No
início da década de 1980, o Largo Ana Rosa era bem diferente. Havia uma padaria
enorme na rua Domingos de Moraes, daquelas tradicionais. Foi lá que esta
santista descobriu que em São Paulo pedir uma média no balcão dos pães é um
erro imperdoável. Uma vizinha nordestina ia comprar frango vivo num
estabelecimento pequeno porque gostava de escolher a ave, que levava embrulhada
em jornal e segurava pelos pés. Nos anos 1980, a padaria deu lugar a uma loja
Pão de Açúcar que chegou a funcionar 24 horas. Para mim foi muito bom: saía do
metrô, fazia compras e descia para a Aclimação.
Nesses
anos todos, eu frequentei a loja, onde compro apenas alguns produtos específicos,
como frutas, por exemplo. Confesso que adoro supermercados, mas não sou a
consumidora do sonho de nenhum deles. Gosto de olhar as gôndolas, os produtos
novos, observar os clientes e dar palpites em coisas erradas. Durante a
pandemia, foram a minha principal distração.
Quantos
funcionários simpáticos e atenciosos do Pão de Açúcar me atenderam nesse
período! Como na vez em que esqueci a carteira no caixa e ao chegar em casa
recebi um telefonema do gerente me avisando da distração e se desculpando por ter
aberto a carteira, onde encontrara um cartão de visitas com meu número. Mais
recentemente, paguei no autoatendimento, fui embora sem retirar o cartão na
máquina e só no dia seguinte dei por falta dele. Quando cheguei à loja, nem
precisei abrir a boca: a funcionária foi me avisando: “A senhora deixou o
cartão na máquina. Eu chamei, mas a senhora não ouviu.”
No programa de emprego de pessoas especiais do PA que, me parece, funciona muito bem, há pelo menos dois funcionários nesta loja. Quando precisei de um produto light, pedi ajuda e um deles me atendeu, mas como havia diversas marcas fiquei em dúvida sobre qual escolher. Ele não hesitou em me indicar a que sempre usa por recomendação da irmã e, conversa vai conversa vem, disse que tinha 40 anos. Queixas? Tive algumas. O que mais me aborreceu? A encomenda de um purê de castanhas portuguesas, que coloquei na geladeira e quando retirei para consumo – imaginem! – tinha virado sopa!!!
Por
que estou escrevendo sobre isso? Depois de todos esses anos, a loja encerrará
suas atividades no próximo domingo por causa de um mega empreendimento
imobiliário que arrasou meio quarteirão da rua Rodrigues Alves e os dois
imóveis da esquina com a rua Domingos de Moraes. É verdade que o novo
condomínio incluirá o supermercado – e para isso o fechamento deve ter sido
resultado de uma longa negociação entre as partes, já que, desde a demolição
das casas vizinhas, se falava havia tempos que o supermercado ia fechar.
Soube que todos os funcionários serão remanejados para outras lojas da rede, mas nenhuma próxima de casa... Na verdade, nem posso reclamar porque meu bairro tem muitas opções – mercados, mercadinhos e supermercados, mas...
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