OS SONS DA AVENIDA PAULISTA
Há alguns anos num início de noite, ouvi a “Bachianas Brasileiras nº 5”, de Villa-Lobos,
interpretada por uma soprano maravilhosa, acompanhada por um violinista, à
porta do Conjunto Nacional. Que presente! Muita gente parou para ouvir. Aplausos
gerais no final. Uma apresentação inesquecível. Assim, podem ser os sons da
Avenida Paulista – do erudito ou popular, ótimos ou detestáveis, confundindo-se
com o barulho do cotidiano.
Paulista, a partir do Instituto Moreira Salles. |
O primeiro barulho pode ter sido o do machado abatendo a vegetação do
Caaguassu, depois o da instalação dos trilhos do bonde, seguido do próprio
bonde, muito embora os primeiros moradores usassem tílburis ou carruagens até
que o primeiro automóvel aparecesse na cidade, dirigido por Henrique, irmão de Alberto
Santos Dumont, em 1901. Atualmente, passam pela Avenida 90 mil carros por dia*.
Ela recebe ainda no mesmo período mais de 250 ônibus por hora! Dados não atualizados
mostram que 1.500.000 pessoas circulam por lá diariamente. Muito mais que o
triplo da população de Santos!
Os motoristas costumam se expressar por meio das buzinas - (raiva, pressa
e avisos). A população também gosta de se manifestar nesse endereço nobre da
cidade e marca comemorações e protestos por lá; e até vai ver marmanjos
correrem (ou correr também) na S. Silvestre ou se torna criança diante de enfeites
de Natal (cada vez mais raros). Pode-se, exagerando um pouco, dizer que na
Paulista é carnaval todo dia.
Sirenes não faltam – das ambulâncias, da polícia e às vezes dos bombeiros
– sempre um susto. No início da noite de 21 de maio de 2000, o prédio da CESP/Center
3 pegou fogo e o incêndio causou um morto e 300 feridos. A sirene mais
agradável e pontual é a da Gazeta (Fundação Cásper Líbero), que soa ao meio dia
avisando os mais distraídos que é hora da pausa de almoço – ou pelo menos está
próxima. Sem
sirene, porém, muito vistoso, é o relógio digital do Conjunto Nacional que foi
colocado lá em 1962 e também já deu muito pano para manga...
A ciclovia |
A Paulista é uma obra por terminar, porque sempre se reinventa. Por
exemplo: a construção da ciclovia, inaugurada em 28 de junho de 2015. Desde
dia 25 de junho de 2016, ela passou, oficialmente, a fazer parte do Programa Ruas
Abertas. Assim, aos domingos e feriados a avenida é fechada aos veículos e aberta aos
pedestres. Claro que antes teve muita briga, mas faz parte de todo processo de
mudança. E se paulistano não tem praia, tem a Avenida Paulista - “a mais
paulista das avenidas”, segundo o bordão criado pelo jornalista Luiz Carlos
Gertel (ex-Rádio Bandeirantes).
*O ESTADO DE S. PAULO, 25/11-2014.
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