Jean-Baptiste Debret (1768-1848)
registrou várias cenas do carnaval ou entrudo. Nesta aquarela sobre papel
(1823), a mulher sentada à porta tem um tabuleiro cheio de laranjinhas,
enquanto o garoto usa uma bisnaga para esguichar a água nos passantes. Dos
escravos ao imperador, todos se envolviam na brincadeira.
Trecho de lembranças do advogado, professor e político Jorge
Americano (1861-1969) sobre o Carnaval.
“Conversavam em nossa casa em
1900:
‒ Mas é incrível como permitiam
aquilo. A gente passava um mês ou dois fazendo laranjinhas de cera em forminhas.
Enchia d’água perfumada e esperava na janela os conhecidos que passavam.
‒ As pessoas vinham suadas, não sei
como não havia pneumonias.
‒ Isso não é nada. Quando as
laranjinhas acabavam, iam-se buscar copos d’água. Depois, regadores. Depois baldes
d’água. Depois dava aquela loucura, os rapazes saíam pela rua e pegavam
qualquer que passasse, traziam-no à força e jogavam dentro de uma tina ou
tanque cheio de água. Não sei como não saiam brigas horrorosas.
‒ Às vezes saíam. Foi bom que a
polícia proibisse. Proibidas também as laranjinhas, só ficaram as bisnagas. Afinal,
uma bisnaga feita em chumbo esguicha um borrifo de água, que não faz mal.
‒ Você já viu o lança-perfume? É uma
bisnaga nova, de vidro, que não precisa espremer. Basta comprimir a mola, que o
éter jorra e seca imediatamente.”
“SÃO PAULO NAQUELE TEMPO (1895-1915).
Edição Saraiva, São Paulo, 1957.
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