quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

SOBRE RABANADAS E CASTANHAS


Uma das lembranças mais intensas da minha infância é o perfume das rabanadas nas manhãs de Natal. Quando saía do quarto, sentia o aroma inconfundível que se espalhava pelo caminho entre a sala e a cozinha. Até hoje me traz ótimas lembranças daquelas pessoas que compartilharam comigo aqueles tempos. A mesa da ceia ficava posta, mas apenas com as frutas secas e da época e o bolo de natal. Depois das rabanadas minha paixão infantil eram as castanhas portuguesas, que na véspera eu vira minha tia tirar uma lasquinha na lateral de cada uma para que cozinhassem mais rapidamente e absorvessem um pouco do sal da água em que eram mergulhadas.
Esse preâmbulo é para explicar o que escrevi ontem – para os pobres sempre havia as rabanadas serem. Tudo na vida muda. A rabanada era um prato popular entre as pessoas mais pobres – pão amanhecido, ovo, leite ou vinho. Os ingredientes faziam parte do cotidiano das famílias brasileiras. À medida que as pessoas mudaram de status, levaram consigo as coisas que lhe davam prazer ou estimulavam boas lembranças. Foi assim que a rabanada continuou sua saga de sucesso até os dias atuais. Ontem (26), tudo voltou quando coloquei as rabanadas à mesa e o aroma se espalhou pelo ambiente... (Ilustração: "Natureza Morta com Flores", de Charles Tillot (1825-1877). Coleção Particular, NY.

Imagem: Wikipedia.
História parecida vale para a castanha. O castanheiro, que floresce em vários países da Europa, foi por muito tempo um alimento importante junto com o trigo e a cevada. Nas épocas críticas, era possível se alimentar de castanhas – cozidas, assadas ou como purê ou sopa. Os portugueses a trouxeram (felizmente) em suas primeiras viagens e a castanha se tornou um fruto típico de Natal porque é no outono europeu (aqui primavera) que os castanheiros frutificam.

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