Um imenso prazer rever Roma. Com aquele
tom de terracota... Épocas que se sobrepõem com elegância. Muito bom caminhar
pelas ruas sem preocupação de conhecer este ou aquele lugar, mas apenas tentar
captar mais dessa cidade cheia de mitos, lendas e História, mas principalmente
arte. E muita arte a céu aberto. A memória leva a vários lugares e a nenhum em especial.
Uma estada de apenas três dias porque o destino é a Grécia. Se os romanos derrotaram os gregos na guerra, Roma foi pela Grécia subjugada por seus filósofos e gostou tanto da
poesia da mitologia grega que a adaptou ao universo romano.
Passa um bonde antigo. Não me lembrava de bonde em Roma. Compro o bilhete
num quiosque e resolvo descobrir seu destino. Embarco no próximo. Vai para o Largo di Torre Argentina (de
Argentorato, nome da atual Estrasburgo). Nada diferente dos bondes camarões de
Santos. Há um grande movimento de passageiros. No trajeto passamos por outros
mais modernos e rápidos. Perco-me observando prédios, praças, pessoas... Enfim,
o Largo. É um sitio arqueológico com vários templos do período da República
(509-27). Já conhecia, mas isso não importa. Resolvo continuar a pé até o Fori Imperiale...
Outro
impulso. Fontana di Trevi... Está rodeada por uma
multidão e cada pessoa ávida por uma foto. Será que observam cada detalhe
daquele belíssimo conjunto de esculturas? Alguns sim. Há pressa, agitação por
todo lado, quando Netuno pede tranquilidade, recolhimento. A descoberta da
fonte data do século IX a. C., quando a água foi levada por um aqueduto para os
banhos de Marcus Vipsanius Agrippa (63
a.C.-12-a.C.) e serviu à cidade por quatro séculos. No século XV, o papa de
plantão mandou recuperar o aqueduto destruído e construir uma pequena fonte,
que anos mais tarde ganhou um projeto grandioso assinado por Bernini, mas a
obra não foi adiante e somente no século XVIII Nicola Salvi iniciou a obra que
foi terminada por Giuseppi Pannini.
Depois de
visitar centenas de igrejas pela Europa, considero a Basílica de São Pedro a
mais bela de todas – grandiosa e elegante. Distraída pego o metrô errado e
acabo na Basílica Papal de São Paulo fora da Muralha, muito bonita. Ali é
território do Vaticano. A igreja foi fundada pelo imperador Constantino I
(272-337), sobre o túmulo de São Paulo e ficava fora da Muralha Aureliana – obra
de defesa com 19 km de extensão que englobava as sete colinas de Roma. Um incêndio em
15 de julho de 1823 quase destruiu a basílica. Ela foi refeita a partir do
projeto de Luigi Poletti (1792-1869) e reaberta em 1840.
Volto ao metrô e
desta vez na direção certa para o Vaticano. Céu azul. Um calor intenso. Sol
inclemente. A praça está lotada. Uma fila imensa serpenteia pela esplanada até
as escadarias da Basílica. As pessoas continuam chegando. Resolvo permanecer na
sombra observando. Consolo-me: afinal visitei a Basílica três vezes... Depois caminho no meio dessa multidão até o Museu do
Vaticano para rever toda aquela beleza produzida pelo Homem ao longo da trajetória de
destruição que marca a História.
Que tal passar
uma tarde de sábado nos jardins da Villa Borghese? As pessoas aproveitam para
dormitar ao sol, namorar, brincar com as crianças, caminhar despreocupadamente
pela sombra, descansar em um banco ou aproveitar o lugar agradável para a
leitura. Nada como o prazer de caminhar, mas alguns turistas preferem usar uns
veículos ridículos para “conhecer” o parque... Dois adolescentes dirigem
loucamente carrinhos (bem incompatíveis com a idade) pelas alamedas aos gritos.
Felizmente, eles são minoria. Uma pausa para apreciar os monumentos que adornam
o Parque à medida que avanço. Como o Relógio de Água do Pincio – projeto
original de 1867 de autoria de Gian Battista Embriaco. Ou a bela estátua
feminina que parece surpresa com o que vê... Enfim, o sol vai descendo no horizonte,
o calor ameniza, mas a noite custará a chegar.
Há um lugar que
sempre quis visitar: Cinecittà. Um mergulho na história do cinema. O famoso
estúdio italiano foi criado durante o regime fascista e inaugurado em 1937 e
mesmo durante o período da II Guerra continuou em operação e até 1943 lá foram
realizados cerca de trezentos filmes. Quando a guerra terminou aos poucos
Cinecittà foi ressurgindo até se tornar um importante polo cinematográfico
internacional que lhe deu a fama de Hollywood no Tibre. Grandes épicos
norte-americanos foram feitos em Cinecittà, como “Quo Vadis” (1951), dirigido
por Mervyn LeRoy, “Ben-Hur” (1959), de Willy Wyler, e “Cleópatra” (1963), de
Joseph L. Mankiewicz. A lista é imensa e a cada passo os ótimos momentos
vividos em salas de cinema voltam à memória. Lá estão objetos de cena, os
figurinos usados por grandes estrelas (Claudia Cardinale, Giuliano Gemma,
Ornella Muti ente tantos outros. E lá estão cenários de Western italianos, que
fizeram tanto sucesso nos anos 1970. Federico Fellini tem, merecidamente, um
espaço especial no museu. Por aqueles corredores perde-se a noção do tempo.
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