Foi por causa da reportagem aqui
transcrita que me interessei pela dança de salão. No início, mais ou menos como o personagem do maravilhoso filme de Masayuki Suo – bem
canhestra, mas depois melhorei. Pelo menos nunca levei um tombo.
DOIS PRÁ LÁ, DOIS PRÁ CÁ. COMEÇAM OS TROPEÇÕES.
O pessoal do Centro Acadêmico “Visconde de Cairu” decidiu
mostrar que na Faculdade de Economia e Administração – FEA pode-se trabalhar
com números de forma bem mais agradável do que a maioria das pessoas imagina. Às
quartas-feiras, na hora do almoço, é possível descobrir como funcionam os
números agrupados em porções iguais de tempo, encadeados harmonicamente e com
variada marcação. Tranquilize-se. Não se trata de uma nova tese de economia
heterodoxa, mas uma simples e muito agradável aula de dança de salão.
Quem acha que os jovens de hoje não
estão interessados no cheek to cheek, engana-se. A primeira aula foi um
sucesso. Cerca de 30 pessoas apareceram. A maioria dos interessados era
mulheres, por isso os rapazes que foram só dar uma espiadinha acabaram entrando
na dança, ou melhor, na aula, sabendo ou não dançar.
Mas não é apenas na FEA que
o pessoal resolveu dançar: a moda começou na Associação de Moradores do Crusp
durante as férias e o Centrinho da Engenharia Naval também abriu suas portas
aos dançarinos em potencial. Tudo começou com José Roberto Mendonza Correia,
aluno da USP, que trancou matrícula no 3º ano da Engenharia Naval depois que
descobriu que a sua vocação era mesmo a Informática. Excelente bailarino,
Mendonza já vinha trabalhando com dança há um ano e resolveu oferecer os seus
serviços na USP, enquanto se preparava para mudar de área.
Não se arrependeu. A ideia agradou em cheio a diretoria dos
dois Centros acadêmicos, que viram no curso a oportunidade de promover uma
aproximação maior entre os alunos das diferentes unidades da USP, como explicam
o tesoureiro do Centro da Naval, e o coordenador cultural do Centro da FEA.
Eles também acertaram: entre os inscritos, gente de todas as áreas de
conhecimento da universidade.
O BAILE – Alunos de José Roberto não aprendem
apenas a dançar. Ele faz questão que todos aprendam etiqueta: ensina o modo
adequado de se “tirar” a dama para dançar (mesmo acompanhada), com uma ligeira
inclinação do corpo, mostra a postura correta e avisa que a moça deve ser
reconduzida ao local em que se encontrava. Não se pode jamais abandoná-la no meio
da pista.
José Roberto avisa que não quer pares
fixos para evitar que as pessoas adquiram manias e possam aprender a se
movimentar de acordo com as características de cada parceiro. Outra coisa que
ele não gosta é de pares do mesmo sexo. “Na dança os papéis são bem definidos:
o homem conduz e a mulher o segue. É melhor começar aprendendo corretamente.”
Dadas as explicações básicas
sobre a postura e os movimentos, o grupo vai pondo em prática, em meio a muitas
risadas (inclusive da plateia que não se habilita), os ensinamentos recebidos.
Na primeira lição, uma marcha. A escolha é muito simples, com ritmo binário, em
que os tempos fortes são bem acentuados e que lembra a cadência do passo.
O resultado é hilariante:
pisadas, tropeções, atropelamentos e, repentinamente, todos os pares estão
amontoados. Ninguém nasceu sabendo. O professor vai orientando e consertando os
erros, com calma. A plateia também incentiva. Para o merengue é preciso
rebolar. Mas antes que os rapazes reclamem, Mendonza avisa que todo latino
rebola, só brasileiro tem preconceitos e mostra como ter um gingado discreto,
com um mero dobrar de joelhos, mantendo fixos o tronco e o pé no chão.
OS PÉS DE VALSA – Por enquanto, nem Fred
Astaire nem Ginger Rogers (se fossem vivos) se sentiriam ameaçados. Mas a
verdade é que no final da aula, percebe-se claramente o progresso dos alunos:
já não parecem tão duros, os passos já não são muito desajeitados e procuram
corrigir os erros apontados. Paulo confessa que adora dançar e achei ótima a
oportunidade de aprender e foi um dos mais empenhados na primeira aula. Ana não
teve dúvida: na hora do almoço foi até o Centro aprender “a dançar de tudo”.
Ana acredita que quem não sabe dançar deixa de participar de muita coisa na
vida. Cláudio foi espiar a aula e acabou convocado para ser par de alguém,
gostou e resolver se inscrever. Bernardo acha que dançar é importante não
apenas como divertimento, mas pela possibilidade de conhecer novas pessoas. “O
professor normalmente privilegia o intelectual, o racional e agora com a dança
eu procuro valorizar o corpo, soltar a emoção” – diz Donizete, professor de
Filosofia.
Wilson, professor de alemão,
não esconde a satisfação de poder realizar o velho sonho de aprender a dançar.
Esforçado, ele se movimenta com desenvoltura pelo salão: “o ambiente é ótimo,
faz muito bem para o corpo e para o espírito. Graça, mora perto, e quando soube
do curso, se inscreveu. “Adoro dançar. É um exercício agradável e melhor do que
ginástica, pois não é repetitivo e ainda mexe com as emoções”.
PRIMEIROS PASSOS – Os dançarinos devem se colocar frente à
frente, naturalmente, cabeça e ombros erguidos. A mão direita do rapaz deve
ficar no meio das costas da moça, que por sua vez pousa a mão direita no ombro
do parceiro. Ele espalma a mão esquerda, levantada, à altura do ombro para que
ela a segure (erguer o dedinho, nem pensar). Os pés dos dois bailarinos,
ligeiramente afastados, devem se encaixar de forma que ambos se movimentem sem
problemas. Espiar os pés é proibido.
Toda comunicação entre os
parceiros é feita silenciosamente, através dos movimentos corporais: o aperto
de mão pode indicar uma trombada iminente; a mão nas costas sugere a direção
para a dama. Simples, não? Difícil é fazer tudo isso de forma coordenada, com
elegância, sem perder o ritmo e por isso a primeira aula acaba sendo tão
divertida para os participantes quanto para os inevitáveis bicões, que
aparecem para dar “aquela força para a moçada”.
Dançar permite um relacionamento social
menos formal, ajuda a combater a timidez e cultiva o lado emocional das
pessoas” – afirma Mendonza. (HPPA)
(Síntese do original de Hilda Prado,
publicado no Jornal da USP – ANO V – n.º 168)