Fazer
títulos é uma arte. Hoje não tenho ideia de como funcionam os jornais e nem
tenho curiosidade. Nas redações do século passado, a divisão de trabalho livrava
os repórteres de criar um título para suas matérias. Podiam, naturalmente,
sugerir, mas quase nunca se sabia o espaço que o editor ou a diagramação destinavam
à sua obra. Cabia aos copidesques a ingrata tarefa; felizmente, havia alguns
que dominavam a arte ou desafio, porque os títulos são criados por número de
toques da máquina de escrever ou do teclado do computador.
Ao
folhear um livro sobre literatura, fiquei surpresa ao saber que grandes
escritores também padeceram para fazer os títulos de seus livros e chegavam mesmo
a pegar “emprestado” ideias alheias. O autor cita Ernest Hemingway (1899-1961): “Adeus
às Armas” ele achou em um poema de George Peele (1556-1596) e “Por quem os nos
dobram” veio do poeta e pregador inglês John Donne (1572-1631). O título do seu
último livro, publicado postumamente, foi dado pela viúva que o tirou de uma
carta que Hemingway escrevera a um amigo em 1950 sobre a capital francesa,
concluindo que “Paris é uma festa”.
Scott
Fitzgerald, todo feliz, entregou ao editor seu novo livro intitulado “Trimalchio
in West Egg”; mas o entusiasmo durou pouco, pois felizmente o título foi
vetado, porque Trimalchio (personagem de Satíricon) seria
impronunciável em inglês. O editor propôs “O Grande Gatsby”, que Fitzgerald teria
aceitado a contragosto.
Títulos
são fundamentais em uma obra porque das prateleiras das livrarias ou
bibliotecas podem atrair um leitor distraído à primeira vista. Confesso que não
sentiria nenhum interesse em um livro denominado Trimalchio. Ao
contrário do que aconteceu com “Os Sete Pilares da Sabedoria”. Graças ao título
conheci uma das personalidades mais fascinantes do século XX, T. E. Lawrence
(1888-1935), Lawrence da Arábia. Ah! “Cem anos de Solidão”, de Gabriel Garcia
Marques (1927-2014), é um título maravilhoso para uma obra extraordinária,
aliás, todos os livros dele têm títulos ótimos.
Na literatura brasileira: “Amar, verbo
intransitivo” e “Pauliceia Desvairada”, de Mário de Andrade, são os meus
preferidos. “Gabriela, cravo e canela”, de Jorge Amado (1912-2001), é outro
título que me agrada muito. Aliás, por falar em se inspirar em outros livros
para criar títulos, por aqui, temos de Érico Veríssimo (1905-1975) “Olhai os lírios
dos campos”, que vem diretamente da Bíblia: Mateus 6:25-34. Um livro que li e
reli na juventude. E para terminar, “Meu destino é pecar”, um título simples, porém
atrativo, do livro assinado por Suzana Flag, pseudônimo do polêmico Nelson
Rodrigues (1912-1980).
Embora não seja, exatamente, uma obra literária
“(...) Nenhum título foi tão celebrado quanto este ‘Brasil, um país do futuro’.
Transformou-se em cognome, sobrenome, estigma e vaticínio. País-promessa, terra
do nunca, nação do amanhã – a expressão pode ser entendida em todos os sentidos”
– segundo Alberto Dines no prefácio (L&PM Pocket, 2006). O autor é Stefan
Zweig (1881-1942) que, perseguido pelo nazismo, foi acolhido pelo Brasil em
1941 durante a II Guerra Mundial (1939-1945).
Nenhum comentário:
Postar um comentário