domingo, 9 de dezembro de 2018

PERU MORTO, MISSA DE GALO...

Mário de Andrade (1893-1945) é o autor do conto “O peru de Natal”, em que relata, deliciosamente, os preparativos das festas e o papel da ave nessas reuniões familiares. A história se passa no primeiro Natal após a morte de um pai da família e o filho planeja uma ceia especial com um peru para as cinco pessoas da casa. “Peru era prato de festa” – afirma o narrador. “Era costume sempre, na família, a ceia de Natal. Ceia reles, já se imagina: ceia tipo meu pai, castanhas, figos, passas, depois da Missa do Galo. Empanturrados de amêndoas e nozes (quanto discutimos os três manos por causa dos quebra-nozes...), empanturrados de castanhas e monotonias, a gente se abraçava e ia pra cama.”
        Planejar um cardápio pode ser tão gostoso quanto preparar o alimento. A imaginação ativa as memórias olfativas e as lembranças antecipam os prazeres da degustação... “E havia de ser com duas farofas, a gorda com os miúdos, e a seca, douradinha, com bastante manteiga. Queria o papo recheado só com a farofa gorda, em que havíamos de ajuntar ameixa preta, nozes e um cálice de xerez, como aprendera na casa da Rose, muito minha companheira.”
O rapaz até pensou em um vinho francês para acompanhar, mas ele escolhe cerveja bem gelada porque era a bebida preferida da mãe. “Quando acabei meus projetos, notei bem, todos estavam felicíssimos”.

“De volta do mercado”, 1739. Óleo sobre tela de
 Jean-Baptiste Siméon Chardin (1699-1779).

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