Em um posto do SUS vejo o folheto sobre hanseníase, uma doença que era chamada de lepra, palavra que lançava ignomínia ao portador do mal e ao longo dos séculos gerou preconceito contra portadores da doença. A medicina ignorava as causas, o tratamento do mal envolvia “obscuras práticas médicas” e assim os doentes procuravam se esconder para ocultar a deformidade e a sociedade os excluía em leprosários para se salvaguardar. Nesse jogo cruel, o isolamento voluntário ou não se tornou uma das formas para enfrentar a hanseníase.
Só para se ter uma ideia do tamanho do problema em 1266 a França tinha mais de dois mil leprosários recenseados. Só na diocese de Paris havia 43. No século XII, Inglaterra e Escócia tinham um milhão e meio de habitantes e 220 leprosários. O avanço da doença na Europa se deu, segundo Michel Foucault (1926-1984), a partir da alta Idade Média até o final das Cruzadas, quando se interrompeu o contato com os focos orientais da doença.Assim, a partir da Idade
Média a lepra praticamente desapareceu do mundo ocidental. Os leprosários se
esvaziaram. Em 1635 a população de Reims (França) realizou uma procissão para
agradecer a deus por ter livrado a cidade do mal. Além do final das Cruzadas,
outro fator muito importante, de acordo com Foucault, foi resultado espontâneo
da segregação.
Desde o século passado a doença tem cura, mas ainda há um longo caminho para a erradicação: Índia e Brasil são, atualmente, os países com maior número de doentes de hanseníase: em 2017, a Índia teve 126.164 casos e o Brasil registrou 26.875. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). O folheto do SUS explica que a doença tem cura e o tratamento é gratuito. Ela é “transmitida pelo ar, através do convívio com pessoas doentes com hanseníase que não estão se tratando”, e atinge a pele os nervos e pode levar a deficiências físicas. Os sintomas são manchas na pele de cor variada: esbranquiçada, avermelhada ou acastanhada; manchas com diminuição de sensibilidade ao frio, calor, dor e toque; dor, dormência, sensação de choque, agulhadas ao longo dos nervos dos braços e pernas; caroços no corpo; e diminuição da força muscular das mãos, pés ou face.
A doença chegou ao Brasil com os colonizadores e os doentes foram segregados até meados do século passado, quando finalmente a legislação mudou. Encontraram-se referências à lepra em hieróglifos de 1350 a. C. e Hipócrates (c. 460 a. C. - 370 a. C) foi quem deu a denominação à doença.
Na época medieval, os doentes eram obrigados a usar um sino para alertar
sobre a sua aproximação.
Mais informações nos sites:
www.prefeitura.sp.gov.br/convisa
ou ligue 156.
https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-01/
Fonte: Historia da Loucura, Michel
Foucault. São Paulo: Editora Perspectiva, 2019.
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