quarta-feira, 17 de julho de 2019

OS SUCESSORES DE ÍCARO

Há mais de meio século o homem voava, mas nunca saíra do ninho. O avião foi se aprimorando na primeira metade do século XX (especialmente em decorrência das duas guerras mundiais e da guerra da Coreia) e se tornou um dos meios de transporte mais seguros. Contudo, os desafios continuavam por causa da Guerra Fria que impulsionava a corrida armamentista. Se dominamos os céus, poderíamos ir mais longe e lá estava ela toda prateada enfeitando nossas noites. Por que não?
A história da aviação contava com nomes como o alemão Manfred von Richthofen (1892-1918) – o Barão Vermelho –; os franceses Antoine Saint -Exupéry  (1900-1944) e Roland Garros (1888-1918), o americano Charles Lindenberg (1902-1974) foram alguns dos pioneiros famosos por sua intrepidez. Os três primeiros morreram em combate na I Guerra Mundial e Lindenberg, que apoiou o nazismo, fez a primeira travessia aérea do Atlântico.  
"Chuck'" Yeager. Foto: Wikipedia.
Quando a II Guerra terminou, os Aliados descobriram que os alemães tinham desenvolvido o primeiro caça a jato do mundo e um avião foguete que em teste alcançara 953 quilômetros por hora. Engenheiros, mecânicos e pilotos norte-americanos começaram a trabalhar para ultrapassar a velocidade do som (1.050 quilômetros por hora), o que o jovem Charles Elwood "Chuck" Yeager  (1923) se encarregou de fazer em 14 de outubro de 1947.  
O jornalista americano Tom Wolfe (1930-2018) escreveu a saga dos pilotos de prova que tornaram possível a viagem à Lua. Homens que enfrentavam diariamente a morte com fibra e nunca pronunciavam as palavras “morte, perigo, bravura, medo”. Wolfe revela que em 1952, “sessenta e dois pilotos da força aérea morreram nas trinta e seis semanas de treinamento”. E mais: “Esses números referiam-se apenas aos pilotos de caça em treinamento; não incluíam os pilotos de prova (...) que morriam com bastante regularidade”. As estatísticas da Marinha mostravam que “um em cada quatro pilotos morria”.
Quando o presidente John Kennedy (1917-1963) lançou o desafio de colocar o homem na Lua até o final da década de 1960, a Lua, que era dos poetas, agora seria um alvo a 384.400 km de distância. Foi desse grupo de homens que saíram Peter Conrad, Walter Schirra, Jim Lovell, Michael Collins, Gus Grissom, Neil Armstrong, os homens escolhidos para o programa espacial americano.

 “Ícaro é o símbolo da temeridade, da volúpia ‘das alturas’, em síntese: a personificação da megalomania.” Afirmação do professor Junito de Souza Brandão em sua análise do mito no livro “Mitologia Grega”. Algo que cabe como uma luva na personalidade dos eleitos, todos dotados de um superego, essencial para voar sobre uma bomba em direção à Lua. 


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