Então, Todos Foram Embora...
A II Guerra Mundial terminou em 1945 e com ela o velho estilo de vida. O
primeiro sinal veio mesmo em pleno conflito, quando em 1941 surgiu no final da
Avenida Paulista o Edifício Anchieta que, provavelmente, não teria aprovação de
José Eugênio de Lima, idealizador da Avenida. O prédio, encomendado pelo Instituto
de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (IAPI) ao escritório carioca de
arquitetura MMM Roberto, tem apartamentos simples (60) e duplex (12). O
objetivo do IAPI era alugar os apartamentos para os funcionários, mas... Isso é
outra história. O segundo prédio da avenida Paulista também leva um jeito
carioca e data do início dos anos 1950: o Nações Unidas, na esquina da Avenida
Brigadeiro Luis Antônio (lado par). O projeto é do arquiteto Abelardo Riedy de Souza.
Inauguração da Avenida Paulista, aquarela de Jules-Victor-André Martin (1832-1906). |
O primeiro casarão a vir abaixo foi o de Horácio Sabino (1869-1950), na
esquina com a Rua Augusta, projetado por Victor Dubugras (1868-1933). O palacete
foi vendido pelos herdeiros ao argentino José Tjurs, que construiu o Conjunto
Nacional, inaugurado em 1956. O projeto tem assinatura do arquiteto David Libeskind
(1928-2014).
Em 1951 o belvedere do Trianon já fora abaixo para a implantação de um
pavilhão para abrigar a I Bienal Internacional de São Paulo. O terreno havia
sido doado por Joaquim Eugênio de Lima à Prefeitura sob a condição de que se
mantivesse a vista para o vale onde um dia houvera o riacho Saracura. O
empresário, jornalista e oportunista Assis Chateaubriand (1892-1968) conseguiu
um acordo com a prefeitura paulistana (Ademar de Barros) e a arquiteta Lina Bo
Bardi fez o projeto da sede do MASP de forma a atender os desejos de Joaquim
Eugênio de Lima, criando o famoso vão livre de 74 metros, obra viabilizada pelo
engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz (1918-1994). A construção arrastou-se por
dez anos, sendo inaugurada em 1968.
A Avenida Paulista residencial de José Eugênio de Lima durou pouco mais
de meio século e no lugar dela brotaram os arranha-céus estilosos, alguns
residenciais, outros mistos, mas a maioria comercial.
Dos velhos tempos resta pouco. O palacete do coronel Joaquim Franco de Mello,
bastante deteriorado, mas sem perder a majestade. Em estilo eclético (mistura
de várias tendências arquitetônicas), a casa está situada em um terreno de 4720m
e tem 35 cômodos. Ficou também a Casa das Uvaias (1905), com 11 cômodos, e que pertenceu a Álvaro da Rocha Azevedo (1869-1942), advogado e ex-prefeito de São
Paulo. Um presente do sogro, Joaquim Eugênio de Lima. O arquiteto foi João
Gullo. Infelizmente, ainda não encontrei referências sobre o casarão em que
funcionou a lanchonete Mc Donald.
Quem sabe, se tantos anos depois, o empresário Joaquim Eugênio de Lima
aprovaria a Avenida Paulista...
CURIOSIDADE: uvaia é uma fruta cítrica nativa, rica em vitamina e utilizada
para sucos.
Fotos: Hilda Prado Araújo, 2018.
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