sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

BANCO DE SÃO PAULO E O ESPLENDOR DA ART DÉCO


No apagar das luzes do Império, D. Pedro II autorizou a criação do primeiro banco de São Paulo: 5 outubro de 1889. A partir de 1927, quando Vicente de Almeida Prado (1876-1954) assumiu a superintendência da instituição, o banco teve um crescimento exponencial. No início dos anos 1930, o arquiteto Álvaro de Arruda Botelho foi contratado para fazer o projeto da nova sede do banco no Triângulo. A obra estendeu-se por três anos (1935/1938) e o resultado foi o belíssimo prédio em estilo art déco, composto por dois blocos interligados por meio de corredores de circulação ao redor do poço interno de ventilação dos edifícios. O bloco com entrada pela Rua XV de Novembro, 380 tem 16 andares e dois subsolos; o outro, que se abre para a Praça Antônio Prado, 9 tem 13 pavimentos. A construção ficou a cargo de duas empresas: Companhia Constructora Nacional e Sociedade Constructora de Immoveis, enquanto os elementos decorativos foram executados pelo Liceu de Artes e Ofícios. Mármore, granito, ferro, bronze e madeiras de lei são alguns dos materiais usados na edificação. O engenheiro responsável foi Cícero Costa Vidigal.
Na parte externa, do lado esquerdo da entrada, há uma caixa fundida em bronze para depósitos bancários efetuados após o horário comercial. Ao passar pela porta giratória trabalhada com motivos florais geométricos, o visitante tem a seus pés um maravilhoso piso mosaico de grés e uma ampla visão da agência em que o luxo e o bom gosto pontificam. Luminárias em alabastro circundam o imenso salão, onde se destaca o balcão de atendimento enorme e em forma de ferradura. No centro, há três mesas para os clientes preencherem cheques ou manipular seus documentos. As mesas ficam sobre um desenho diferenciado do piso que à distância parecem pequenos tapetes coloridos e brilhantes.  Detalhe: o autor do trabalho deixou-nos um cartão de visita pouco usual e que não se perde com o tempo: impresso no piso pode-se ler Ferdinando Gennari. Rua Vergueiro, 385. Telefone: 7-1875.

Painéis e esculturas que adornam a agência são dos artistas plásticos João Batista Ferri (1896-1978) Roque de Mingo (1890-1972) e Gervásio Furest Muñoz (1893-1968).
O prédio não foi ocupado apenas pelo banco. Alguns andares destinavam-se a locação comercial e entre os locatários estava o Jockey Club Paulistano. Se hoje os bancos não têm relógios, no Banco de São Paulo ele é visto assim que se entra no saguão e tem um mecanismo que ilumina os algarismos. Modernidade para a época. No mezanino, de onde se tem uma da visão ampla da agência, encontra-se a sala da presidência. Hora de ir ao cofre, no subsolo. Equipamento alemão, blindado. É melhor conferir pessoalmente. As visitas guiadas pela arquiteta Ivone Faddul Alves (Secretaria de Esportes), que narra a história do prédio e as lendas que povoam o lugar de uma forma bastante criativa e estimulante, enfatizando a importância da preservação do patrimônio artístico da nacional. 
       
Escultura de Moñoz,

Detalhe do piso.


Em tempo: após a morte de Vicente de Almeida Prado, o filho dele, José Adhemar de Almeida Prado, assumiu a superintendência do banco, e em 1960 o irmão Nelson Prado passou a fazer parte da diretoria da instituição. Em 1973, idosos e sem descendência, o Banco de São Paulo foi vendido para o BANESPA (Banco do Estado de São Paulo, 1909-2001). Atualmente, abriga a Secretaria de Esportes, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo.

       Em 2003 o prédio foi tombado pelo CONDEPHAAT por ser
 "Exemplar dos mais representativos da linguagem art déco na arquitetura paulistana da década de 1930, apresenta entre suas características principais, o emprego de materiais nobres, requinte nos acabamentos e fatura esmerada dos diversos elementos construtivos. O refinamento artístico alcançado pela obra, aliado ao apuro técnico do projeto arquitetônico, conferem ao edifício um caráter de excepcionalidade em relação ao conjunto de testemunhos dessa corrente existente no Estado de São Paulo. Por suas qualidades construtivas e presença marcante na paisagem construída da cidade, é referência obrigatória para todo estudioso do tema".

O edifício também é tombado pelo COMPRESP desde 2002 e está incluído no conjunto de bens culturais da cidade.
Vicente de Paula de Almeida Prado foi casado com Francisca de Paula Almeida Prado. O casal teve cinco filhos. Vicente afastou-se por alguns meses da direção do banco em 1931 quando assumiu a presidência do Banco do Brasil.

Porta do cofre alemão blindado.
Relógio marca hora e data da visita (13/02/2020).

















Visitas: segunda e quinta-feira, das 10 às 11 horas e das 13 às 14 horas.
Endereço: Praça Antônio Prado, nº 9, Centro, São Paulo-SP. Estação São Bento do Metrô.
E-mail para agendamento e informações:
Responsável – Ivone Alves
ifalves@sp.gov.br | visitabsp@gmail.com

Telefone: (11) 3241-5822 (ramal 1200).


FONTES: “Edifício de escritórios em São Paulo”, tese de Roberto Novelli Fialho, FAU/USP.
“A Tipografia Arquitetônica como protagonista de um sistema de identidade cultural”, dissertação de mestrado de José Roberto D’Elboux, FAU/USP.

2 comentários:

Unknown disse...

Maravilha! Eu, na minha santa ignorância não sabia que ainda existe um lugar com tanta beleza pra ser apreciado. Parabéns mais uma vez! Seu texto sempre um primor!!!!

Hilda Araújo disse...

Não se menospreze, porque somente após trinta e tantos anos em São Paulo fui conhecer essa maravilha e passo sempre por lá. É muito bom descobrir e revelar esses tesouros para que todos possam usufruir da herança que os muito ricos nos deixaram e ajudar a preservar esses bens culturais e arquitetônicos para as próximas gerações. Um forte abraço.