“Assim, meditando sobre a exploração do grande oceano celeste, por minha vez eu criava aeronaves e inventava máquinas. Tais devaneios eu os guardava comigo.” Alberto Santos Dumont.
O homem nunca aceitou o fato de que voar fosse um privilégio dos
pássaros e acalentou esse desejo desde a antiguidade. Foi o sonho de Ícaro, o
privilégio dos anjos, a delicadeza das fadas, mas principalmente o objeto de
estudos de Da Vinci e, certamente, do padre santista Bartolomeu de Gusmão* com o seu aeróstato que mereceu até patente do rei de Portugal. No início do
século XX, Alberto Santos Dumont (como muitos outros pelo mundo) trabalhava para
colocar nos céus um aparelho dirigível mais pesado do que o ar.
O envolvimento da cidade de Santos pela segunda vez nos primórdios
da aviação aconteceu em 1906, quando Alaor Pereira de Queirós fez exibições com
um balão pela cidade. Ele levantou voo do campo de futebol do Clube
Internacional, na Avenida Ana Costa, próximo de onde está situada a Igreja
Coração de Maria. Queirós teria voado 20 minutos.
Se não existe precisão sobre a data dessa exibição, parece certo
que foi lançado um desafio aeronáutico entre Queirós e certo capitão Magalhães
Costa de origem portuguesa. A competição foi marcada para o dia 12 de março de
1906 com largada a uma hora da tarde do terreno do Moinho Santista, próximo ao
Cemitério do Paquetá. O prêmio consistia de uma medalha de ouro concedida pelo
povo (como sempre) santista.
No dia da prova, apesar da garoa, Queirós estava lá com seu balão Cruzeiro do Sul, assim como a Banda
Musical Colonial Portuguesa, mas o capitão ficou doente e o aeróstato Portugal não levantou voo. O público,
porém, não ficou sem ver balões: Queirós exibiu-se à vontade junto com o
engenheiro da Cia. City, William Devor, que se propôs a acompanhá-lo. A festa
terminou na Rotisserie Sportman, na
Rua XV de Novembro, 158.
Um ano depois, Queirós estava de volta à cidade com um novo balão.
Desta vez contou com a ajuda do jornalista Manoel Bento de Andrade. O voo foi
marcado para o dia 10 de março em um terreno em frente ao número 78 da Rua
Bittencourt. Houve até uma cerimônia de batismo na qual o balão recebeu o nome
de Bartolomeu de Gusmão. Os padrinhos foram Francisco Carvalhal e a
senhorita Dioguina Ricardina de Oliveira. Após a solenidade, Queirós e Manoel
embarcaram no balão.
O final não foi exatamente o esperado. O aeróstato subiu e logo
começou a perder altura, caindo à margem direita do rio Sandy (desaparecido com
o progresso). A dupla voadora foi resgatada sã e salva, mas bastante enlameada.
Nada impediu, entretanto, as comemorações que desta vez foram na Confeitaria
Santista, no Largo do Rosário (Praça Rui Barbosa).
*Aeróstato: veículo que se eleva e se mantém no espaço por efeito da ação da força ascensional de um gás mais leve que o ar, como os balões e dirigíveis. Desconheço a autoria da pintura.
Fonte:"SANTOS: Histórias de Aviadores, Constitucionalistas e Expedicionários", de Hilda Prado de Araújo. Santos, SP. Editora Comunicar, 2016.
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