quarta-feira, 13 de maio de 2020

QUARENTENA: O PASSEIO VIRTUAL CONTINUA.



No coração do Centro Histórico de São Paulo há quatro vias que servem de ligação entre as ruas do Triângulo, compondo um grande calçadão. Podemos começar o passeio pela atual RUA DO TESOURO, uma das mais antigas da cidade. Ela foi aberta no século XVII em frente ao Pátio do Colégio e se tornou uma das mais movimentadas de São Paulo. Em 1733 a Câmara Municipal (que administrava a cidade) resolveu construir ali seis casinhas (cubículos) para que os comerciantes pudessem vender “toucinhos e outros mantimentos” à população. Pronto: os moradores logo deram nome ao logradouro: Rua das Casinhas. Parece que os paulistanos não eram nada imaginativos na hora de nomear suas ruas. As casinhas foram precursoras do mercado. (Foto HPPA: Rua da Quitanda com Centro Cultural Banco do Brasil ao fundo.)
Rua Quinze, um sábado de 2019.
        No século XIX, o governo da Província funcionava no antigo prédio dos jesuítas no Pátio do Colégio e o povo tratou de dar prestígio à rua e passou a chamá-la de Rua do Palácio, como registra o mapa da cidade de 1868. Em 1873 as casinhas desapareceram e foram substituídas pelo prédio que sediou o Tesouro Provincial (equivalente à Secretaria da Fazenda). Foi nessa época que a rua passou a se chamar Rua do Tesouro (claro!). Uma curiosidade: a sede do jornal “A Província de S. Paulo” (O Estado de S. Paulo) era no prédio nº 14 da Rua do Tesouro com a Álvares Penteado.
        Não sei dizer se ela é a menor rua da cidade, mas dizer que tem um quarteirão é um exagero. É até irônico que a RUA DO COMÉRCIO da cidade com o maior PIB municipal do Brasil seja tão minúscula. Ela fica entre as ruas São Bento e Quinze de Novembro.
        De acordo com a Prefeitura, deve ter sido aberta no século XVIII para ligar as Ruas do Rosário (Rua Quinze de Novembro) e do Comércio (Álvares Penteado) e chamava-se Beco do Inferno. O cronista Byron Gaspar* explica a origem do nome dado pela população (que desta vez foi original): "Um lugar imundo, esburacado, escuro e mal frequentado. Ninguém podia nele transitar sem o necessário cuidado, tamanha era a sujeira que havia em toda a sua extensão". Em 1865, o vereador Malaquias Rogério de Salles Guerra propôs a alteração do nome do beco para Travessa do Comércio. Quando a Câmara quis exprimir sua gratidão ao conde Álvares Penteado por sua contribuição para a sociedade paulista, a Rua do Comércio foi selecionada para homenageá-lo e o Travessa, promovida à rua.
A Rua Álvares Penteado, antiga Rua do Comércio, não é uma ruela, mas entra no grupo para esclarecimento do motivo da mudança do nome. O fazendeiro e industrial paulista Antônio Álvares Leite Penteado (1852-1912), conde Álvares Penteado socorreu a Escola Prática de Comércio, fundada em 1902 e que se encontrava em sérias dificuldades financeiras: ele doou o terreno e construiu o belo prédio estilo eclético no Largo de São Francisco. Em homenagem ao benfeitor, foi dado ao estabelecimento o nome de "Escola de Comércio Álvares Penteado". Ele deixou parte de sua fortuna para constituição da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Nome oficializado pela Lei nº 977, de 29 de janeiro de 1907.
No caminho da Rua Quinze de Novembro em direção ao Largo de São Bento, encontra-se a RUA DA QUITANDA. Um nome de origem popular, sem dúvida, mas também o que sobrou de uma atividade que existia em todas as cidades até a chegada dos supermercados no século XX. Quitanda é palavra proveniente da língua lunda (Angola) que significa feira ou venda, bem adequado para o espaço onde, no século XIX, havia um comércio miúdo muito movimentado. O botânico e naturalista Auguste de Saint-Hilaire, visitando a cidade em 1819, escreveu: “Os legumes e as mercadorias de consumo imediato são vendidos por negras que se mantêm acocoradas na rua, que por motivo de tal comércio, tomou o nome de Rua da Quitanda”.
        Em 1822 era também conhecida como Rua do Cotovelo porque ela dobrava como um cotovelo, mas a dobra foi suavizada, graças às retificações pelas quais o centro passou em várias ocasiões. Em meados do século XIX era o local preferido pelas vendedoras de miudezas e de alimentos cozidos ou in natura.
E a Rua da Quitanda em determinada época ganhou uma ruela situada entre as atuais ruas Álvares Penteado e Quinze de Novembro e que tinha o significativo nome de Beco da Cachaça. Nem é preciso dizer qual o principal produto comercializado por lá; porém, a Quitanda prevaleceu sobre a cachaça. Ela se estende da Rua Quinze ao Largo do Patriarca. O nome da rua foi oficializado em 1924. 
Rua do Tesouro: imagem Google.
 Fonte: Arquivo Municipal.
*Byron Gaspar é autor do livro “Fontes e Chafarizes de São Paulo”.

2 comentários:

Nilton Tuna disse...

Desculpe, Hilda. Mas essa foto não é da rua XV de Novembro em Santos, com a Bolsa do Café ao fundo?

Hilda Araújo disse...

Cruzes! Não se desculpe! Efeito quarentena! Muito obrigada pelo alerta. Beijos.