Entre o final do
século XIX e o início do século XX, quando o setor de construção civil
desenvolveu a tecnologia que permitia a construção dos arranha-céus e se
inventou o elevador, desencadeou-se uma corrida para a conquista das alturas. Chicago e Nova York iniciaram a moda. Em minha
opinião de leiga, atitude até justificável, afinal, era uma novidade e todos
queriam ter, ver ou ocupar uma dessas maravilhas. Com o tempo os arranha-céus
se tornaram cada vez maiores, se espalharam pelo mundo e, em pleno século XXI,
engenheiros e arquitetos buscam incrementar essas construções enormes (nem
sempre bonitas) com atrativos tecnológicos de ponta.
A “Dubai brasileira” fica em Santa Catarina, mais precisamente no
Balneário Camboriú, município com população inferior a 145 mil habitantes. Balneário
Cambo riu tem um alto Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e ocupa
o 5º lugar na avaliação recente da qualidade vida em cidades médias brasileiras
com mais de 100 mil habitantes*. O Balneário é também o principal ponto
turístico do estado catarinense pela beleza das praias (10) e atrações para todos os gostos. Em 2017 recebeu 4,2 milhões de turistas! Vinte e dois por cento a mais
do que no ano anterior. O setor representa 20% do PIB local e contribui com 13%
para o PIB de Santa Catarina.
O segmento imobiliário escolheu a praia Central para a construção dos
espigões. Vitrine das construtoras. Os nomes, desculpem-me a franqueza, são suburbanos
e pretensiosos. One Tower (290 m
– 77 andares), Yachthouse Residence Club, torres gêmeas (281 m
– 81 andares), Infinity Coast (234 m – 70 andares); Boreal Tower (230 m – 64 andares); Torre Vitra (226 m – 67 andares) e Epic Tower (192 m – 55 andares). Alguns estão em fase de acabamento.
Compradores? Celebridades, artistas, novos ricos e
empresários, mas apenas 30% dos donos dos apartamentos com vista para o mar
moram em sua propriedade o ano todo. Os valores dessas propriedades são compatíveis com a altura dos prédios.
Esse gigantismo tem um preço. A falta de água
é um dos principais problemas da cidade, que investiu em um novo reservatório e
tem ampliado a rede de distribuição de água para evitar o desabastecimento. Um
prédio de 80 andares, por exemplo, tem reservatório cinco vezes maior do que o
normal, consumindo até 150 mil litros de água, que nem sempre é suficiente na
alta temporada, o que já levou alguns condomínios a limitar a ocupação dos
apartamentos. Quer pegar um sol na praia? Apresse-se porque depois das 14 horas
a sombra dos edifícios se esparrama pela areia. A intensificação do turismo já
tornou algumas praias impróprias para o banho...
As pessoas que desejam paz e sossego procuram outras praias
do município, que tem uma excelente rede hoteleira para todos os bolsos, sistema
de transporte integrado e atrações culturais, gastronômicas e esportivas bem variadas
Quem quiser se aprofundar sobre o tema terá
muitas informações no livro do professor Victor Mirshawka: “Encantadoras
Cidades Brasileiras - As pujantes Economias alavancadas pela visitabilidade.”
Volume I, de. São Paulo: DVS Editora, 2019. Mirshawka entrevistou várias
pessoas e reuniu informações valiosas sobre a cidade.