terça-feira, 23 de julho de 2024

MALUQUICES JUVENIS

 

Frequentemente, vejo pessoas falando com orgulho do curso de datilografia que fizeram, da Escola Remington (creio que ficava na Praça Rui Barbosa, se não me falha a memória) e da velocidade com que escreviam à máquina. Meu caminho foi inverso. Eu devia ter uns 15 ou 16 anos, quando ganhei uma Lettera 22 e umas explicações básicas sobre o funcionamento dela – o uso do teclado e a troca de fita. Deve ter sido por volta de 1963, quando ganhei um ano sabático, ou seja, fiquei sem ir à escola, mas aproveitei o tempo para ler tudo a que tinha direito e treinar datilografia. Um dos livros foi “Os Sertões”, um desafio tremendo, que enfrentei com a ajuda do dicionário, enorme, de capa azul, que havia ganhado quando entrei no ginásio. Confesso que não me lembro como resolvi o problema de ler, consultar o dicionário e datilografar as palavras pesquisadas naqueles papeizinhos. É um livro muito difícil, com um vocabulário riquíssimo, porém muito específico, pois Euclides da Cunha não se limitou a escrever sobre a história de Canudos e Antônio Conselheiro; ele situou e analisou os acontecimentos de uma forma bem ambiciosa.

Acho que essa foi a única vez em que fiz uma leitura tão organizada. Até hoje uso dicionário e faço anotações, mas à mão em papéis que parecem ter vida própria: desaparecem para reaparecer nos lugares estranhos. O aprendizado da técnica de datilografar fez falta, mas passei a vida escrevendo à máquina sem usar todos os dedos; a velocidade veio com a prática. A era digital não acabou com a datilografia, que continua sendo uma necessidade, com a vantagem de que com o computador / notebook não precisarmos mais de um equipamento pesado, barulhento e que exigia o uso de papel carbono e a troca das fitas, nas horas mais problemáticas. Atualmente, vejo no metrô jovens digitando mensagens no celular apenas com os dois polegares e a uma velocidade espantosa!

Parece que as máquinas de escrever ainda têm um bom mercado. Na internet uma Lettera 22 italiana custa R$ 2.500,00, e uma igual à minha sai por R$ 750,00. O valor da fita vermelha e preta está em torno de R$ 38,00.

Contei ontem a história dessa leitura, porque achei que minhas maluquices começaram cedo; mas essa pelo menos superei logo.(Foto: Internet.)



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