No apagar das
luzes do Império, D. Pedro II autorizou a criação do primeiro banco de São
Paulo: 5 outubro de 1889. A partir de 1927, quando Vicente de Almeida Prado
(1876-1954) assumiu a superintendência da instituição, o banco teve um
crescimento exponencial. No início dos anos 1930, o arquiteto Álvaro de Arruda Botelho foi
contratado para fazer o projeto da nova sede do banco no Triângulo. A obra
estendeu-se por três anos (1935/1938) e o resultado foi o belíssimo prédio em
estilo art déco, composto por dois
blocos interligados por meio de corredores de circulação ao redor do poço
interno de ventilação dos edifícios. O bloco com entrada pela Rua XV de
Novembro, 380 tem 16 andares e dois subsolos; o outro, que se abre para a Praça
Antônio Prado, 9 tem 13 pavimentos. A construção ficou a cargo de duas empresas:
Companhia Constructora Nacional e Sociedade Constructora de Immoveis, enquanto
os elementos decorativos foram executados pelo Liceu de Artes e Ofícios.
Mármore, granito, ferro, bronze e madeiras de lei são alguns dos materiais usados
na edificação. O
engenheiro responsável foi Cícero Costa Vidigal.
Na parte externa, do lado esquerdo da entrada, há uma caixa
fundida em bronze para depósitos bancários efetuados após o horário comercial.
Ao passar pela porta giratória trabalhada com motivos florais geométricos, o
visitante tem a seus pés um maravilhoso piso mosaico de grés e uma ampla visão
da agência em que o luxo e o bom gosto pontificam. Luminárias em alabastro
circundam o imenso salão, onde se destaca o balcão de atendimento enorme e em
forma de ferradura. No centro, há três mesas para os clientes preencherem
cheques ou manipular seus documentos. As mesas ficam sobre um desenho
diferenciado do piso que à distância parecem pequenos tapetes coloridos e
brilhantes. Detalhe: o autor do trabalho
deixou-nos um cartão de visita pouco usual e que não se perde com o tempo:
impresso no piso pode-se ler Ferdinando
Gennari. Rua Vergueiro, 385. Telefone: 7-1875.
Painéis e esculturas que adornam a agência são dos artistas plásticos
João Batista Ferri (1896-1978) Roque de Mingo (1890-1972) e Gervásio Furest
Muñoz (1893-1968).
O prédio não foi ocupado apenas pelo banco. Alguns andares
destinavam-se a locação comercial e entre os locatários estava o Jockey Club
Paulistano. Se hoje os bancos não têm relógios, no Banco de São Paulo ele é
visto assim que se entra no saguão e tem um mecanismo que ilumina os
algarismos. Modernidade para a época. No mezanino, de onde se tem uma da visão
ampla da agência, encontra-se a sala da presidência. Hora de ir ao cofre, no
subsolo. Equipamento alemão, blindado. É melhor conferir pessoalmente. As
visitas guiadas pela arquiteta Ivone Faddul Alves (Secretaria de Esportes), que
narra a história do prédio e as lendas que povoam o lugar de uma forma bastante
criativa e estimulante, enfatizando a importância da preservação do patrimônio
artístico da nacional.
Em tempo: após a morte de Vicente de
Almeida Prado, o filho dele, José Adhemar de Almeida Prado, assumiu a
superintendência do banco, e em 1960 o irmão Nelson Prado passou a fazer parte
da diretoria da instituição. Em 1973, idosos e sem descendência, o Banco de São
Paulo foi vendido para o BANESPA (Banco do Estado de São Paulo, 1909-2001). Atualmente,
abriga a Secretaria de Esportes, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo.
Em
2003 o prédio foi tombado pelo CONDEPHAAT por ser
"Exemplar dos mais representativos da
linguagem art déco na arquitetura
paulistana da década de 1930, apresenta entre suas características principais,
o emprego de materiais nobres, requinte nos acabamentos e fatura esmerada dos
diversos elementos construtivos. O refinamento artístico alcançado pela obra,
aliado ao apuro técnico do projeto arquitetônico, conferem ao edifício um
caráter de excepcionalidade em relação ao conjunto de testemunhos dessa
corrente existente no Estado de São Paulo. Por suas qualidades construtivas e
presença marcante na paisagem construída da cidade, é referência obrigatória
para todo estudioso do tema".
O edifício
também é tombado pelo COMPRESP desde 2002 e está incluído no conjunto de
bens culturais da cidade.
Vicente de
Paula de Almeida Prado foi casado com Francisca de Paula Almeida Prado. O casal
teve cinco filhos. Vicente afastou-se por alguns meses da direção do banco em
1931 quando assumiu a presidência do Banco do Brasil.
Porta do cofre alemão blindado. |
Relógio marca hora e data da visita (13/02/2020). |
Visitas: segunda e
quinta-feira, das 10 às 11 horas e das 13 às 14 horas.
Endereço: Praça
Antônio Prado, nº 9, Centro, São Paulo-SP. Estação São Bento do Metrô.
E-mail para agendamento e
informações:
Responsável – Ivone Alves
ifalves@sp.gov.br | visitabsp@gmail.com
Telefone: (11)
3241-5822 (ramal 1200).
FONTES: “Edifício de escritórios em São Paulo”, tese de Roberto Novelli
Fialho, FAU/USP.
“A Tipografia Arquitetônica como protagonista de um sistema de
identidade cultural”, dissertação de mestrado de José Roberto D’Elboux,
FAU/USP.
2 comentários:
Maravilha! Eu, na minha santa ignorância não sabia que ainda existe um lugar com tanta beleza pra ser apreciado. Parabéns mais uma vez! Seu texto sempre um primor!!!!
Não se menospreze, porque somente após trinta e tantos anos em São Paulo fui conhecer essa maravilha e passo sempre por lá. É muito bom descobrir e revelar esses tesouros para que todos possam usufruir da herança que os muito ricos nos deixaram e ajudar a preservar esses bens culturais e arquitetônicos para as próximas gerações. Um forte abraço.
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