quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

BELA ILHABELA

Muito antes da chegada dos portugueses ao Brasil, o homem já havia se instalado no arquipélago existente em frente à atual praia de São Sebastião, como revelam os 14 sítios do Projeto Arqueológico de Ilhabela. Os sambaquis remontam há 2000 anos a.C. Os índios que viviam por ali usavam a ilha, que chamavam de Maembipe, para trocar escravos (inimigo vencido em guerras tribais) por mercadorias. O nome de São Sebastião foi dado por Américo Vespúcio, que participou da primeira expedição de reconhecimento enviada a estas terras por Portugal sob o comando de Gonçalo Coelho. Como na época o nome dos acidentes geográficos era escolhido de acordo com o santo do dia, a esquadra passou por lá em 20 de janeiro de 1502.
A região só veio atrair colonos em 1608, quando Diogo de Unhate e João de Abreu vieram da Vila do Porto de Santos, iniciando o plantio de cana e a produção de açúcar. Havia também a cultura em menor escala de fumo da terra, anil, arroz, feijão e mandioca. Francisco de Escobar Ortiz construiu os dois primeiros engenhos de açúcar da Ilha de São Sebastião, mas sua principal atividade era o comércio de escravos, agora trazidos de Angola em um navio de sua propriedade.
Em 16 de março de 1636, o povoado emancipou-se da Vila de Santos, passando a denominar-se Vila da Ilha de São Sebastião, mas estava integrada ao território da Vila de São Sebastião, assim permanecendo até o início do século XIX.  A Ilha fez parte das rotas de piratas e corsários que flagelaram a costa brasileira nos séculos XVI e XVII. O resultado foi a construção de um sistema para defesa das duas vilas – a continental e a insular – constituído por sete fortificações erguidas nas duas margens do Canal do Toque-Toque (atual Canal de São Sebastião). O principal foi o forte do Rabo Azedo, ao norte da ilha, próximo da fortificação da Ponta das Canas cujas ruínas ainda existem.
Com o crescimento da população, o povoado foi elevado à condição de Capela de Nossa Senhora D´Ajuda e Bom Sucesso (c.1785). Mas no final do século XVIII, com o ciclo do açúcar em crise, a liderança pleiteava a emancipação do território abrangido pela ilha. O movimento sensibilizou o capitão-general da Capitania de São Paulo, Antônio José da Franca e Horta que, em 3 de setembro de 1805, elevou a capela à vila, com a denominação de Vila Bela da Princesa. O nome escolhido pelo próprio Franca e Horta foi uma homenagem à Princesa da Beira, Dona Maria Teresa Francisca de Assis Antonia Carlota Joana Josefa Xavier de Paula Micaela Rafaela Isabel Gonzaga de Bragança, filha mais velha do príncipe D. João (futuro rei de Portugal) e D. Carlota Joaquina. Vila Bela da Princesa foi instalada em 23 de janeiro de 1806.
Com a proibição internacional do comércio de escravos, a costa da ilha voltada para alto mar, especialmente a Baia dos Castelhanos, era usada clandestinamente para o desembarque de escravos para a lavoura cafeeira. Foi a cafeicultura que proporcionou riqueza para a região, com danos ambientais graves: devastação da Mata Atlântica e desaparecimento de espécies nativas da fauna.
A era do café na região terminou com a abolição da escravidão. A Vila Bela da Princesa e as povoações do Litoral Norte entraram em decadência; entretanto, a crise econômica possibilitou a reconstituição parcial da floresta.
No século XX, a Ilha de São Sebastião voltou a produzir cachaça, fabricada em 13 engenhos movidos por rodas d’água. A pinga era transportada para Santos em pipas por meio de uma flotilha de canoas de voga, junto com os excedentes agrícolas produzidos pelas roças de subsistência. Em 1934, houve uma reestruturação da divisão administrativa do Estado de São Paulo que extinguiu 18 municípios que não tinham arrecadação suficiente para se manterem. Vila Bela da Princesa tornou-se distrito do município de São Sebastião. A população, entretanto, não aceitou o rebaixamento e sete meses depois o governo teve que voltar atrás.
Mas os problemas não terminaram aí.  Em janeiro de 1939, Vila Bela da Princesa virou Vila Bela. Então, em 1940, Getulio Vargas, como todo ditador, resolveu mudar o nome da cidade para Formosa, gerando um movimento popular que levou o governo a voltar atrás (demorou quase cinco anos) e desta vez todos concordaram que seria Ilhabela.

 
Ilhabela (SP): foto Secretaria de Estado do Meio Ambiente.

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