sexta-feira, 5 de julho de 2019

A AVENTURA


“Como mônada autossuficiente, o viajante recusa o tempo social, coletivo e coercitivo, em favor de um tempo singular feito de durações subjetivas e de instantes festivos buscados e desejados. (...) O capricho governa seus projetos relacionados com os ritmos da natureza. Nada mais conta, exceto ele e seu uso do mundo – por isso ele procede dos banidos e dos recusados. Quando põe o pé na estrada, ele obedece a uma força que, surgida do ventre e do âmago do inconsciente, lança-o no caminho, dando-lhe impulso e abrindo-lhe o mundo como um fruto caro, exótico e raro. Desde o primeiro passo realiza seu destino. Nas trilhas e nas veredas, nas estepes e nos desertos, nas ruas das megalópoles ou na desolação dos pampas, sobre a onda profunda ou no ar atravessado por invisíveis correntes, ele sabe o inevitável encontro com sua sombra – não tem escolha.” Michel Onfray, filósofo francês. 

Não vou fingir que sabia o que é mônada. Consultei o Michaelis: “Entidade metafísica que, na filosofia de Giordano Bruno (1548-1600), designa a unidade indivisível que constitui o elemento de todas as coisas”.

A viagem nos tira do comodismo, da rotina, da segurança, do mundo comum... Semeia dúvidas – aonde ir, como chegar ao destino, o que levar, o que encontraremos na jornada... Visitar família, amigos? Frequentemente, um mergulho no desconhecido, no diferente... Uma trajetória de descobertas, especialmente sobre o próprio viajante. Naturalmente, há os que viajam por dever de oficio e muitos não percebem que aí também se encontra um traço aventuresco. Em todo caso sempre há uma recompensa: na volta, estamos mais ricos em experiência ou sabedoria, se soubermos aproveitar o que vimos e vivemos.
E tudo isso começa em estações rodoviárias ou ferroviárias, portos ou aeroportos. Até mesmo no terminal de ônibus ou de barcas intermunicipais, que costumamos desprezar. Olho o calendário, analiso a passagem do tempo e decido que importante é partir.
Porto de Egina, Grécia, junho de 2019.


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