Mário Lago (1911-2002), além de um
grande ator, foi compositor, poeta, escritor, teatrólogo e
radialista. Como compositor deixou-nos músicas inesquecíveis. As
feministas que me perdoem, mas que tal “Ai, que saudades da Amélia?”
Esta música, de 1942, foi em parceria com Ataulfo Alves (1909-1969). Ninguém
quis gravá-la porque “era bonita, mas parecia marcha fúnebre”. Ataulfo gravou.
Resultado: um estrondoso sucesso.
Amélia foi uma mulher de verdade, quer dizer, existiu mesmo. Mário contou
a história dela em entrevista à revista RADIOLÂNDIA em 1953. Ela era
lavadeira de Aracy de Almeida (1914-1988) e do irmão dela, o baterista
Almeidinha. Amélia era pessoa dedicada à família e aos amigos, por quem fazia
qualquer sacrifício; vivia bem humorada, sem se aborrecer com os desgostos da
vida. Almeidinha, depois de ouvir os infortúnios amorosos dos amigos,
costumava arrematar as histórias com uma espécie de bordão: “Ai, a Amélia!
Aquilo sim é que era mulher! Lavava, engomava, cozinhava,
apanhava e não reclamava”.
Mário
achou que a história dava samba, escreveu a letra e Ataulfo Alves musicou. O
fato está no dicionário Cravo Alvim da Musica Popular Brasileira e na
biografia de Mário, escrita por Mônica Velloso. Amélia deixou de ser
apenas um nome de mulher e tornou-se um verbete de dicionários. No Houaiss, é
definido como “substantivo feminino que designa a mulher amorosa, passiva
e serviçal“. Claro, que os tempos mudaram, mas nem por isso as “Amélias”
desapareceram.
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