segunda-feira, 8 de julho de 2019

“POETAS NÃO MORREM, ELES SE TRANSFORMAM EM PALAVRAS.”

 “Paulo Bomfim é o poeta da imensa alma brasílica de São Paulo, a alma bandeirista dos tempos da invenção do Brasil. Poeta do que fica no coração e na mente” – escreveu o professor José de Souza Martins, numa crônica dedicada ao poeta.
    Muito trite com a morte de Paulo Bomfim, a quem admirava desde a adolescência, quando ele apresentava o telejornal da TV Record (se não me falha a memória) e descobri sua poesia. Era um brasileiro de velha cepa, paulista do fundo do coração. Cresceu ao lado dos veteranos constitucionalistas, foi amigo dos modernistas e publicou seu primeiro em 1946, “Antonio Triste”, prefaciado por Guilherme de Almeida (1890-1969) com ilustrações de Tarsila do Amaral. E já na estreia recebeu o prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras.
       Aos 20 anos, quando Anita Malfatti (1889-1964) pintou seu retrato, usava um bigodinho fino para poder frequentar os cabarés, contou-me em uma entrevista que fiz com ele em 1996, quando revelou que fora um boêmio confesso. “Sinto saudade da época em que São Paulo era pequena e seus homens eram grandes.”
Paulo Bomfim em seu escritório, 1996. Foto: Silvestre Silva.
O poeta floresceu e quando Guilherme de Almeida faleceu, foi considerado seu substituto natural. Conhecia São Paulo como a palma de sua mão e tinha um carinho especial pelo Parque da Luz. Ele dividiu sua vida entre o Tribunal de Justiça de São Paulo, a Academia Paulista de Letras e a família. O Tribunal o homenageou há alguns anos com a criação do Espaço Cultural Paulo Bomfim, que abriga acervo pessoal do poeta – obras de sua autoria, honrarias recebidas e copia do seu retrato feito por Anita Malfatti, além de farto material do movimento Constitucionalista de 1932.
Paulo Bomfim se transformou em palavras ontem. E deixou um epitáfio:
“Enquanto viver, por onde andar, levarei teu nome pulsando forte no coração, e quando esse coração parar bruscamente de bater, que eu retorne à terra donde vim, à terra que me formou, à terra onde meus mortos me esperam há séculos; por epitáfio, escrevam apenas sobre meu silêncio, minha primeira e eterna confissão: - EU TE AMO SÃO PAULO!"
“Ruas morrendo em mim cheias de infância. Árvores mortas com raízes na alma, deitando folhas verdes na distância...” Parque da Luz.

*Frase dita por Paulo Bomfim em abril, segundo o site do TJSP,
FONTES: Academia Paulista de Letras, Tribunal de Justiça de São Paulo, Revista VIVRE. Reprodução de foto de Silvestre Silva publicada na revista VIVRE. 

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