segunda-feira, 15 de julho de 2024

ELE VESTIA AZUL

 

As calçadas, que já foram território seguro dos pedestres, hoje são terra de ninguém. Na soleira, antes de sair, olhe para os dois lados como se estivesse junto ao meio-fio. Nunca se sabe. Uma bicicleta apressada, um entregador de moto em busca de um endereço; ou um skatista esperto. Até um buraco novo, aberto pela chuva ou desgaste por uso indevido. Há, entretanto, outro tipo de perigo para os pedestres. Ontem pela manhã caminhava para a entrada da estação Ana Rosa, onde um rapaz consultava algo no celular. De repente, um ciclista, indo na mesma direção, quase esbarrou em mim, mas o que me surpreendeu mesmo foi a naturalidade com que ele tomou o celular da mão do rapaz, que ficou um segundo parado antes de correr em direção ao ladrão, que deixou a calçada e se perdeu em meio ao trânsito. A vítima logo desistiu da perseguição. Inútil de todo jeito. Andou em direção ao ponto do ônibus, e, desconsolado, apoiou a cabeça, numa mureta... Fiquei pensando no prejuízo e domingo perdido fazendo BO para se prevenir contra golpes, cancelar todos os apps que revelam sua vida... Descrição do ladrão de bicicleta? Eu não vi o rosto dele, assim como o rapaz porque o ciclista sequer diminuiu a marcha. O que eu lembro dele? Só que vestia azul.

"Roda de bicicleta", obra de Marcel Duchamp, acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York.


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