Mário de Andrade
(1893-1945) é o autor do conto “O peru de Natal”, em que relata,
deliciosamente, os preparativos das festas e o papel da ave nessas reuniões
familiares. A história se passa no primeiro Natal após a morte de um pai da
família e o filho planeja uma ceia especial com um peru para as cinco pessoas
da casa. “Peru era prato de festa” – afirma o narrador. “Era costume sempre, na
família, a ceia de Natal. Ceia reles, já se imagina: ceia tipo meu pai,
castanhas, figos, passas, depois da Missa do Galo. Empanturrados de amêndoas e
nozes (quanto discutimos os três manos por causa dos quebra-nozes...),
empanturrados de castanhas e monotonias, a gente se abraçava e ia pra cama.”
Planejar um cardápio pode ser tão gostoso
quanto preparar o alimento. A imaginação ativa as memórias olfativas e as
lembranças antecipam os prazeres da degustação... “E havia de ser com duas
farofas, a gorda com os miúdos, e a seca, douradinha, com bastante manteiga.
Queria o papo recheado só com a farofa gorda, em que havíamos de ajuntar ameixa
preta, nozes e um cálice de xerez, como aprendera na casa da Rose, muito minha
companheira.”
O rapaz até pensou em um vinho francês para acompanhar, mas ele escolhe
cerveja bem gelada porque era a bebida preferida da mãe. “Quando acabei meus
projetos, notei bem, todos estavam felicíssimos”.
“De volta do mercado”, 1739. Óleo sobre tela de Jean-Baptiste Siméon Chardin (1699-1779). |
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