segunda-feira, 31 de dezembro de 2018
domingo, 30 de dezembro de 2018
O METRÔ E O INCENTIVO À CULTURA
Não é o objetivo
do Metrô a formação cultural da população, o que não impede que a empresa tenha
um importante programa de incentivo à cultura, com destaque ao estímulo à leitura,
espalhando a melhor poesia luso-brasileira pelo caminho de milhões de usuários.
Assim, enquanto você desce pelas escadas rolantes pode ler poemas de Alphonsus Guimarães,
Luís de Camões, Fernando Pessoa, Augusto dos Anjos, Antero de Quental, Bocage e
Sá de Miranda entre outros grandes poetas.
Há muito mais no
subsolo da cidade. Painéis, murais,
pinturas, instalações e esculturas estão distribuídos por 37 estações. A
Estação da Sé foi a primeira a receber as esculturas de Alfredo Ceschiatti e
Marcelo Nitsche. Atualmente, a empresa tem um acervo de 91 obras de arte,
assinadas por Alex Fleming, Tomie
Othake, Antonio Peticov, Denise Milan, Aldemir Martins, entre outros. Há ainda
as exposições temporárias de fotos e artes visuais.
Indiferente ao burburinho que a cerca. Obra de Ceschiatti na Sé. |
Na
Estação Conceição (Linha Azul), há dois belos painéis: “As vias da água” e “As
vias do Céu”, ambos de David de Almeida. Na Estação Marechal Deodoro (Linha Verde),
destacam-se os painéis sobre “Aspectos da População Brasileira”, de Gontran
Guanaes Netto; “Um Espelho Mágico”, de Wesley Duke Lee, na estação
Trianon-Masp.
Minha obra preferida: os 44 retratos anônimos, criação de Alex Fleming, 1989. |
Se der sorte, você pode assistir a um
show da Banda dos
Seguranças do Metrô. Como o nome diz, a banda é formada por agentes de
segurança da empresa e faz um grande sucesso desde que foi criada em 2011. As apresentações
acontecem uma vez por mês em estações pré-definidas pelo Metrô.
sábado, 29 de dezembro de 2018
VOU DE METRÔ
Se o metrô paulistano está longe de cobrir a área urbana de São Paulo como
o parisiense – até porque é muito recente, pode-se chegar praticamente a todos
os pontos da cidade, graças aos sistemas de interligação com trens e ônibus e o
apoio de estacionamentos com preços diferenciados. É fundamental para milhares
de pessoas, que todos os dias se deslocam pela cidade para o trabalho ou para
estudo, é precioso para quem deseja um lazer de qualidade: teatro, cinema,
museus, exposições, parques, bibliotecas, clubes...
Um bom exemplo é a Linha Vermelha (Leste- Oeste). O Teatro Municipal de
São Paulo fica a uma quadra da Estação do Anhangabaú e o Teatro São Pedro, a
duas da Estação Marechal Deodoro. Ao longo da mesma linha há várias atividades
culturais: o complexo cultural da Praça das Artes, a Biblioteca Mário de
Andrade e a Praça D. José Gaspar com esculturas de escritores clássicos.
Difícil mesmo é escolher o que fazer ao longo da Linha Verde (Vila
Madalena-Sacomã). Entre as estações Paraíso e Consolação há a Casa das Rosas,
Japan House, Instituto Cultural Itaú, SESC Paulista, MASP, Instituto Moreira
Salles, além de shoppings, cinemas e bares restaurantes e bares.
E por falar em
bares, o reduto preferido do paulistano é no final da linha – Vila Madalena. Na
outra ponta, a estação do Alto do Ipiranga é a partida para um passeio pela
história da Independência do Brasil. Bem em frente à estação, há um trólebus que
passa próximo ao Parque da Independência e bem em frente ao Museu de Zoologia
da USP. Embora o Museu Paulista esteja fechado para restauro, o passeio é muito
bonito.
Do Tucuruvi ao Jabaquara, Linha Azul (Norte-Sul), também não faltam
ótimos passeios. Entre as estações Sé e Tiradentes encontram-se os Centros Culturais Caixa e Banco do Brasil, Pátio do Colégio (Sé); Mosteiro de S. Bento e
Mercado Municipal (São Bento); Sala São Paulo, Pinacoteca de São Paulo e Jardim
da Luz, Museu de Arte Sacra (Luz), Arquivo Histórico Municipal (Tiradentes). Na
estação Carandiru, há o Parque da Juventude com a ótima Biblioteca de São
Paulo (foto).
Para os amantes de esportes, um bom veículo para ir ao clube torcer por
seus times: os palmeirenses contam com a estação Palmeiras-Barra Funda;
corintianos, com a Corinthians-Itaquera.
Arena Corinthians. |
Mas isto é apenas um esboço. Há muito mais para se fazer em São Paulo de
Metrô.
Para mim a estação mais bonita é a
do Alto do Ipiranga. A Estação Sé me parece um retrato vivo de São Paulo. A
mais desagradável é a estação da Consolação por ser estreita e incompatível com
o intenso fluxo de passageiros em horário de pico. A estação mais profunda do
Metrô é a de Pinheiros, que fica a 30 metros da superfície.
Rápido e eficaz, limpo e seguro, o metrô é o melhor sistema de transporte
do paulista, embora eventualmente apresente problemas.
Fotos: Hilda P. Araújo.
sexta-feira, 28 de dezembro de 2018
OS 50 ANOS DO METRÔ PAULISTA
Quantas vezes eu me vejo
em algum lugar de São Paulo e me pergunto: para onde vai toda essa gente, açodada
ou sem pressa? Se as ruas estão sempre cheias, as estações do metrô não são diferentes. A
cidade tem 8,6
milhões de carros, motos, ônibus ou caminhões de acordo com a Companhia de
Engenharia de Tráfego (CET). Há mais que pássaros sobre nossas cabeças.
Paira sobre nós a maior frota de helicópteros do mundo (600), transportando os mais
afortunados de um ponto a outro da cidade, pousando sobre edifícios elegantes
(ou nem tanto), policiando, salvando vidas e sondando esta urbe para informar
sobre o trânsito sempre confuso. Há ainda os aviões, que riscam nosso céu. Mais
gente chegando? Ou partindo? Só ali do Aeroporto de Congonhas partem em torno
de 57 mil pessoas diariamente, sem contar os aviões de Cumbica que cruzam nosso
espaço aéreo. É muito? Ainda tem muito mais e sob nossos pés. Só no ano passado
foram transportados mais de 1,1 bilhão de passageiros pelo Metrô de São Paulo!*
Aliás, este é ano de festa: a Companhia do Metropolitano de São Paulo comemora
50 anos de atividades.
Estação Sé. |
Foi um longo nariz de cera (como dizem os jornalistas) para falar do
Metrô, o melhor sistema de transportes da cidade. Seguro, eficiente, confiável
e limpo. Agora, ganhou música ambiente e de muito boa qualidade. Aliás, o
usuário faz sua viagem ouvindo boa música, nas estações pode apreciar obras de
arte, ler o melhor da poesia em língua portuguesa, ver exposições temporárias e
de vez em quando até assistir a shows.
A empresa iniciou as atividades em 24 de abril de 1968. Nesses cinquenta
anos, implantou seis linhas: Azul, a mais antiga, Vermelha, Verde, 15-Prata,
4-Amarela e 5-Lilás. A primeira viagem
foi entre as estações Jabaquara e Saúde em 1972; e em 1974 a linha estendeu-se
até a estação Vila Mariana. O Metropolitano de São Paulo tem uma frota de 203
trens e 1.419 carros e opera com 9200 funcionários (administração, operação,
manutenção e expansão do sistema). Continua.
Exposição sobre os 50 anos do Metrô na Estação Se. |
*Na verdade, boa parte da
linha Leste-Oeste é de superfície.
quinta-feira, 27 de dezembro de 2018
SOBRE RABANADAS E CASTANHAS
Uma
das lembranças mais intensas da minha infância é o perfume das rabanadas nas
manhãs de Natal. Quando saía do quarto, sentia o aroma inconfundível que se
espalhava pelo caminho entre a sala e a cozinha. Até hoje me traz ótimas
lembranças daquelas pessoas que compartilharam comigo aqueles tempos. A mesa da
ceia ficava posta, mas apenas com as frutas secas e da época e o bolo de natal.
Depois das rabanadas minha paixão infantil eram as castanhas portuguesas, que
na véspera eu vira minha tia tirar uma lasquinha na lateral de cada uma para
que cozinhassem mais rapidamente e absorvessem um pouco do sal da água em que
eram mergulhadas.
Esse
preâmbulo é para explicar o que escrevi ontem – para os pobres sempre havia as
rabanadas serem. Tudo na vida muda. A rabanada era um prato popular entre as
pessoas mais pobres – pão amanhecido, ovo, leite ou vinho. Os ingredientes
faziam parte do cotidiano das famílias brasileiras. À medida que as pessoas
mudaram de status, levaram consigo as coisas que lhe davam prazer ou
estimulavam boas lembranças. Foi assim que a rabanada continuou sua saga de
sucesso até os dias atuais. Ontem (26), tudo voltou quando coloquei as rabanadas à
mesa e o aroma se espalhou pelo ambiente... (Ilustração: "Natureza Morta com Flores", de Charles Tillot (1825-1877). Coleção Particular, NY.
Imagem: Wikipedia. |
História
parecida vale para a castanha. O castanheiro, que floresce em vários países da
Europa, foi por muito tempo um alimento importante junto com o trigo e a cevada.
Nas épocas críticas, era possível se alimentar de castanhas – cozidas, assadas
ou como purê ou sopa. Os portugueses a trouxeram (felizmente) em suas primeiras
viagens e a castanha se tornou um fruto típico de Natal porque é no outono
europeu (aqui primavera) que os castanheiros frutificam.
terça-feira, 25 de dezembro de 2018
UM NATAL AMARGO
No final do século XVI, a vila de Santos prosperava. Os
colonos plantavam cana-de-açúcar e pelo menos seis engenhos produziam açúcar,
que se tornara a base da economia local. O açúcar era tão importante que servia
também como moeda de troca em caso de necessidade. Os Armadores do Trato, uma
sociedade mercantil responsável pelas atividades do comércio marítimo,
importando produtos da Europa e exportando gêneros da terra, fora fundamental
para a consolidação do povoado. Braz Cubas, o fundador de Santos, tinha todo
direito de se sentir realizado ao olhar os resultados do seu trabalho. Estava
com 85 anos e era um homem rico.
Por aqueles tempos, o Natal era precedido por um mês de jejum – o tempo
do Advento, preparação para a vinda de Deus. Embora nem todos comemorassem o
Natal, os festejos estendiam-se por 12 dias – de 25 de dezembro a 6 de janeiro
e o evento era dedicado à caridade e à partilha de alimentos, especialmente às
crianças.
O Natal de 1591 deveria ser como todos os anteriores. Os moradores da
vila foram assistir à missa como faziam sempre e, provavelmente, planejavam
dedicar o dia às comemorações à mesa junto com a família. Um Natal, com
certeza, à moda portuguesa, embora aos poucos, e por necessidade, novos
componentes tivessem sido agregados à festa, como o poderoso Solanum tuberosum, a popular batata; entretanto, a saudade da terra sempre foi
mitigada pela importação das castanhas, conhecidas como portuguesas, das frutas
secas – damasco, tâmara, uvas... E do vinho, naturalmente. O destaque ficava
com os doces – ricos em açúcar (herança árabe) e ovos. Para os mais pobres
sempre havia as rabanadas.
Infelizmente,
aquele foi um Natal muito amargo. As pessoas assistiam à missa, quando foram
surpreendidas pela chegada dos furiosos piratas de Thomas Cavendish. O pirata
inglês planejara cuidadosamente o ataque em São Sebastião. Dois marinheiros de
Cavendish – Anthony Knivet e John Jane – contaram mais tarde que na noite da
véspera de Natal, um grupo de cem homens partiu rumo a Santos e, no alvorecer
do dia 25, desembarcaram na cidade, dispostos a tudo. Capturaram cerca de
trezentos homens, além de mulheres e crianças. “(...) demos saque à vila e
pusemos todos os nossos homens a postos”.
Thomas Cavendish (1560-1592) nasceu em família rica no condado de
Suffolk; foi bem recebido na corte da rainha Elizabeth e ingressou no
Parlamento, onde se interessou pelos “negócios” de além-mar. Em 1585 viajou
para a América do Norte para conhecer a colônia inglesa e no ano seguinte
empreendeu uma viagem de circunavegação, que o deixou rico. Foi o terceiro
europeu a realizar esse feito. Mas quando perdeu tudo, Cavendish voltou às atividades de pirataria. Partiu de Plymouth em
agosto de 1591, com destino ao oceano Pacífico, para implantar uma rota
comercial. Capitaneava uma frota de cinco embarcações: Leicester, Roebucke, Desire, Daintie e Blacke Pinnace. Chegou em
novembro à costa da Bahia, nas proximidades de Cabo Frio capturaram um navio
mercante português e em seguida rumaram para São Sebastião de onde partiram
para o ataque a Santos.
Os piratas devem ter gostado muito do
vilarejo: ficaram lá por dois meses e nesse período queimaram as embarcações
ancoradas no porto, cinco engenhos, a igreja. A vila ficou destruída. Enfim, Cavendish
resolveu continuar seus planos iniciais de atingir o Pacífico. Na viagem, enfrentaram
continuamente mau tempo e, quando alcançaram o estreito de Magalhães em março,
estavam sem provisões. As embarcações se separaram e Cavendish decidiu retornar
à costa brasileira para reabastecer. Mais especificamente, Santos.
Quem
narra os fatos ocorridos nessa segunda “visita” é o próprio Cavendish em seu
diário. Ele autorizou os marinheiros a desembarcar em busca de comida. No dia
seguinte à ancoragem, apareceu um índio que dizia ter fugido do seu mestre
durante o ataque do Natal. O nativo informou que ali perto havia um engenho
muito rico e que ele levaria uns dez homens até lá. “Ordenei, então, que o
capitão Barker (...) levasse vinte ou trinta homens consigo”. No final da
tarde, para surpresa do pirata, o grupo “enviou de volta o meu bote com um
pouco de milho, seis galinhas e um pequeno carneiro. Vendo que a companhia não retornava,
enviei novamente o meu bote com um homem encarregado de adverti-los de que os
aguardava impacientemente. O bote cedo retornou com uma resposta que muito me
espantou. Os homens mandavam dizer que não sairiam de lá e que um carneiro e
seis galinhas não bastavam para salvar as nossas vidas”. Sem muita escolha, Cavendish
resolveu esperar. E esperou bastante, pois conta que três dias depois o índio
que se oferecera para ajudar reapareceu com três ferimentos graves. “Ele
contou-nos que os demais tinham sido vítimas de uma matança promovida por
trezentos índios e oitenta portugueses”.
A maré de sorte de Thomas Cavendish
terminava ali. Quando partiu de Santos com destino a Ilha de Santa Helena, o
pirata só teve insucessos e não voltaria à Inglaterra: morreu entre novembro e
dezembro de 1592 a bordo do Leicester.
No seu diário escreveu dias antes: “Perdoe os meus rabiscos: saiba que mal
posso segurar a pena”.
segunda-feira, 24 de dezembro de 2018
domingo, 23 de dezembro de 2018
OS NATAIS PASSADOS
O Natal foi comemorado pela primeira vez no ano 336. Alguns
reis foram coroados no dia 25 de dezembro: Carlos Magno em 800 e Guilherme, o
conquistador, em 1066. No Brasil, duas vilas foram fundadas nessa data: Natal
(RN) em 1599 e Belém (PA) em 1615.
No tempo de Shakespeare (1564-1616), para o Natal a corte tinha
uma programação especial de teatro com encenação de uma peça a cada dia. De
acordo com o relato de um embaixador francês em 1895, “eles começavam a dançar
na presença da rainha (Elizabeth), e a apresentar comédias, o que era feito no
grande salão de audiências, onde o trono da soberana era instalado, e comparecia
uma centena de senhores, muito bem ordenados, senhoras também, e a corte
inteira”. Especula-se que no Natal de 1598, a companhia de Shakespeare teria
apresentado "Henrique IV" – parte 2 e "Muito barulho por nada". (“1599 – Um ano na
vida de William Shakespeare”,
James Shapiro.)
No dia 25 de dezembro de 1641 nasceu
Isaac Newton (foto 1), físico e matemático inglês, que mudou a concepção do
mundo. No Natal de 1758, foi confirmado o retorno do cometa Halley ao sistema
solar. E por falar astros, um de outro tipo nasceu no dia 25 de dezembro de
1899: Humphrey Bogart (m.1957).
O norueguês Roald Amundsen (1872-1928), que liderou a
primeira expedição a atingir a Antártica em 14 de dezembro de 1911, passou o
Natal de 1897 em Lapataïa, no canal de Beagle. Ele era o segundo imediato do
barco Bélgica, comandado por
Adrien de Gerlache (foto), que tinha planos de ser o primeiro homem a invernar
na Antártica. No dia 25 de dezembro, de Gerlache deu livros de presente para os
oficiais e cientistas a bordo do Bélgica. O destino da expedição é outra história, que é contada no livro “O último
lugar da Terra – a competição entre Scott e Amundsen pela conquista do Polo Sul”, de Roland Huntford. Companhia Das Letras.
Em 1914, quando o Natal chegou, a Europa estava em guerra; entretanto, um
fato inusitado aconteceu nesse dia: os soldados da Frente Ocidental (alemães e
os Aliados franceses e britânicos) fizeram uma trégua informal nos campos de
Ypres (Bélgica) para comemoração dessa data. O filme “Joyeux Noël”, 2005, de Christian Carion, aborda o episódio histórico de forma
romântica. Belo filme.
Na II Guerra Mundial, os pracinhas brasileiros nos campos de batalha da
Itália passaram o Natal de 1944 longe da família, em meio a neve e lutando em
vários lugares. O médico paulista Massaki Udihara (1913-1981), que serviu como
primeiro tenente de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira (FEB)
escreveu em seu diário no dia 25 de janeiro:
“Natal. Manhã fria.
Gelada, de céu coberto, mas assim mesmo clara. A neve continua cobrindo tudo,
apesar de ter cessado de nevar. Logo cedo chegaram os presentes da LBA (Legião
Brasileira de Assistência). Pacote com malha, sabonete e outros objetos de
primeira necessidade. Uma surpresa; não pensei que isso fosse acontecer. Não
espero nada deste dia. A noite passou sossegada sem qualquer ruído. Ao que
parece, resolveram respeitar o dia sem prévio acordo. Não houve nada. Tudo
sossegado demais e de despertar desconfiança. Os soldados aqui preparam um
almoço especial. Vieram me convidar para compartilhar dele. Admirei essa
vontade e disposição que não desaparece nessas mínimas coisas. É o espírito do
dia que querem conservar. E assim terão o seu momento de alegria e felicidade
no meio de todo esse sofrimento e provação.” (“Um médico brasileiro no front –
Diário de Massaki Udihara na II Guerra Mundial”. Imprensa Oficial.)
Joel Silveira, correspondente de guerra dos Diários
Associados, na Itália, escreveu: “ Não quero me prolongar muito a respeito, mas
quando o leitor souber que entre o dia 25 de dezembro ultimo e este 2 de
janeiro só me foi possível tomar um banho apressado e econômico, poderá por si
mesmo tirar outras conclusões a propósito da vida que levamos aqui”.(“O inverno
da Guerra – Jornalismo de Guerra.” Objetiva.)
sábado, 22 de dezembro de 2018
DEZ FILMES DE IMPACTO
Pediram-me que postasse no Facebook a foto sem identificação de dez
filmes que causaram impacto, sem mencionar se o impacto foi em mim ou de forma
geral à época do lançamento. Esse tipo de escolha, não importa qual seja, é
difícil porque sempre há vários livros, filmes, atores, escritores etc. que
poderiam estar ali e têm de ser descartados. Enfim, consegui selecionar os dez
filmes e organizei a lista por ano de lançamento. Aqui, entretanto, farei
comentários sobre a escolha de cada obra.
A MONTANHA DOS SETE ABUTRES, 1952. Billy Wilder (1906-2002). O filme trata da cobertura jornalística do soterramento de um mineiro que um repórter inescrupuloso transforma em espetáculo para salvar sua carreira. Hoje o jornalismo espetáculo salva a mídia em geral. Elenco: Kirk Douglas (1916). Wilder (1906-2002) dirigiu ótimos filmes.
O DESPREZO, 1963. Jean-Luc Godard (1930). Baseado em obra de Alberto Moravia. Nouvelle vague. Eis um filme que tem
várias leituras além da óbvia – a relação conjugal se deteriorando, os
mal-entendidos, o desprezo da esposa pelo marido e o final trágico. Elenco:
Brigitte Bardot e Michel Picoli.
BONNIE E CLYDE, UMA RAJADA DE BALAS, 1967. Arthur Penn (1922-2010). Para as novas gerações, pode ser apenas um filme sobre dois criminosos, mas Arthur Penn tirou o conforto das plateias, mostrando uma história de amor e crime banhado de muito sangue – elemento que raramente aparecia em cena.Elenco: Warren Beaty e Faye Danway.
TEOREMA, 1968. Pier Paolo Pasolini (1922-1975). Na época, foi motivo de discussões sobre a origem do hóspede que uma família rica recebe e acaba por seduzir cada um dos membros da casa, transformando a vida de todos. Um anjo do mal? Elenco: Silvana Mangano e Terence Stamp.
LARANJA MECÂNICA, 1971. Stanley Kubrick (1928-199). Aqui, foi uma difícil escolha – Kubrick tem outros filmes geniais, mas fiquei com este porque é uma ótima adaptação do livro de Antony Burgess, uma interpretação inesquecível de Malcolm Mc Dowell (1943) e um fundo musical regado a Beethoven.
OS MENINOS, 1976. Narciso Ibáñez Serrador (1935). Quem tem medo de crianças? O título original é melhor: ¿Quien puede matar a un niño?”. Sinistro. Forte. Melhor filme de terror que já vi. Único filme de Ibañez a que assisti.
ASAS DO DESEJO, 1987. Wim
Wander (1945). Um filme poético. Belo. Em preto e branco. Dois anjos cuidam dos habitantes de Berlim dividida
pelo muro e, enquanto passeiam pela cidade, conversam sobre esses seres
estranhos e sobre a trajetória destrutiva da humanidade até que um deles se
apaixona por uma trapezista... Elenco: Bruno Ganz, Otto Sander e Peter Falk.
Assisti a outros bons filmes de Wander.
O PODEROSO CHEFÃO III, 1990. Francis Ford Coppola. Coppola(1939) encerra a
trilogia de forma brilhante. Cria um personagem digno dos clássicos. A música
de fundo: bela. Elenco: Al Pacino, Diane Keaton e Andy Garcia. Da trilogia o
único que não convenceu foi o segundo episódio.
BRANCA DE NEVE, 2013. Pablo Berger (1963). Não se enganem com o título. O filme, maravilhoso e nada
infantil, me remeteu a muitas outras obras – desde o
original de Grimm até Saura, Luis Buñuel, Fernando Sabino, passando pela
crítica ao mau jornalismo e por aí vai. Detalhe: o filme
é em preto e branco e mudo. Elenco: Macarena García e Maribel Verdú. (Visto nos ENCONTROS
CULTURAIS/USP)
sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
VERÃO, SEMPRE BEM-VINDO.
quinta-feira, 20 de dezembro de 2018
MARTINI E LEONARDO
SEM PALAVRAS. APENAS BELEZA.
"Anunciação a Maria", de Simone Martini (1284-1344). Galleria degli Uffizi, Florença. Martini nasceu em Siena, Itália.
"Anunciação", 1472. de Leonardo Da Vinci (!452-1519). Posteriormente, o anjo sofreu modificações para atender aos cânones da Igreja sobre a natureza dos anjos. |
quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
ESTAÇÃO SÃO BENTO
Na estação São Bento do metrô,
descobri novidades na Vitrine Cultural. Uma jovem senhora observa com interesse
pouco comum os objetos arqueológicos – cacos de louça e vidro, pedaços de muitas
peças descobertas durante as escavações para construção do metrô na Avenida Santo
Amaro entre as ruas Irineu Marinho e da Fraternidade. Quando me aproximei, ouvi
um murmúrio. Uma jovem senhora falava com seus botões: “Não acredito que a
embalagem de magnésia era de vidro!”. Animou-se e confessou que ficaria muito
feliz se lhe dessem o pote de vidro (desses altos para compotas) no fundo da
vitrine. “Pena que não tem tampa” – comento, só para dizer alguma coisa. Ela deu
de ombros e diz que não faria mal. “Olha aquela xícara.” Na verdade, é metade
de uma xícara, mas ela tem bons olhos, pois é de faiança branca e azul... O
trem chegou e nos despedimos. O local dos achados foi registrado como Sítio
Arqueológico Alto da Vista. O acervo do sítio tem ainda fragmentos de ossos,
polímeros, material construtivo como azulejos, telhas e manilhas hidráulicas do
início do século passado. Tudo isso fornece informação sobre o processo de
urbanização de Santo Amaro. Em tempo: a foto está péssima por causa da pressa
desta passageira e do vidro cujo reflexo acrescentou algum movimento à cena
como o usuário passando e o trem ao fundo.
terça-feira, 18 de dezembro de 2018
GABRIEL E MARIA
Bienvenuto Tisi, conhecido como Garofalo (1481-1559), pintor italiano renascentista. Obra: Anunciação, 1528.
Acervo: Pinacoteca Capitolina, Roma.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2018
SEGUNDA COM ARTE
sexta-feira, 14 de dezembro de 2018
DEZEMBRO, SEMPRE DEZEMBRO.
A peça
publicitária da Revista HISTÓRIA da BIBLIOTECA NACIONAL circulou na edição de
dezembro de 2009. Uma ótima revista, recheada de artigos sobre personagens e
fatos da nossa história e com entrevistas muito boas. Infelizmente, não existe
mais. Embora especializada em bons velhinhos, não faltaram os mal comportados,
maus exemplos para a sociedade. Um detalhe: D. Pedro II nasceu em uma
sexta-feira, 2 de dezembro de 1825 e faleceu em 5 de dezembro de 1891, muito
antes que a figura de Papai Noel se popularizasse mundo afora.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2018
Frank Sinatra-Killing me softly
Impossível ignorar Frank Sinatra (1915-1998), dono de uma voz perfeita e
que gravou um repertório de qualidade extraordinária... É meu cantor preferido.
O aniversariante do dia. Não canso de ouvi-lo.
terça-feira, 11 de dezembro de 2018
DEZEMBRO: UM NOEL DE VERDADE.
Hoje o café da manhã começa assim: “Seu garçom faça o
favor de me trazer depressa / Uma boa média que não seja requentada /Um pão bem
quente com manteiga à beça /Um guardanapo e um copo d'água bem gelada /Feche a
porta da direita com muito cuidado /Que eu não estou disposto a ficar exposto
ao sol”. Hoje o dia é de Noel Rosa, nascido em 10 de dezembro de 1910 em
Vila Isabel, Rio de Janeiro. Morreu aos 26 anos, deixando uma riquíssima
contribuição para a música popular brasileira. Sem choro nem vela, a verdade é
que ele sempre fará falta. E viva Noel!
domingo, 9 de dezembro de 2018
PERU MORTO, MISSA DE GALO...
Mário de Andrade
(1893-1945) é o autor do conto “O peru de Natal”, em que relata,
deliciosamente, os preparativos das festas e o papel da ave nessas reuniões
familiares. A história se passa no primeiro Natal após a morte de um pai da
família e o filho planeja uma ceia especial com um peru para as cinco pessoas
da casa. “Peru era prato de festa” – afirma o narrador. “Era costume sempre, na
família, a ceia de Natal. Ceia reles, já se imagina: ceia tipo meu pai,
castanhas, figos, passas, depois da Missa do Galo. Empanturrados de amêndoas e
nozes (quanto discutimos os três manos por causa dos quebra-nozes...),
empanturrados de castanhas e monotonias, a gente se abraçava e ia pra cama.”
Planejar um cardápio pode ser tão gostoso
quanto preparar o alimento. A imaginação ativa as memórias olfativas e as
lembranças antecipam os prazeres da degustação... “E havia de ser com duas
farofas, a gorda com os miúdos, e a seca, douradinha, com bastante manteiga.
Queria o papo recheado só com a farofa gorda, em que havíamos de ajuntar ameixa
preta, nozes e um cálice de xerez, como aprendera na casa da Rose, muito minha
companheira.”
O rapaz até pensou em um vinho francês para acompanhar, mas ele escolhe
cerveja bem gelada porque era a bebida preferida da mãe. “Quando acabei meus
projetos, notei bem, todos estavam felicíssimos”.
“De volta do mercado”, 1739. Óleo sobre tela de Jean-Baptiste Siméon Chardin (1699-1779). |
sábado, 8 de dezembro de 2018
POR SER DEZEMBRO
“São Paulo naquele tempo - 1895-1915”. Jorge
Americano.
Havia visitas recíprocas com a minha
família e nos convidavam no fim de ano para a árvore de Natal. Mas não faziam
festa. As crianças convidadas apareciam a qualquer hora, davam uma volta ao
redor da árvore, olhavam, olhavam, e depois despediam-se. Então, antes que
saíssem, D. Berta abria a gaveta do aparador de onde tirava brinquedos, um para
cada criança. As crianças agradeciam e iam embora.”
Jorge Americano nasceu em São Paulo em 25 de agosto de 1891, foi advogado, professor e promotor de justiça. Foi o quarto reitor da Universidade de São Paulo e deputado federal à Assembleia Nacional Constituinte de 1933. Faleceu em 1969. A paulistana Anita Malfatti nasceu em 2 de dezembro de 1889 e morreu em 19646.
“Nossa casa da rua dos Andradas nº 18
era de chão lavado como quase todas as de São Paulo.
Morava no mesmo correr um casal
alemão, seu Kohfall e D. Berta. Seu Kohfall trabalhava na casa Nathan,
importadora, na rua São Bento. Não tinham filhos.
"Natividade", obra de Anita Malfatti (1889-1964). |
Jorge Americano nasceu em São Paulo em 25 de agosto de 1891, foi advogado, professor e promotor de justiça. Foi o quarto reitor da Universidade de São Paulo e deputado federal à Assembleia Nacional Constituinte de 1933. Faleceu em 1969. A paulistana Anita Malfatti nasceu em 2 de dezembro de 1889 e morreu em 19646.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2018
O PERU DE DEZEMBRO
Nos velhos tempos,
quando ainda se vivia em casas e as famílias criavam galinhas, patos e perus, e
a era dos frigoríficos ainda estava no início, não havia muitas dúvidas sobre o
que servir no Natal: o peru era o prato preferido, creio que para variar, pois
galinha era freguesa comum durante o ano.
Assim,
começava-se a cevar o peru bem antes das festas para que em dezembro ele
estivesse bem gordinho. Como diz o ditado: só peru morre na véspera. E a
ave era abatida logo cedo na véspera do Natal para que se começasse o processo
de tempero e o assado.
O
peru não é exatamente uma ave sortuda. Feioso, voz pouco criativa, ele é
proveniente de Yucatán (México). A ave desconhecida até então na Europa foi
identificada pelo suposto porto de origem da carga e dessa forma ganhou,
erroneamente, o nome de peru em Portugal e Espanha. Na Inglaterra, o peru foi
confundido com a galinha d’angola que era importada pela Turquia que a vendia
para outros países e
daí ter se tornado conhecido como turkey
coq.
Em
1621 o peru foi o prato principal da refeição preparada pelos colonos ingleses
em agradecimento pela boa colheita, entrando para o cardápio americano. Tudo
isso é história. Nos grandes centros urbanos, pode ser o centro de mesa das
ceias de fim de ano, mas a maioria das crianças nunca viu um peru vivo.
Nem
todos gostam da carne do peru. Os portugueses sempre apreciaram a carne de
porco que até hoje faz parte das festas de fim de ano. “Não há alimento mais
elogiado nem material que forneça maior número de pratos. O porco faz a festa.
Porco do Natal” – diz Luiz Câmara Cascudo. O folclorista afirma que os nativos
do Brasil já saboreavam carne mal passada muito antes da chegada dos
portugueses e o famoso roast beef, que também frequenta ceias de fim de ano, por
aqui tem mais de 500 anos de tradição.
A Peixeira, 1672. Obra de Adrien van Ostade (1610-1685). Rijksmuseum, Amsterdã. |
segunda-feira, 3 de dezembro de 2018
NATAL, E NÃO DEZEMBRO.
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido…
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido…
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois:
somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave…
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira (1927-1996), em “Cancioneiro de Natal”.
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave…
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira (1927-1996), em “Cancioneiro de Natal”.
Paul Gauguin (1848-1903): Natividade, 1896. |
sábado, 1 de dezembro de 2018
COISAS DE DEZEMBRO.
Chegou dezembro, mês dos
alucinados por compras. Comprar é o verbo mais usado e em todos os tempos –
compro, comprarei, comprei. (Ah! compete com “eu quero”, também muito ouvido –
eu quero isso, quero aquilo, quero outro...) Locais para evitar em São Paulo:
Rua Vinte e Cinco de Março e adjacências, o que inclui a estação São Bento do
metrô; Rua José Paulino e adjacências... O Mercado da Cantareira, nem pensar,
porque é o ponto de abastecimento dos consumidores natalinos. Haja sanduíche de
mortadela e bolinho de bacalhau!
No século passado, um velhinho de barbas
brancas, vestido de vermelho e com um gorro da mesma cor, roubou o papel
principal da festa de fim de ano de um recém-nascido.
Na Agência Central dos Correios, as mesas estão postas e as cestinhas carregadas de pedidos de crianças carentes (situação de risco) ao Papai Noel. Esta semana li várias. Todas juram que se comportaram bem durante o ano e fizeram a lição de casa – o que as cartas desmentem. Vou voltar outro dia porque não sei do que se trata a maioria dos pedidos. Várias queriam PSP. Preciso pesquisar. No meu tempo de criança pedíamos carrinhos, bonecas, bolas, livros de histórias, roupa ou sapatos, um triciclo ou até mesmo patinete... Enfim, coisas que cabiam no bolso de uma pessoa de medianas posses. Além de não conhecer o brinquedo, há muitos com preços bem salgados. Espero que encontrem padrinhos bem de vida.
Para a criançada que deseja fazer o pedido pessoalmente, Papai Noel
encontra-se disponível para receber a turma em todos os shoppings e lojas
dispostas a investir uns trocados em uma fantasia e um salário para um
temporário. E por falar em salário, está bem longe o tempo em que ser Papai Noel
era um ato de devoção ou de bondade. Nada de desapego. O salário pago por
shoppings de São Paulo, dependendo do número de horas trabalhadas, varia de R$
9 mil a R$ 18 mil por mês (vagas.com).
Nada de se animar muito: precisa ser um velhinho cheiroso, ter barba de
verdade bem cuidada, nada de abdômen tipo tanquinho – é sempre bom cultivar uma
barriguinha de acordo com o figurino do personagem. É necessário falar bem o português
e, principalmente, gostar muito do papel (e de crianças) porque, dizem, não é
nada fácil. Os pais também costumam causar encrencas.
Enfim, bimbalham os sinos de Natal. Ih! Cuidado, há quem não entenda a
beleza da linguagem dos sinos e implique com o "barulho". Socorro!
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