terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

AMÉLIA


 Mário Lago (1911-2002), além de um grande ator, foi compositor, poeta, escritor, teatrólogo e radialista. Como compositor deixou-nos músicas inesquecíveis. As feministas que me perdoem, mas que tal Ai, que saudades da Amélia?” Esta música, de 1942, foi em parceria com Ataulfo Alves (1909-1969). Ninguém quis gravá-la porque “era bonita, mas parecia marcha fúnebre”. Ataulfo gravou. Resultado: um estrondoso sucesso.  

         Amélia foi uma mulher de verdade, quer dizer, existiu mesmo. Mário contou a história dela em entrevista à revista RADIOLÂNDIA em 1953. Ela era lavadeira de Aracy de Almeida (1914-1988) e do irmão dela, o baterista Almeidinha. Amélia era pessoa dedicada à família e aos amigos, por quem fazia qualquer sacrifício; vivia bem humorada, sem se aborrecer com os desgostos da vida. Almeidinha, depois de ouvir os infortúnios amorosos dos amigos, costumava arrematar as histórias com uma espécie de bordão: Ai, a Amélia! Aquilo sim é que era mulher! Lavava, engomava, cozinhava, apanhava e não reclamava”.
         Mário achou que a história dava samba, escreveu a letra e Ataulfo Alves musicou depois. O fato está no dicionário Cravo Alvim da Musica Popular Brasileira e na biografia de Mário, escrita por Mônica Velloso. Amélia deixou de ser apenas um nome de mulher e tornou-se um verbete de dicionários. No Houaiss, é definido como “substantivo feminino que designa a mulher amorosa, passiva e serviçal“. Claro, que os tempos mudaram, mas nem por isso as “Amélias” desapareceram.  


Nenhum comentário: