O coração de São Paulo é formado pelo conjunto de três Praças: Clóvis
Belilácqua (1859-1944), João Mendes de Almeida Jr. (1856-1923) e Sé, centro geográfico
de São Paulo.
Mas a praça é do povo, como se diz por aí. A idosa moradora de rua deve viver nas imediações da Praça João Mendes. Vejo-a raramente e está sempre limpa e arrumada. Ontem, foi dia de lavar roupas. Ignoro onde ela lava as roupas – não creio que seja na fonte da Sé, guardada por dezenas de policiais. Então, como sei que é o dia da lavagem? Simples: ela aproveita os dias ensolarados, abre um velho guarda-chuva e estende as poucas peças molhadas sobre ele; o que sobra ela pode sempre esticar sobre os elementos de proteção de pedestres junto ao meio-fio ou sobre a maleta onde, provavelmente, guarda todas as suas posses. (22/07/2024)
Outro
dia, outra senhora, não tão idosa como aquela – talvez estivesse na flor dos
seus 50 anos. O cenário é a mesma Praça João Mendes, onde ela está sentada no
chão e esfrega um lenço ora na testa, ora do nariz, enquanto conversa com um
grupo de policiais. Há manchas vermelhas no lenço branco. No ponto do ônibus,
tenho um olho na cena e outro na rua por onde o trólebus deve vir (ninguém sabe
quando). Tento imaginar o que aconteceu. (Nada jornalístico.) Ela só pode ter
caído, os policiais a atenderam e tentam animá-la enquanto aguardam a
emergência. Parece calma... Aí vejo um carrinho de compras de duas rodas
próximo à cena e imagino que ela se desequilibrou, apoiou-se no carrinho, que
seguiu seu rumo, abandonando-a à sua própria sorte! Decido que foi este o
acontecido, mas provavelmente não tenha sido nada disso. Fim do meu momento de
Mrs. Marple, pois o trólebus apareceu e eu embarquei – e foi de onde tirei a
foto.
É um
pouco difícil para o pedestre delimitar a praça Clóvis Beviláqua que, em
determinado ponto, se mistura com a rua Santa Teresa e ainda se estende após a
rua Anita Garibaldi. Tempos atrás no ônibus, um passageiro perguntou ao
cobrador se a Praça Clóvis Beviláqua estava no roteiro. O cobrador coçou a
cabeça, hesitou, repetiu o nome e resolvi interferir. “Passa, sim” – disse ao
senhor e ao cobrador (que está na linha há anos) expliquei que a Praça Clóvis
Beviláqua – era a famosa Praça Clóvis. Como a praça é do povo, o povo preferiu
abreviar o nome do jurista cearense, um dos responsáveis pela elaboração do
Código Civil brasileiro de 1909, e que há muito tempo se tornou íntimo da
população de São Paulo. Por ali vê-se de tudo. Como a rodinha animada de jogo em
torno de uma bancada tosca sob uma frondosa árvore; há também uma vendedora de cachaça que leva com outras bebidas num isopor.
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