Joaquim
Eugênio de Lima (1845-1902) radicou-se em São Paulo em meados da década de
1860; era formado em agronomia na Alemanha e, na capital paulista dedicou-se ao
ramo imobiliário. Como bom profissional, ele observou que a cidade crescia em
direção ao morro do Caaguassu (mata virgem), subindo pelo Caminho de Carro de
Santo Amaro (atual Rua da Liberdade) e pelo Caminho de Pinheiros ou Rua Nossa Senhora
da Consolação. Joaquim Eugênio de Lima viu mais que mato, vislumbrou um ótimo
negócio no topo do morro de 844 metros de altura, que além de tudo era largo e
reto. Como ponto mais alto da região oferecia uma vista bonita e ainda atendia
aos ideais do higienismo então em moda. Ele pensou grande: imaginou uma avenida
reta com trinta metros de largura e 2.500 metros de comprimento, destinada aos
muito ricos.
A ideia começou a se concretizar: arranjou dois sócios e em 1890 iniciaram
a compra dos terrenos para implantação do projeto, que tinha espaço reservado
para um parque e um belvedere com vista para o vale do riacho Saracura (atual
Avenida Nove de Julho). A nova avenida, que terminava na descida em direção ao
riacho Pacaembu, foi inaugurada em 1891 já com uma linha de bondes, mas sem
nenhuma casa. Para o jornalista Roberto Pompeu de Toledo[1],
a Avenida Paulista foi uma das duas obras “que podem ser consideradas as mais
marcantes e decisivas do período de transição entre a Monarquia e a República
em São Paulo”. A outra foi o Viaduto do Chá.
No início do século XX, os palacetes floresciam no antigo Caaguassu e começavam a chegar os moradores. Para surpresa geral, os cafeicultores não eram a maioria. Estavam chegando as famílias de imigrantes bem sucedidos na indústria e os sobrenomes italianos se destacavam entre árabes, espanhóis e alemães. A primeira família a marcar presença foi a do cervejeiro dinamarquês Von Bülow, que chegou em 1895. O segundo morador, ninguém menos que Francisco Matarazzo e logo depois todos os outros. Mais tarde chegaram os imigrantes árabes: Racy, Calil, Abadallah, Salem...
O belvedere da Paulista, que recebeu o nome de
Trianon, foi inaugurado pelo prefeito Washington Luís em 1916. O projeto do
escritório de Ramos de Azevedo incluía um prédio de dois andares com bar,
restaurante, salão de chá, salão de baile e até um observatório. Só que esse
Trianon era no espaço onde hoje se encontra o MASP. Dali via-se o centro da
cidade e a serra da Cantareira.
A Estação do Metrô Trianon-MASP. |
O parque do lado esquerdo da avenida só foi criado mais tarde, como uma
continuação do Trianon. A tarefa coube ao arquiteto e urbanista inglês Berry
Parker (1867-1947)[1].
Parker projetou uma pérgula combinando com o Trianon do outro lado da avenida,
deu um jeito na vegetação, abrindo clareiras e podando árvores, mantendo,
entretanto, aquele “pedaço de floresta primitiva em sua glória natural”. Foi
assim que a Avenida Paulista manteve uma bela amostra da Mata Atlântica,
vegetação hoje ameaçada de extinção. Em 1931 o Parque passou a ser chamado de
“Siqueira Campos”, mas não funcionou. Os moradores continuaram a chamá-lo de
Trianon. E quando o primeiro Trianon foi demolido em 1957 para dar lugar ao
Museu de Arte de São Paulo (MASP), a cidade já tinha o outro parque que, embora
se chamasse “Siqueira Campos”, para a população continuava sendo Trianon.
(Observação: Joaquim Eugênio de Lima nasceu no Uruguai, mas era brasileiro.)
O MASP substituiu o Trianon original, mas o famoso vão livre manteve a vista para o vale. |
Anhanguera, de Brizzolara, em frente ao Trianon. |
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