sábado, 23 de outubro de 2021

AVIÕES INVADEM NOSSA PRAIA

O interesse do santista pela aviação cresceu. Atravessar a vastidão do Atlântico era um ato tão ousado quanto o realizado pelos primeiros navegadores portugueses. O tráfego aéreo nas praias de Santos tornou-se constante porque a cidade era uma parada importante nos trajetos que começavam a ser explorados. Assim, não é de admirar que a população festejasse tanto esses pioneiros, que traziam o espírito de aventura para a cidade. Foi uma época em que a praia não estava nem para peixe nem para banhistas, no mar havia mais aviões pousando que vapores e veleiros navegando.

Em agosto de 1920, o aviador inglês John Pinder pousou em Santos, no percurso Rio de Janeiro-Porto Alegre. Pinder, que pilotava um hidroavião Macchi-9, estava acompanhado do segundo-tenente do Exército Brasileiro, Aliantar de Araújo Martins.

Na tarde do dia 13 de setembro de 1922, o aviador do exército chileno, capitão Diego Aracena Aguilar, que tentava levar a cabo o audacioso reide Santiago – Rio de Janeiro, em homenagem ao Centenário da Independência do Brasil, fez um pouso forçado nas imediações do Forte do Itaipu. Após ter sido socorrido pelo comandante da fortaleza, que gentilmente lhe ofereceu gasolina, o piloto chileno pôde chegar a Santos, de onde levantou voo no dia seguinte com destino ao Rio de Janeiro.

A Esquadrilha Anhangá, da Aviação do Exército, que partiu do Campo dos Afonsos, no Rio, no dia 21 de abril de 1923, com destino a São Paulo, passou por Santos no regresso ao Rio de Janeiro no dia 7 de maio. No dia 23 do mesmo mês, um avião Breguet 14, do Exército, pilotado pelo primeiro-tenente Borges Leitão, pernoitou em nossa cidade, rumando no dia seguinte para Curitiba.

Em 27 de fevereiro de 1927, o aviador italiano Marques De Pinedo, que já havia feito travessia do Atlântico Sul três vezes, pousou em frente à Bocaina onde o seu hidroavião Santa Maria ficou amarrado. De Pinedo – que se dirigia a Buenos Aires – foi recebido festivamente pelas autoridades e pela população da cidade.

Os americanos apareceram por Santos. Após um voo de contorno da costa das Américas Central e do Sul pelo Pacífico, a Esquadrilha Pan-Americana ao retornar aos Estados Unidos pelo Atlântico, faz um pouso na Base em março. A esquadrilha era formada por cinco aviões anfíbios Loening, do Exército Norte-Americano[1].

SAIAS VOADORAS

A manhã chegava ao fim, quando um pequeno aeroplano riscou o céu, fez algumas acrobacias e pousou na praia do Gonzaga. As pessoas aproximaram-se, curiosas e entusiasmadas, para receber mais um visitante que desembarcava na praia como já haviam feito antes outros pilotos.

A grande surpresa, no entanto, foi quando viram que o piloto era mulher. A aviadora Anésia Pinheiro Machado, procedente de São Paulo, trazia uma mensagem do jornal paulistano A GAZETA para a imprensa santista. Com este reide aéreo São Paulo-Santos, Anésia – que tinha 17 anos – bateu o recorde feminino de altura na América do Sul, tendo atingido a marca de 4.124 metros de altitude com o seu aparelho Aviatik! Data: 18 de maio de 1922.

A mensagem do jornal era bem ingênua.

“À imprensa de Santos:  Aos prezados colegas da imprensa de Santos, A Gazeta envia, através dos ares e por intermédio da gentil aviadora patrícia Anésia Pinheiro Machado, as suas saudações afetuosas. Nesse momento em que o espírito público acompanha, com indizível interesse, as peripécias emocionantes de uma ousada e brilhante iniciativa nos domínios da aviação, a proeza da sota paulista deve merecer o nosso mais simpático e dedicado apoio. São Paulo, 17 de maio de 1922. Oliveira Vianna e Miguel Arco e Flecha.”

A pioneira da aviação brasileira (ela foi a segunda brasileira a pilotar um avião) era esperada pelas autoridades santistas que a receberam carinhosamente. Em setembro de 1922, Anésia voou de São Paulo para o Rio de Janeiro em um avião Caudron G.3 (foto), o mesmo que ela pilotara em seu primeiro voo solo, seis meses antes.

Ela voltaria a Santos em outras ocasiões. Em julho de 1924, durante a sedição paulista, a Marinha do Brasil movimentou a esquadra para o Porto de Santos, onde estacionou durante quase todo o mês de julho daquele ano. A população pôde observar uma das primeiras batalhas aeronavais da América do Sul e o encouraçado MINAS GERAIS, atracado no porto, foi o alvo predileto dos aviadores, segundo historiadores. Anésia Pinheiro Machado, que se alinhou com os tenentes,  também realizou uma missão em Santos, no mínimo inusitada. Depois de efetuar manobras sobre o encouraçado MINAS GERAIS, a aviadora lançou um ramalhete de flores acompanhado de um cartão com mensagem: “Se fosse uma bomba?”. Pela ação foi proibida pelas autoridades de voar.

Anos depois Anésia comentaria que “esse movimento (foi) mais uma grande página da história paulista. Claro que não bombardearia, por espírito patriótico, aquele vaso de guerra. Entretanto, se ali fiz isso, foi para demonstrar ao governo federal que São Paulo nada temia" O gesto feminino repercutiu em todo o País.

23 de outubro: Dia do Aviador e da Força Aérea Brasileira. 

No dia 23 de outubro de 1906, Alberto Santos-Dumont realizou o primeiro voo com o seu 14-bis, no Campo de Bagatelle em Paris. Nesse dia ele, ele provou que um veículo mais pesado que o ar podia voar, percorrendo 60 metros em sete segundos a uma altura de dois metros do solo diante da Comissão Oficial do Aeroclube da França e uma plateia de mais de mil pessoas.

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