segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

DAS LARANJINHAS AO LANÇA PERFUME

ENTRUDO FAMILIAR, do pintor inglês AUGUSTUS EARLE (1793-1838), que viajou pelo Brasil entre 1820 e 1824. 

O carnaval veio para o Brasil com os portugueses, os africanos quando foram trazidos para a Colônia gostaram e deram à festa um caráter especial e o entrudo conquistou todas as camadas sociais a ponto de infernizar a vida nas cidades. O professor Luiz Felipe de Alencastro (UNICAMP) conta que foi uma trupe italiana falida de passagem pelo Rio de Janeiro que inventou o Carnaval de salão carioca por volta dos anos 1840. “Separou-se a festa da rua, popular e negra, embora de origem portuguesa ‒ o entrudo ‒, da festa de salão branco e segregado, o Carnaval.” A Companhia Lírica Italiana, sem dinheiro, resolveu promover um carnaval veneziano de máscaras no Teatro São Januário para levantar um dinheiro. Foi um sucesso. A imprensa aplaudiu, afinal “é mais próprio de um povo civilizado e menos perigoso à saúde” (Jornal do Commercio). Explica-se assim a presença de Pierrôs, Colombinas e Arlequins, personagens da commedia dell’arte no Carnaval. Clubes passaram a organizar os bailes. São Paulo aderiu à moda no verão de 1856.
       A separação não diminuiu o entusiasmo do povo, que continuou por muito tempo ainda se divertindo com as laranjinhas.
         No início do século XX, surgiu o lança perfume, produto francês à base de éter, clorofórmio, cloreto de etila e uma essência perfumada, acondicionado em ampolas de metal (ou vidro). Ao ser lançado nas pessoas causava uma sensação gelada e perfumada. Secava rapidamente, mas o perfume persistia. Fabricado pela Rhodia, era inicialmente importado da argentina até que em 1922 em decorrência do enorme sucesso no carnaval, a Rhodia passou a produzir em São Paulo. Entretanto, a brincadeira inocente dos primeiros tempos tornou-se um problema quando muita gente passou a inalar com fins entorpecentes com sérias consequências (aceleração da frequência cardíaca, a destruição irreversível de células cerebrais, alucinação, dor de cabeça, náuseas e depressão). Em 1960 o presidente Jânio Quadros (1917-1992) proibiu o lança perfume e desde então seu uso ou porte pode levar à prisão por posse ou tráfico de droga.


 Luiz Felipe de Alencastro - “Vida privada e ordem privada no império”, em História da vida privada no Brasil - Império: a corte e a modernidade nacional, volume 2, Companhia das Letras, 1997.

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