domingo, 14 de julho de 2019

O JARDIM DE TÍVOLI


“A soberba Tíbur*.” Foi como o poeta Virgílio (70 a.C.-19 a.C.) referiu-se a esta cidade na “Eneida”, obra-prima em que ele ressalta a grandeza de Roma. Tibur era o nome primitivo de Tívoli, mais antiga do que Roma, que a conquistou no século IV a.C. Os romanos logo a escolheram para veranear, mas nenhum se esmerou tanto na construção da sua vila como o Imperador Adriano (76-138). A Vila Adriana (o que sobrou dela) foi incluída em 1999 na lista de Patrimônio Mundial da UNESCO. No século XVI, o Cardeal Ipolito d’Este (1509-1572) foi nomeado governador de Tívoli pelo Papa Júlio III. O Cardeal era neto de um papa e filho de Lucrécia Borgia e deixou para a posteridade uma obra de beleza fascinante: a vila que leva seu nome.
Tívoli está encarapitada em uma colina (altitude 235m) na região do Lácio. Ouvi falar dela por causa dos seus belíssimos jardins, joias de duas épocas distintas e distantes. Chega-se lá de trem ou de ônibus. O ônibus sai do terminal da estação Pirâmide. (O trem da Termini.) O coletivo recolhe passageiros ao longo do percurso que dura cerca de uma hora. O melhor é sair cedo de Roma para não perder nenhum dos encantos da cidadezinha – menos de 50 mil habitantes. 
        O verão está chegando. A praça avança em direção a um terraço de onde se tem uma bela vista do vale que se abre à frente da colina. Logo abaixo outro terraço serve de campo de futebol do colégio que fica à direita. A partida está animada, mas é a paisagem que me absorve. Há bancos estrategicamente colocados à sombra para se descansar o corpo e a vista. De um lado rapazes contam vantagens para uma garota e na outra ponta um senhor lê placidamente um jornal.

        A praça parece uma extensão das cafeterias e sorveterias, com mesinhas ocupadas por mães (há alguns pais) e pimpolhos, mas de repente o lugar vira uma praça de guerra. Munidos de garrafas plásticas cheias de água, chegam estudantes que iniciam uma batalha de água. Correm, escondem-se, atacam. Gritos e risadas. Jovens ninfas e faunos? Sei lá. Idade das descobertas. Eles se abastecem em uma bica tão antiga quando a cidade. Os adultos continuam conversando, imunes à agitação.
        A Villa d’Este é próxima da praça. A beleza do palácio só é superada pelo surpreendente jardim que tem a água como principal elemento. Como ele foi criado numa encosta, o visitante vai descendo os patamares e desvendando o que a engenharia hidráulica, a imaginação de um jardineiro e a fortuna de um homem de bom gosto podem fazer. Cascatas, lagos, tanques, fontes, canais formam jogos de água e à medida que se caminha pelas alamedas floridas ouve-se o murmúrio da água e o canto de pássaros invisíveis. Nem precisa dizer que se respira um ar perfumado, desconhecido daqueles que vivem em megalópoles.
 
 




No final do jardim, um terraço e a vista de vinhedos e olivais... Perfeito.
O Cardeal d’Este (1509-1572) morreu pouco antes que a Vila – também Patrimônio Mundial da UNESCO – ficasse pronta. Uma visita inesquecível.
Infelizmente, a visita à Vila Adriana ficou para as calendas gregas.

*”(...) todos procuram armas. Alguns limpam com unto gordurento os lisos escudos e os lustrosos dardos, e afiam na pedra os machados; apraz marchar com os estandartes e ouvir o som das trombetas. Não menos de cinco cidades, montadas suas bigornas, fabricam armas: a potente Atina, a soberba Tíbur, árdea, Custumérios e a torreada Antena.” Círculo do Livro (s/d), tradução: Tassilo Orpheu Spalding.
Virgílio diz que o nome tem origem no nome de Tiburto, irmão dos gêmeos Catilo e Coras, jovens intrépidos guerreiros. 
Observação: Quando tentei ir de trem, os funcionários de plantão na Termini fizeram um debate entre si e concluíram que só havia ônibus para lá.

Um comentário:

Nilton Tuna disse...

Agora sim, começa a minha viagem.... beijos