Em 9 de outubro há 128 anos nascia Mário de Andrade, que assim poetou sobre a vida e a morte.
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Na
rua Aurora eu nasci
Na
aurora de minha vida
E
numa aurora cresci.
No
largo do Paiçandu sonhei,
foi
luta renhida,
Fiquei
pobre e me vi nu.
Nesta
rua Lopes Chaves envelheço,
e
envergonhado nem sei quem foi Lopes Chaves.
Mamãe!
me dá essa lua,
Ser esquecido e ignorado como esses nomes da rua.
Casa da Rua Aurora, onde Mário Nasceu em 1893. Arquivo Histórico. Autor desconhecido.
Quando eu morrer quero ficar
Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.
Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.
No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.
Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.
O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...
Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...
As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus."
Lira Paulistana (1945)
Reflexões ‒ De certa forma o desejo expresso por Mário de Andrade (1893-1945) no poema se realizou. Mário está em vários locais da cidade: como o Instituto de Estudos Brasileiros para onde foi seu acervo e o Centro Cultural Mário de Andrade, na casa em que viveu. A presença dele palpita ainda pela Pauliceia que hoje é muito diferente daquela em que ele viveu, mas desvairada como então e que ele amaria do mesmo jeito. Mário por Anita Malfatti (1869-1974).
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