sábado, 31 de dezembro de 2022

ADEUS ANO VELHO. FELIZ ANO NOVO.

Para terminar 2023, a poesia de Affonso Romano de Sant’Anna (1937).

VAI, ANO VELHO

 

Vai, ano velho, vai de vez

vai com tuas dívidas

e dúvidas, vai, dobra a ex-

quina da sorte, e no trinta e um,

à meia-noite, esgota o copo

e a culpa do que nem lembro

e me cravou entre janeiro e

dezembro.

 

Vai, leva tudo: destroços,

ossos, fotos de presidentes,

beijos de atrizes, enchentes,

secas, suspiros, jornais.

Vade retrum, pra trás,

leva para a escuridão

que me assaltou o carro,

a casa e o coração.

Não quero te ver mais,

só daqui a anos, nos anais,

nas fotos do nunca mais.



Vem, Ano Novo, vem veloz,

vem em quadrigas, alagadas, antigas,

ou jatos de luz moderna, vem,

paira, desce, habita em nós,

vem com cavalhadas, folias, reisados,

fitas multicores, rebecas,

vem com uva e mel e desperta

em nosso corpo a alegria,

escancara a alma, a poesia,

e, por um instante, estanca

o verso real, perverso

e sacia em nós a fome

                                  — de utopia.

 

Vem na areia da ampulheta como a
semente que contivesse outra se-
mente que contivesse ou-
tra semente ou pérola
na casa da ostra
como se
se
outra se-
mente pudesse
nascer do corpo e mente
ou do umbigo da gente como ovo
o Sol a gema do Ano Novo que rompesse
a placenta da noite em viva flor luminescente.

 

Adeus, tristeza: a vida

é uma caixa chinesa

de onde brota a manhã.

Agora

é recomeçar.

a utopia é urgente.

Entre flores de urânio

é permitido sonhar.




sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

PELÉ PARA SEMPRE

Nascer em 1945 foi muito bom sob todos os aspectos. Um deles foi o privilégio de assistir ao surgimento de uma estrela: PELÉ. Lembro-me muito bem da tarde de domingo em 1958 em que a seleção brasileira ganhou a Copa do Mundo e a Taça Jules Rimet na Suécia: 29 de junho. E depois das tardes de muitos outros domingos vendo pela TV (ainda incipiente em preto e branco) o garoto a brilhar com a camisa do Santos Futebol Clube. Ninguém o superou... O rei se despediu. Edson Arantes do Nascimento – 1940-2022. PELÉ para sempre.






quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

A PAULICEIA DE GUILHERME DE ALMEIDA

É uma experiência muito reveladora ler crônicas antigas sobre lugares e cenários, que percorremos e vemos no dia a dia, para descobrir a transitoriedade de tudo – o que ontem foi ruim, hoje pode ser maravilhoso. Ou vice-versa. Quando lamentamos a sorte choramingando sobre problemas cotidianos, como os buracos nas ruas, a falta de pontualidade dos transportes públicos, a poluição sonora, o mau comportamento das pessoas, achamos que tudo isso é coisa destes tempos... Enfim, lendo as crônicas de Urbano, publicadas de 1927 a 1928 no jornal paulistano Diário Nacional, parece que, se o cenário da Pauliceia mudou muito em cem anos, muitos problemas continuam ampliados ou com acréscimo de outros.

Urbano estreou a coluna em 14 de julho de 1927, com uma constatação verdadeira: “A cousa complicada que é uma cidade qualquer!” E outra, falsa. “A cousa complicadíssima que é uma grande cidade moderna!” Bom, na Antiguidade (II d. C.), Roma já era uma cidade complicadíssima com uma população surpreendente para época: um milhão de habitantes, enquanto São Paulo em 1930 tinha novecentos mil moradores. E Urbano, com bom humor, vai dando ao leitor uma visão muito pessoal de São Paulo na década de vinte, quando circulavam pelas ruas estreitas bondes, ônibus, táxis e, naturalmente, os pedestres. Frequentemente em completa desavença. Eventualmente, ele respondia às cartas de leitores (verdadeiros ou não). “Bem-aventurados os que reclamam porque... Porque fornecem ao cronista entediado, nesses dias mornos de noroeste e bocejos, o assunto, o bendito assunto que a imaginação avara lhe recusa.”

Indignado, ele fala dos cavalheiros que se atrevem a andar pelas calçadas carregando grandes volumes, o que é um problema “porque transitar em S. Paulo, por essas ruas de estreitos passeios e largo movimento, é, hoje em dia, uma verdadeira corrida de obstáculos.” E Urbano não podia imaginar que a situação iria piorar muito.

Um leitor ruim de gramática se queixa do abandono de ruas do Bom Retiro “todas edificadas de um lado aoutro a mais de 40 anos e até hoje abandonadas”. O tal “leitor assíduo”, como assina a missiva, termina com um “Grátis pela publicação”. Outros reclamam contra um ladrão contumaz nas alamedas ao longo da avenida Paulista. Urbano chama o gatuno de ladrão unilateral porque só rouba galinhas e estas, segundo o cronista, já conhecem o gatuno porque não fazem barulho, não reagem e (e aqui Urbano erra feio) não mordem (galinhas bicam, Urbano).

No dia 11 de agosto de 1927, uma deliciosa crônica sobre o primeiro centenário da Faculdade de Direito. “Uma vez... (a dolorosa delícia de lembrar!) uma vez em 1911, o Teatro São José (...) foi alvo da estudantada solta”. Urbano formou-se no Largo de São Francisco e em 1927, esse teatro já não existia...  

E assim, folheando as páginas do livro, vou encontrando referências aos vândalos que destruíam os lampiões de gás, à má sinalização das ruas; ao barulho ensurdecedor das Klaxon (marca da buzina) acionadas por qualquer banalidade, por deliciosas descrições dos passageiros de bondes e ônibus em que Urbano transitava pela cidade...

Quem foi esse Urbano que encanta e diverte até hoje com suas crônicas sobre São Paulo? Urbano era o pseudônimo do poeta, advogado e jornalista Guilherme de Almeida (1890-1969), um dos organizadores da Semana de Arte Moderna (1922). “Pela Cidade”, edição preparada por Frederico Ozanam Pessoa de Barros (Editora Martins Fontes, 2004), reúne as crônicas de Guilherme de Almeida publicadas no Diário Nacional e “Meu Roteiro Sentimental da Cidade de São Paulo”. Graças a ele percorri a cidade antiga durante o período de isolamento da pandemia em 2020.

Escritório de Guilherme de Almeida (Casa GUILHERME DE ALMEIDA). Foto: 2019.

CASA GUILHERME DE ALMEIDA: Rua Macapá, 187, Sumaré.

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

A MORTE DOS POBRES

Os cabelos desgrenhados e a barba longa, sujos como as roupas, mal deixam ver o rosto inchado e os olhos vermelhos. Difícil avaliar a idade dele. Vinte ou sessenta anos. Ele é alcoólatra. Vive na rua. Provavelmente, nas imediações. Por aqui apareceu após a pandemia e se instalou na calçada do outro lado da padaria, pois em frente à casa de pães há carros de clientes o dia todo, mas às vezes Robertão (hoje soube o nome dele) se instala junto ao muro da casa vizinha. Quando passo de vez em quando o ouço resmungar; mas já o vi zangado com brincadeiras sem graça de algumas pessoas. Não incomoda ninguém – nem pedestres ou clientes do estabelecimento. Não pede coisa alguma. Nem precisa porque a padaria lhe fornece o café da manhã e o almoço. Hoje me lembrei de perguntar se a padaria tem um programa de atendimento aos necessitados e fui informada de que, embora não tenha, sempre que alguém pede é atendido. Robertão é o único “cliente” fixo.

    Escrevi esta crônica no último dia 15 de outubro, mas não publiquei. No início deste mês Robertão morreu junto à porta da igreja do bairro, provavelmente no meio da noite chuvosa. Sozinho. Lembrei-me dele ao ler este soneto de Charles Baudelaire (1821-1867).


A MORTE DOS POBRES

 

Vivemos pela Morte e só ela é que afaga;

E a única esperança e o mais alto prazer,

Que como um elixir nos transporta e embriaga,

E nos faz caminhar até o anoitecer.

 

E, através da tormenta e da neve e da vaga,

É o vibrante clarão de nosso obscuro ser,

Albergue inscrito em livro e que nunca se apaga,

Feito para jantar e para adormecer.

 

É um anjo que segura em seus dedos magnéticos

O sono e mais o dom dos êxtases mais poéticos,

 Que sempre arruma o leito aos pobres, como aos rotos;

 

Ela é a gloria de deus e a bolsa do mendigo,

É o místico celeiro e mais o lar antigo,

Pórtico que se abriu para os céus mais ignotos. 



CHARLES BAUDELAIRE – “FLORES DO MAL”. Tradução de Pietro Nassetti. Editora Martin Claret.


Obra do pintor mexicano Francisco Goitia (1882-1960).



sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

NOITE AZUL DE ORESTES BARBOSA

Nesta seleção de músicas brasileiras com tema natalino, a presença do jornalista e compositor carioca Orestes Barbosa (1893-1966). É dele esta linda “Noite Azul” (Dicionário Cravo Albin e Sociedade Brasileira de Autores Compositores Escritores Música).

https://www.youtube.com/watch?v=vmMx4HSwxWU




quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

"BOAS FESTAS" DE ASSIS VALENTE

“Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel” e “felicidade fosse um brinquedo de papel”. Entre tantas músicas natalinas brasileiras, sem dúvida, Assis Valente foi quem conseguiu expressar o lado realista dessa festa de família que se transformou em evento comercial: É assim que ele nos deseja “Boas Festas”, convidando à reflexão.

       O compositor baiano José de ASSIS VALENTE (1911-1958) teve uma vida perturbadora desde a infância, o que o levou várias vezes ao limite até que em 1958 terminou tragicamente num banco de jardim na praia do Russel (Rio de Janeiro). Dívidas levaram-no ao suicídio pouco antes de completar 47 anos. Assis Valente foi um compositor de grande sucesso – entre 1933 e 1940 teve 25 sambas e marchas de sua autoria gravados por Carmen Miranda. Uma delas foi “Camisa listrada”.




BOAS FESTAS

Anoiteceu
O sino gemeu
E a gente ficou
Feliz a rezar

Papai Noel
Vê se você tem
A felicidade
Pra você me dar

Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
Bem assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel

Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem.





terça-feira, 20 de dezembro de 2022

MÚSICA DE NATAL: Händel


Esta música é do compositor alemão naturalizado britânico Georg Friedrich Händel (1685-1759) e o escritor inglês Isaac Watts (1674-1748) colocou a letra, baseada no salmo 98 da Bíblia. A canção “Joy to the world” foi publicada em 1719. Interpretação: John Rutter and the Cambridge Singers.




domingo, 18 de dezembro de 2022

NATAL: UMA SEMANA COM MÚSICA.

Estamos em plena época das festas natalinas e toda festa tem que ter música. Comecemos com “Deck the Hall with Boughs of Holly”*, uma canção de natal britânica tradicional. A melodia é de um cântico galês do século XVI e faz parte de uma canção de inverno. A letra em inglês foi escrita em 1862 por Thomas Oliphant, músico escocês. 



   



CARTÃO DE NATAL DE LUIZ GONZAGA

A contribuição de Luiz Gonzaga (1912-1989) para a música popular brasileira é inestimável. Em 1947 gravou “Asa Branca”, uma das belas músicas do cancioneiro nacional. A composição dele em parceria com Humberto Teixeira (1915-1979) ainda é uma das mais tocadas nas festas juninas. Menos conhecida é “Cartão de Natal”, música que ele gravou em 1954. 



Ouvindo os sinos de DeusRepicando na matrizPara você e os seusPeço um Natal bem feliz
Blem-blemBlem-blemBlem-blem
Um ano novo afortunadoVenturoso e abençoadoTão ditosa oração no alémSeja ouvida por DeusE que os anjos digam: Amém
Blem-blemBlem-blemBlem-blem
https://www.youtube.com/watch?v=mLzlLRnRsus 




sábado, 17 de dezembro de 2022

NATAL NO LARGO DE S. FRANCISCO

O CONCERTO DE NATAL, no Largo de São Francisco no início da noite de sexta-feira, 16, pode não ter sido um êxito de público  compreensível dadas as condições do Centro Histórico, mas a pequena plateia apreciou cada minuto do espetáculo proporcionado pelos corais USP XI de Agosto e 12 em Ponto da sacada da Sala São Leopoldo da Faculdade de Direito, sob a regência do maestro Eduardo Fernandes. O público foi chegando aos poucos. Pessoas de todas as idades: lá estavam o casal de namorados, o ciclista, o morador de rua descalço, o guarda municipal de olho no ambiente e ouvido atento à música, um tímido Papai Noel, o garoto indiscreto em sua nudez olhando sobre o ombro da mocinha distraída aos seus pés; nos pontos de ônibus, passageiros à espera do coletivo e, num desses acasos da vida, até o ônibus 5362-10, enfeitado para a época, estava lá. O evento foi parte deda programação de final de ano em conjunto com a prefeitura de São Paulo e que se estenderá até o dia 23 próximo em diversos lugares do Centro Histórico.













sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

A PRAÇA NÃO É A MESMA

Fiquei em dúvida: anexarei à série sobre bancos de jardim “A Praça”, composição de Carlos Imperial (1935-1992), gravada por Ronnie Von (1944), e que fez um grande sucesso no final da década de 1960? Não nego que fui admiradora de Ronnie, o mais bonito e elegante de todos os rapazes da Jovem Guarda, com cabelos maravilhosos, sempre brilhando... Os versos dessa praça são até bobos – para começar nada é igual – a primeira mudança já ocorreu com o narrador; passarinho tristonho só em desenho do Disney e assim ia a historinha marchando pelos nossos ouvidos juvenis... Não vou negar o passado, sim, gostava da música e do cantor e preferia o príncipe ao rei..

“Hoje eu acordei com saudades de você
Beijei aquela foto que você me ofertou
Sentei naquele banco da pracinha só porque
Foi lá que começou o nosso amor
Senti que os passarinhos todos me reconheceram
E eles entenderam toda a minha solidão
Ficaram tão tristonhos e até emudeceram
E então eu fiz esta canção

A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores e o mesmo jardim...”




https://www.youtube.com/watch?v=m8HUUSI2jiU

Jardim Botânico de São Paulo, 2016.


quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

BANCOS DE JARDIM

Entardecer no Memorial da América Latina, Barra Funda, São Paulo, 2022.

Bancos de praças e jardins são um convite que as cidades fazem aos pedestres cansados, românticos, preocupados, desiludidos, solitários ou a leitores em busca de sossego. Acolhem os sem eira nem beira à espera de nada ou de que alguém os veja por um breve momento e deles se lembre em algum momento. Bom mesmo é um banco sob uma árvore que o cobre com sua sombra e, se tem flores, o enfeita com as pétalas que o vento sopra delicadamente sobre ele, espalhando seu perfume, frequentemente roubado pela poluição urbana. Não sei se namorados ainda buscam bancos para cochichar seus sentimentos. Os amantes modernos expõem sua paixão em qualquer lugar... Não há tempo para achar um banco, ainda mais cheirando a jasmim. Cada vez mais os bancos são rodeados de concreto árido, abrasador sob o sol e que, talvez, os enamorados atribuam à ardência de seus sentimentos.  E assim o banco vai se tornando apenas um enfeite. Um urbanista já disse que mal colocados são ignorados pela população e o jeito é seduzir as pessoas, atraí-las com uma isca – como a estátua de alguém famoso. Funciona? Não sei, mas com certeza o pedestre fará uma parada rápida para uma foto e seguir seu caminho.

            Não sou romântica, mas gosto de ver bancos de jardins porque me parecem guardar alguma história palpitante que alguém rememorou ali sentado. Acho triste ver um banco vazio, mais desolador é o aspecto dos novos equipamentos que se espalham por aí – bancos de concreto e sem encosto, nada apetecíveis. Como sou arredia a contatos com estranhos, não sou usuária dos bancos de jardim, mas já tive uma ou duas experiências interessantes, uma delas no Jardim da Luz em Sampa, um espaço povoado por pessoas cheias de histórias.



https://www.youtube.com/watch?v=A4fXdE4KSQM

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

DRUMMOND E O BANCO DE JARDIM

 

Parque Villa-Lobos, 2011.

Hoje, o banco é do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

No banco de jardim,

o tempo se desfaz

e resta entre ruídos

a corola de paz.

 

No banco de jardim,

a sombra se adelgaça

e entre besouro e concha

de segredo, o anjo passa.

 

No banco de jardim,

o cosmo se resume

em serena parábola,

impressentido lume.

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

UM BANCO PARA MEDITAR...

 Parque da Aclimação, 2021.

"Sou um homem quieto, o que eu gosto é ficar num banco sentado, entre moitas, calado, anoitecendo devagar, meio triste, lembrando umas coisas, umas coisas que nem valiam a pena lembrar."

RUBEM BRAGA: Um Cartão de Paris, 1997.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

UM BANCO À SOMBRA DO ARVOREDO




Praga, República Checa, 2008. Foto: Hilda Araújo.


Passa entre as sombras de arvoredo

Passa entre as sombras de arvoredo

Um vago vento que parece

Que não passou, que passa a medo,

Ou que há porque desaparece.

 

O ouvido escuta o não-ouvir,

A alma, no ouvido debruçada,

Sente uma angústia a não sentir

E quer melhor ou pior que nada.

 

É como quando a alma não tem

Quem ame, quem espere ou quem sinta,

Quando considera(ra) um bem

O próprio mal, des[de] que não minta.

 

E entre onde as sombras do arvoredo

Sequestram sons e brisas prendem,

Este não passar passa a medo

E certas folhas se desprendem.

 

Então porque há folhas que caem,

Volta a ilusão de haver o vento,

Mas elas, caindo hirtas, traem,

Que não há brisa no momento.

 

Oh, som sozinho dessa queda

Das folhas secas no ermo chão,

Oh, som de nunca usada seda

Apertada na inútil mão,

 

Com que terrível semelhança

A qualquer voz feita em bruxedo,

Lembrais a morte e a desesperança,

E o que não passa passa a medo.

18-10-1930

Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. Rio de Janeiro, RJ, Editora Nova Aguilar, 1933).

domingo, 11 de dezembro de 2022

DIA INTERNACIONAL DO TANGO


No dia 11 de dezembro de 1890, nasceu Carlos Gardel. Difícil mesmo é garantir o local: França, Argentina ou Uruguai, mas pouco importa onde ele nasceu, importante mesmo foi a sua contribuição artística para a música portenha – 87 anos após a morte em um acidente de avião em Medellin (Colômbia) ainda tem fãs pelo mundo todo. Nada mais justo que a data do seu nascimento tenha sido escolhida para ser o Dia Internacional do Tango, mas homenageia também o compositor de tango e maestro argentino Julio de Caro, que nasceu nesse mesmo dia nove anos depois.  

Achei este vídeo, provavelmente, cena de um dos filmes protagonizados por Gardel, que infelizmente, não consegui identificar. Há um link para ouvir Caminito com o tenor espanhol Plácido Domingo (1941).

https://www.youtube.com/watch?v=piifVz-OhmA




sábado, 10 de dezembro de 2022

NOITE DE TANGO

Convite de Omar Forte.

Muitas emoções na véspera do DIA MUNDIAL DO TANGO, neste sábado, dia 10 de dezembro!  Venham desfrutar e virar a noite comemorando o Dia Mundial do Tango – TANGO B’AIRES – nesta milonga GRATUITA especial, organizada por Omar Forte, com o apoio do Consulado Argentino.

Rua Amâncio de Carvalho, 23, 1º andar – Vila Mariana.






domingo, 4 de dezembro de 2022

AH! ESSAS CRIANÇAS!


Sexta-feira (2), início da noite, na rua perto de casa, mãe e filho subiam vagarosamente as escadarias da praça à minha frente. Conversavam num tom de voz educado. Não prestei atenção ao que ela dizia, mas o assunto devia ser o jogo porque então o menino, que vestia a camiseta da seleção, comentou singelamente: “Antigamente, o futebol era diferente.” Não pude deixar de sorrir. Antigamente? Pensei com meus botões o que saberia ele sobre “antigamente”? Naquela etapa inicial da vida, provavelmente semana passada... 

Escadarias para o Paraíso. Ao fundo o prédio da UNIP na rua Vergueiro.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

LEMBRANÇAS

 

Lembranças. Comecei a trabalhar em São Paulo no final da década de 1970, mas ainda morava em Santos. Subia e descia a serra todos os dias de ônibus. No trabalho, havia carro para o transporte dos jornalistas, o que era fundamental para quem como eu não conhecia a cidade que me parecia muito normal. Até o primeiro final de ano. Dezembro. Não lembro de detalhes. Um dia de meio expediente. Sábado? Sei lá. Fui fazer uma entrevista com um médico em um hospital e, na saída, pretendia pegar um táxi até a estação São Bento (a da Sé foi inaugurada em 1978), mas desaconselharam: o ônibus para o Parque D. Pedro seria mais rápido e passava em frente ao hospital. O terminal D. Pedro era um caos e lá pedi informações que me levaram à rua General Carneiro, onde me deparei com uma cena de tirar o fôlego, inesquecível pelo impacto que me causou. Ali, no início da ladeira eu vi uma multidão compacta descendo em direção minha direção. Na verdade, em direção ao terminal de ônibus. Não havia espaço entre as pessoas. Fiquei parada, observando e pensando como eu, simples mortal, faria para transpor aquele mar de gente... Naquele momento, percebi que eu estava em uma cidade em que as proporções escapavam à percepção da “estrangeira”. Ontem, 1º de dezembro, passando pelo viaduto da rua Boa Vista sobre a rua General Carneiro praticamente vazia, lembrei-me daquele dia que se perdeu no tempo. Ao meu lado uma senhora pedia informações a um homem para ir até a Vinte e Cinco de Março; ele se ofereceu para acompanhá-la e eu segui meu caminho.



quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

IDOSOS EM ATIVIDADE

Saçaricando
Todo mundo leva a vida no arame.
Saçaricando
O brotinho, a viúva e a madame
O velho, na porta da Colombo,
É um assombro
saçaricando.

Quem não tem seu saçarico
Saçarica mesmo só
Porque sem saçaricar
Essa vida é um nó

A pandemia pegou todo mundo de surpresa e aqueles idosos que costumam ter agenda cheia tiveram que fazer uma pausa para garantir a boa saúde. Este ano, quando o Coronavírus e seus variantes pareciam estar quase abatidos, ousamos retomar um pouco da vida social; entretanto, novas ameaças pairam no ar neste final de 2022. Reuni nesta página algumas fotos de senhores e senhoras tiradas ao longo dos anos em vários locais por onde passei. Não conheço nenhum deles e também não encontrei ninguém saçaricando em frente à Confeitaria Colombo no Rio de Janeiro, o que foi uma pena.

Jardim Botânico de Glasgow, Escócia, 2015.

Grupo de idosos em visitaa o Jockey Club de São Paulo, 2019.


Paris: festa  dos 70 anos do final da II Guerra na Europa.                                                                       Idosos tocam no Metrô de S. Paulo.


Hora de ver estrelas no CIEN TEC/USP.

Idoso do mês.




quarta-feira, 30 de novembro de 2022

SAPATOS ME PERSEGUEM

 

E lá estavam eles à beira da calçada. Furtados? Abandonados? Esquecidos? Alguns meses atrás encontrei um par de sapatos femininos novos numa calçada do Cambuci; hoje estes tênis (?) masculinos (unissex?) na Aclimação. Estranho... Pensando no assunto (sem coisa melhor para fazer no caminho), como estavam junto à traseira de um veículo, talvez o dono tenha esvaziado o porta-malas e esquecido os sapatos na calçada... Quem sabe? Encontrar duas vezes sapatos quase novos abandonados no caminho me fez pensar em algum tipo de brincadeira para ver a reação das pessoas diante do achado. Aclimação e Cambuci são bairros vizinhos, as ruas em que estavam, residenciais e de pouco movimento... Enfim, pode ter sido apenas esquecimento mesmo.


terça-feira, 29 de novembro de 2022

MÁRIO E SÉRGIO, OBRIGADA.

 

Eu ia saindo do prédio e ela, passando. Cumprimentei porque não me era estranha. Atravessei a rua, segui meu caminho e eis que a reencontro na padaria. Ela sorri, comenta sobre as delícias espalhadas pelo balcão. Não resisto. “Eu a conheço de algum lugar, mas não consigo localizar.” Provavelmente, da biblioteca, diz ela. Claro! Bibliotecária da Mário de Andrade.

Esse encontro casual me faz lembrar que faz 40 anos que frequento a Biblioteca Circulante da Mário de Andrade. Assim que mudei para São Paulo em 1982 me inscrevi. Era na Praça Roosevelt em um prédio estranho em que havia uma loja Pão de Açúcar, uma escola infantil e a biblioteca. Em frente do famoso Cine Biju. Fiquei deslumbrada com a quantidade de livros maravilhosos e a cada quinze dias ia até lá escolher uma preciosidade. Aos sábados porque aproveitava para comer um doce na feira da Praça da República. Numa das salas ficavam os arquivos de aço, com as fichas datilografadas que o leitor consultava por assunto para localizar o livro desejado.

Alguns anos depois o prédio se deteriorou, chovia mais dentro do que fora. A biblioteca mudou para o casarão da Chácara Lane (rua da Consolação, 1024) e alguns anos depois foi para a rua Frei Caneca, Cerqueira César. Por uma série de fatores esse foi o único período em que não frequentei a circulante. Voltei quando terminou o restauro da Biblioteca Mário de Andrade (Rua da Consolação, 94) e a circulante foi para lá. Desde então é possível consultar obras raras, visitar a sala dedicada a São Paulo e ver exposições. Jornais e revistas antigos? Logo ali do outro lado do jardim, na rua Dr. Bráulio Gomes, 139.

Frequento também a Biblioteca Sérgio Milliet no Centro Cultural São Paulo (rua Vergueiro, 1000), a minha preferida durante a pandemia porque posso ir a pé e não precisava agendamento para retirar os livros. O problema do agendamento, na BMA pelo famoso telefone 156, era o “sistema”, que não reconhecia senha, demorava horas para se conseguir entrar na página e precisava ir de metrô...

Para se inscrever na Biblioteca Circulante é preciso apresentar RG e um comprovante de residência no município de São Paulo. A inscrição vale para todas bibliotecas públicas  municipais circulantes.

Fotos da Biblioteca Sérgio Milliet durante a pandemia (2020) quando os leitores faziam os pedidos e os livros eram entregues na entrada porque não era permitido circular pelas dependências da instituição.



https://www.prefeitura.sp.gov.br/.../secreta.../cultura/bma/