“A soberba
Tíbur*.” Foi como o poeta Virgílio (70 a.C.-19 a.C.) referiu-se a esta cidade
na “Eneida”, obra-prima em que ele ressalta a grandeza de Roma. Tibur era o
nome primitivo de Tívoli, mais antiga do que Roma, que a conquistou no século
IV a.C. Os romanos logo a escolheram para veranear, mas nenhum se
esmerou tanto na construção da sua vila como o Imperador Adriano (76-138). A
Vila Adriana (o que sobrou dela) foi incluída em 1999 na lista de Patrimônio
Mundial da UNESCO. No século XVI, o Cardeal Ipolito d’Este (1509-1572) foi
nomeado governador de Tívoli pelo Papa Júlio III. O Cardeal era neto de um papa
e filho de Lucrécia Borgia e deixou para a posteridade uma obra de beleza
fascinante: a vila que leva seu nome.
Tívoli está encarapitada em uma colina (altitude 235m) na região do
Lácio. Ouvi falar dela por causa dos seus belíssimos jardins, joias de duas
épocas distintas e distantes. Chega-se lá de trem ou de ônibus. O ônibus sai do
terminal da estação Pirâmide. (O trem da Termini.) O coletivo recolhe
passageiros ao longo do percurso que dura cerca de uma hora. O melhor é sair
cedo de Roma para não perder nenhum dos encantos da cidadezinha – menos de 50
mil habitantes.
O verão está chegando. A praça avança em
direção a um terraço de onde se tem uma bela vista do vale que se abre à frente
da colina. Logo abaixo outro terraço serve de campo de futebol do colégio que
fica à direita. A partida está animada, mas é a paisagem que me absorve. Há bancos
estrategicamente colocados à sombra para se descansar o corpo e a vista. De um
lado rapazes contam vantagens para uma garota e na outra ponta um senhor lê
placidamente um jornal.
A praça parece uma extensão das
cafeterias e sorveterias, com mesinhas ocupadas por mães (há alguns pais) e
pimpolhos, mas de repente o lugar vira uma praça de guerra. Munidos de garrafas
plásticas cheias de água, chegam estudantes que iniciam
uma batalha de água. Correm, escondem-se, atacam. Gritos e risadas. Jovens ninfas
e faunos? Sei lá. Idade das descobertas. Eles se abastecem em uma bica tão antiga quando a cidade. Os
adultos continuam conversando, imunes à agitação.
A Villa d’Este é próxima da
praça. A beleza do palácio só é superada pelo surpreendente jardim que tem a
água como principal elemento. Como ele foi criado numa encosta, o visitante vai
descendo os patamares e desvendando o que a engenharia hidráulica, a imaginação
de um jardineiro e a fortuna de um homem de bom gosto podem fazer. Cascatas, lagos, tanques, fontes, canais
formam jogos de água e à medida que se caminha pelas alamedas floridas ouve-se
o murmúrio da água e o canto de pássaros invisíveis. Nem precisa dizer que se
respira um ar perfumado, desconhecido daqueles que vivem em megalópoles.
No final do jardim, um terraço e a vista de vinhedos e olivais... Perfeito.
O Cardeal d’Este (1509-1572) morreu pouco antes que a Vila – também Patrimônio
Mundial da UNESCO – ficasse pronta. Uma visita inesquecível.
Infelizmente, a visita à Vila Adriana ficou para as calendas gregas.
*”(...) todos procuram armas. Alguns limpam
com unto gordurento os lisos escudos e os lustrosos dardos, e afiam na pedra os
machados; apraz marchar com os estandartes e ouvir o som das trombetas. Não menos
de cinco cidades, montadas suas bigornas, fabricam armas: a potente Atina, a
soberba Tíbur, árdea, Custumérios e a torreada Antena.” Círculo do Livro (s/d), tradução: Tassilo Orpheu Spalding.
Virgílio diz que o nome
tem origem no nome de Tiburto, irmão dos gêmeos Catilo e Coras, jovens intrépidos
guerreiros.
Observação: Quando tentei ir de trem,
os funcionários de plantão na Termini fizeram um debate entre si e concluíram
que só havia ônibus para lá.