“Como mônada
autossuficiente, o viajante recusa o tempo social, coletivo e coercitivo, em
favor de um tempo singular feito de durações subjetivas e de instantes festivos
buscados e desejados. (...) O capricho governa seus projetos relacionados com
os ritmos da natureza. Nada mais conta, exceto ele e seu uso do mundo – por
isso ele procede dos banidos e dos recusados. Quando põe o pé na estrada, ele
obedece a uma força que, surgida do ventre e do âmago do inconsciente, lança-o
no caminho, dando-lhe impulso e abrindo-lhe o mundo como um fruto caro, exótico
e raro. Desde o primeiro passo realiza seu destino. Nas trilhas e nas veredas,
nas estepes e nos desertos, nas ruas das megalópoles ou na desolação dos
pampas, sobre a onda profunda ou no ar atravessado por invisíveis correntes,
ele sabe o inevitável encontro com sua sombra – não tem escolha.” Michel
Onfray, filósofo francês.
Não vou fingir que sabia o que é mônada. Consultei o Michaelis: “Entidade
metafísica que, na filosofia de Giordano Bruno (1548-1600), designa a unidade
indivisível que constitui o elemento de todas as coisas”.
A viagem nos tira do comodismo, da rotina, da segurança, do mundo comum...
Semeia dúvidas – aonde ir, como chegar ao destino, o que levar, o que
encontraremos na jornada... Visitar família, amigos? Frequentemente, um
mergulho no desconhecido, no diferente... Uma trajetória de descobertas,
especialmente sobre o próprio viajante. Naturalmente, há os que viajam por
dever de oficio e muitos não percebem que aí também se encontra um traço
aventuresco. Em todo caso sempre há uma recompensa: na volta, estamos mais
ricos em experiência ou sabedoria, se soubermos aproveitar o que vimos e
vivemos.
E tudo isso começa em estações rodoviárias ou ferroviárias, portos ou aeroportos.
Até mesmo no terminal de ônibus ou de barcas intermunicipais, que costumamos
desprezar. Olho o calendário, analiso a passagem do tempo e decido que importante é partir.
Porto de Egina, Grécia, junho de 2019. |
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