das mais importantes atrizes brasileiras embora afastada das telas e dos palcos. O filho único Cecil Thiré, 73 anos, seguiu-lhe os passos, assim como os netos Miguel Thiré (34), Luísa Thiré (43)e Carlos Thiré (44). Luisa é mãe de outro ator, Vitor Thiré.
       A atriz Fernanda Montenegro, 84 anos, brilha onde quer que se apresente – palco, cinema ou televisão. Casada com o ator Fernando Torres, falecido em 2008, ela é mãe de Fernanda Torres (51), – outra grande atriz –, e de Cláudio Torres (53), diretor e produtor de cinema.
A atriz Monah Delacy, 86 anos, começou a carreira em 1953, casou-se com o ator Geraldo Matheus Torloni. Eles são os pais de Christiane Torloni (59), que por sua vez é mãe do ator Leonardo Torloni Carvalho (37), filho do ator Denis Carvalho (1946).
Camila Pitanga (39) e Rocco Pitanga (36) são filhos dos atores Antonio Pitanga (77) e Vera Manhaes (66). Antônio Carlos Pires (1927-2005), ator e humorista, é pai de Glória Pires, que por sua vez é mãe de duas atrizes – Cleo (34), com Fábio Jr. e Antônia Morais, com Orlando Morais.
Difícil mesmo é competir com Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, ou Chico Anysio (1931-2012) em todas as áreas. Ele foi ator, humorista, escritor, compositor, comentarista e diretor de cinema. Casou-se várias vezes e apenas uma esposa parece uma estranha no ninho artístico. Ele foi marido das atrizes Nancy Wanderlei, Rose Rondelli e Alcione Mazzeo, Regina Chaves (Frenéticas), a professora Zélia Cardoso de Mello e Malga di Paula. Ele teve nove filhos, sete biológicos. Não é de admirar que vários filhos tenham se tornado atores como Lug de Paula, Nizo Neto, Bruno Mazzeo (também é escritor) e André Lucas (filho adotivo). Chico Anysio era irmão da atriz Lupe Gigliotti, do cineasta Zelito Viana e do compositor Elano de Paula; tio do ator Marcos Palmeira, da atriz Cininha de Paula e tio-avô da atriz Mara Maya, filha de Cininha de Paula com o diretor Wolf Maya.
          E assim la nave va... Com certeza faltaram muitos filhos de atores famosos, mas ficam para outra ocasião. 
Chico Anysio com os filhos 
Bruno Mazzeo e Nizo Neto. (Foto: TV Globo.)

domingo, 11 de dezembro de 2016

ITÁLIA – Lucca, na Toscana, é uma cidade encantadora. Depois de passar o dia perambulando pelas ruas e praças, visitando museus e, claro, a casa de Puccini, fui para a Estação Ferroviária. Como saí por uma porta diferente daquela por onde entrara no centro histórico, fiquei em dúvida se a gare era à direita ou à esquerda. Só havia uma pessoa na avenida e estava parada na calçada do lado de um poste. Era um homem alto, na faixa dos 60 anos, bonito e bem vestido. Só tive tempo de dizer “Boa tarde, por favor...”, pois ele abriu um largo sorriso, avançou em minha direção, estendeu a mão e se apresentou: “Boa tarde, sou fulano de tal, muito prazer, como vai...” Fiquei surpresa com tanta cortesia; até parecia que eu era esperada... Resolvi esclarecer logo a situação explicando que “Eu só queria saber de que lado fica a estação ferroviária”. O cavalheiro mudou inteiramente de atitude e todo formal me deu a informação desejada; agradeci (nada de aperto de mão) e fui pegar o trem. Durante a viagem para a cidade em que estava instalada, fiquei pensando no que acontecera ali. Ele certamente tinha um encontro com uma desconhecida. Com que objetivo? As respostas eram muitas, mas preferi a mais simples: ele era um guia de turismo à espera de alguma cliente enviada por agência ou contratada pela internet, embora o local de encontro fosse pouco confortável. Por que não na Estação ou no quiosque do centro de turismo (que por sinal não funcionava mais lá) e era bem próximo? Mistérios que restam desses passeios mundo afora. (Itália, 2011.)



sábado, 10 de dezembro de 2016

DIA DO PALHAÇO


"Como vai, como vai, como vai?
Como vai, como vai, vai, vai?
 Eu vou bem, muito bem, bem, bem!"    

        E com este refrão começava mais um espetáculo do Cirquinho do Arrelia (Waldemar Seyssel), nas tardes de domingo na TV Record entre 1955 e 1966. Por que a lembrança? Hoje é o Dia Nacional do Palhaço e Arrelia foi o mais adorável palhaço que vi e tive o grande prazer de entrevistá-lo quando já se aposentara dos picadeiros. Era um palhaço elegante, bem educado e sempre gentil. Não inspiraria jamais coultrofobia (medo de palhaço) nas crianças. O parceiro de Arrelia era Pimentinha (Walter Seyssel – 1926/1992), que era também sobrinho dele. Abelardo Pinto (1897-1973) é o nome de um dos mais famosos palhaços brasileiros – o Piolin. A data de seu nascimento, – 27 de março –, foi escolhida para comemorar o Dia do Circo no Brasil. Outro grande palhaço foi Carequinha, nome artístico de George Savalla Gomes (1915-2006). Ele comandou o primeiro programa circense de televisão no Brasil (TV Tupi). Gravou dois discos famosos – “O bom menino” (não faz xixi na cama) e “Parabéns! Parabéns!”.

* Há vários personagens de séries americanas de TV que sofrem de coulrofobia: Kramer (Seinfeld), Booth (Bones) e Sam Hanna (NCSI Los Angeles). Os dicionários Houaiss e Michaelis não registram a palavra, que a Wikipédia define como termo psiquiátrico usado para aqueles que têm medo de palhaços.