segunda-feira, 17 de outubro de 2022

A ARTE DE FAZER TÍTULOS

 

Fazer títulos é uma arte. Hoje não tenho ideia de como funcionam os jornais e nem tenho curiosidade. Nas redações do século passado, a divisão de trabalho livrava os repórteres de criar um título para suas matérias. Podiam, naturalmente, sugerir, mas quase nunca se sabia o espaço que o editor ou a diagramação destinavam à sua obra. Cabia aos copidesques a ingrata tarefa; felizmente, havia alguns que dominavam a arte ou desafio, porque os títulos são criados por número de toques da máquina de escrever ou do teclado do computador.

Ao folhear um livro sobre literatura, fiquei surpresa ao saber que grandes escritores também padeceram para fazer os títulos de seus livros e chegavam mesmo a pegar “emprestado” ideias alheias. O autor cita Ernest Hemingway (1899-1961): “Adeus às Armas” ele achou em um poema de George Peele (1556-1596) e “Por quem os nos dobram” veio do poeta e pregador inglês John Donne (1572-1631). O título do seu último livro, publicado postumamente, foi dado pela viúva que o tirou de uma carta que Hemingway escrevera a um amigo em 1950 sobre a capital francesa, concluindo que “Paris é uma festa”.

Scott Fitzgerald, todo feliz, entregou ao editor seu novo livro intitulado “Trimalchio in West Egg”; mas o entusiasmo durou pouco, pois felizmente o título foi vetado, porque Trimalchio (personagem de Satíricon) seria impronunciável em inglês. O editor propôs “O Grande Gatsby”, que Fitzgerald teria aceitado a contragosto.

Títulos são fundamentais em uma obra porque das prateleiras das livrarias ou bibliotecas podem atrair um leitor distraído à primeira vista. Confesso que não sentiria nenhum interesse em um livro denominado Trimalchio. Ao contrário do que aconteceu com “Os Sete Pilares da Sabedoria”. Graças ao título conheci uma das personalidades mais fascinantes do século XX, T. E. Lawrence (1888-1935), Lawrence da Arábia. Ah! “Cem anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marques (1927-2014), é um título maravilhoso para uma obra extraordinária, aliás, todos os livros dele têm títulos ótimos.

Na literatura brasileira: “Amar, verbo intransitivo” e “Pauliceia Desvairada”, de Mário de Andrade, são os meus preferidos. “Gabriela, cravo e canela”, de Jorge Amado (1912-2001), é outro título que me agrada muito. Aliás, por falar em se inspirar em outros livros para criar títulos, por aqui, temos de Érico Veríssimo (1905-1975) “Olhai os lírios dos campos”, que vem diretamente da Bíblia: Mateus 6:25-34. Um livro que li e reli na juventude. E para terminar, “Meu destino é pecar”, um título simples, porém atrativo, do livro assinado por Suzana Flag, pseudônimo do polêmico Nelson Rodrigues (1912-1980). 

         

Embora não seja, exatamente, uma obra literária “(...) Nenhum título foi tão celebrado quanto este ‘Brasil, um país do futuro’. Transformou-se em cognome, sobrenome, estigma e vaticínio. País-promessa, terra do nunca, nação do amanhã – a expressão pode ser entendida em todos os sentidos” – segundo Alberto Dines no prefácio (L&PM Pocket, 2006). O autor é Stefan Zweig (1881-1942) que, perseguido pelo nazismo, foi acolhido pelo Brasil em 1941 durante a II Guerra Mundial (1939-1945).

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