sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

O PERU DE DEZEMBRO

Nos velhos tempos, quando ainda se vivia em casas e as famílias criavam galinhas, patos e perus, e a era dos frigoríficos ainda estava no início, não havia muitas dúvidas sobre o que servir no Natal: o peru era o prato preferido, creio que para variar, pois galinha era freguesa comum durante o ano. 
Assim, começava-se a cevar o peru bem antes das festas para que em dezembro ele estivesse bem gordinho. Como diz o ditado: só peru morre na véspera. E a ave era abatida logo cedo na véspera do Natal para que se começasse o processo de tempero e o assado. 
O peru não é exatamente uma ave sortuda. Feioso, voz pouco criativa, ele é proveniente de Yucatán (México). A ave desconhecida até então na Europa foi identificada pelo suposto porto de origem da carga e dessa forma ganhou, erroneamente, o nome de peru em Portugal e Espanha. Na Inglaterra, o peru foi confundido com a galinha d’angola que era importada pela Turquia que a vendia para outros países e daí ter se tornado conhecido como turkey coq. 
Em 1621 o peru foi o prato principal da refeição preparada pelos colonos ingleses em agradecimento pela boa colheita, entrando para o cardápio americano. Tudo isso é história. Nos grandes centros urbanos, pode ser o centro de mesa das ceias de fim de ano, mas a maioria das crianças nunca viu um peru vivo.

Nem todos gostam da carne do peru. Os portugueses sempre apreciaram a carne de porco que até hoje faz parte das festas de fim de ano. “Não há alimento mais elogiado nem material que forneça maior número de pratos. O porco faz a festa. Porco do Natal” – diz Luiz Câmara Cascudo. O folclorista afirma que os nativos do Brasil já saboreavam carne mal passada muito antes da chegada dos portugueses e o famoso roast beef, que também frequenta ceias de fim de ano, por aqui tem mais de 500 anos de tradição.

A Peixeira, 1672. Obra de Adrien van Ostade (1610-1685). Rijksmuseum, Amsterdã.

Enfim, sobram quinze dias para escolher o prato principal para as festas de final de ano. Sempre é bom lembrar que uma ceia simples – com peru ou galinha –, bem preparada e que caiba no bolso é a melhor.


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