segunda-feira, 8 de julho de 2024

DESPEDIDA

 

No início da década de 1980, o Largo Ana Rosa era bem diferente. Havia uma padaria enorme na rua Domingos de Moraes, daquelas tradicionais. Foi lá que esta santista descobriu que em São Paulo pedir uma média no balcão dos pães é um erro imperdoável. Uma vizinha nordestina ia comprar frango vivo num estabelecimento pequeno porque gostava de escolher a ave, que levava embrulhada em jornal e segurava pelos pés. Nos anos 1980, a padaria deu lugar a uma loja Pão de Açúcar que chegou a funcionar 24 horas. Para mim foi muito bom: saía do metrô, fazia compras e descia para a Aclimação.

Nesses anos todos, eu frequentei a loja, onde compro apenas alguns produtos específicos, como frutas, por exemplo. Confesso que adoro supermercados, mas não sou a consumidora do sonho de nenhum deles. Gosto de olhar as gôndolas, os produtos novos, observar os clientes e dar palpites em coisas erradas. Durante a pandemia, foram a minha principal distração.

Quantos funcionários simpáticos e atenciosos do Pão de Açúcar me atenderam nesse período! Como na vez em que esqueci a carteira no caixa e ao chegar em casa recebi um telefonema do gerente me avisando da distração e se desculpando por ter aberto a carteira, onde encontrara um cartão de visitas com meu número. Mais recentemente, paguei no autoatendimento, fui embora sem retirar o cartão na máquina e só no dia seguinte dei por falta dele. Quando cheguei à loja, nem precisei abrir a boca: a funcionária foi me avisando: “A senhora deixou o cartão na máquina. Eu chamei, mas a senhora não ouviu.”   

No programa de emprego de pessoas especiais do PA que, me parece, funciona muito bem, há pelo menos dois funcionários nesta loja. Quando precisei de um produto light, pedi ajuda e um deles me atendeu, mas como havia diversas marcas fiquei em dúvida sobre qual escolher. Ele não hesitou em me indicar a que sempre usa por recomendação da irmã e, conversa vai conversa vem, disse que tinha 40 anos. Queixas? Tive algumas. O que mais me aborreceu? A encomenda de um purê de castanhas portuguesas, que coloquei na geladeira e quando retirei para consumo – imaginem! – tinha virado sopa!!!

Por que estou escrevendo sobre isso? Depois de todos esses anos, a loja encerrará suas atividades no próximo domingo por causa de um mega empreendimento imobiliário que arrasou meio quarteirão da rua Rodrigues Alves e os dois imóveis da esquina com a rua Domingos de Moraes. É verdade que o novo condomínio incluirá o supermercado – e para isso o fechamento deve ter sido resultado de uma longa negociação entre as partes, já que, desde a demolição das casas vizinhas, se falava havia tempos que o supermercado ia fechar.

Soube que todos os funcionários serão remanejados para outras lojas da rede, mas nenhuma próxima de casa... Na verdade, nem posso reclamar porque meu bairro tem muitas opções – mercados, mercadinhos e supermercados, mas...





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