terça-feira, 19 de outubro de 2021

QUEREMOS VOAR

 “Assim, meditando sobre a exploração do grande oceano celeste, por minha vez eu criava aeronaves e inventava máquinas. Tais devaneios eu os guardava comigo.” Alberto Santos Dumont.

O homem nunca aceitou o fato de que voar fosse um privilégio dos pássaros e acalentou esse desejo desde a antiguidade. Foi o sonho de Ícaro, o privilégio dos anjos, a delicadeza das fadas, mas principalmente o objeto de estudos de Da Vinci e, certamente, do padre santista Bartolomeu de Gusmão* com o seu aeróstato que mereceu até patente do rei de Portugal. No início do século XX, Alberto Santos Dumont (como muitos outros pelo mundo) trabalhava para colocar nos céus um aparelho dirigível mais pesado do que o ar.

O envolvimento da cidade de Santos pela segunda vez nos primórdios da aviação aconteceu em 1906, quando Alaor Pereira de Queirós fez exibições com um balão pela cidade. Ele levantou voo do campo de futebol do Clube Internacional, na Avenida Ana Costa, próximo de onde está situada a Igreja Coração de Maria. Queirós teria voado 20 minutos.

Se não existe precisão sobre a data dessa exibição, parece certo que foi lançado um desafio aeronáutico entre Queirós e certo capitão Magalhães Costa de origem portuguesa. A competição foi marcada para o dia 12 de março de 1906 com largada a uma hora da tarde do terreno do Moinho Santista, próximo ao Cemitério do Paquetá. O prêmio consistia de uma medalha de ouro concedida pelo povo (como sempre) santista.

No dia da prova, apesar da garoa, Queirós estava lá com seu balão Cruzeiro do Sul, assim como a Banda Musical Colonial Portuguesa, mas o capitão ficou doente e o aeróstato Portugal não levantou voo. O público, porém, não ficou sem ver balões: Queirós exibiu-se à vontade junto com o engenheiro da Cia. City, William Devor, que se propôs a acompanhá-lo. A festa terminou na Rotisserie Sportman, na Rua XV de Novembro, 158.

Um ano depois, Queirós estava de volta à cidade com um novo balão. Desta vez contou com a ajuda do jornalista Manoel Bento de Andrade. O voo foi marcado para o dia 10 de março em um terreno em frente ao número 78 da Rua Bittencourt. Houve até uma cerimônia de batismo na qual o balão recebeu o nome de Bartolomeu de Gusmão. Os padrinhos foram Francisco Carvalhal e a senhorita Dioguina Ricardina de Oliveira. Após a solenidade, Queirós e Manoel embarcaram no balão.

O final não foi exatamente o esperado. O aeróstato subiu e logo começou a perder altura, caindo à margem direita do rio Sandy (desaparecido com o progresso). A dupla voadora foi resgatada sã e salva, mas bastante enlameada. Nada impediu, entretanto, as comemorações que desta vez foram na Confeitaria Santista, no Largo do Rosário (Praça Rui Barbosa).

O padre Santista Bartolomeu de Gusmão exibindo diante do rei o seu aeróstato.

*Aeróstato: veículo que se eleva e se mantém no espaço por efeito da ação da força ascensional de um gás mais leve que o ar, como os balões e dirigíveis. Desconheço a autoria da pintura. 

Fonte:"SANTOS: Histórias de Aviadores, Constitucionalistas e Expedicionários", de Hilda Prado de Araújo. Santos, SP. Editora Comunicar, 2016.

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