segunda-feira, 1 de outubro de 2018

SÓ PARA MAIORES DE SESSENTA

Dia Internacional do Idoso – instituído pela ONU em 1991 para sensibilizar a sociedade para as questões do envelhecimento e da necessidade de proteger e cuidar da população mais idosa. As pessoas tendem a reclamar da chegada da velhice, mas deviam se rejubilar, afinal, a alternativa é bem radical. É verdade que nos tempos atuais as bruxas e suas poções mágicas foram substituídas por cirurgiões plásticos e tecnologias de ponta que ajudam a retardar o ciclo natural da vida.
O filósofo Sêneca (?-65) ao visitar a casa de campo dele encontrou-a em ruínas e o zelador disse-lhe que não se tratava de negligência, mas a propriedade estava velha. “Esta vila foi construída por mim. Qual será o meu futuro se tão podres estão as pedras do meu tempo?” – desabafa Sêneca em carta ao amigo Lucílio. O filósofo continua a descarregar a irritação no empregado e critica o estado dos plátanos: “não têm folhas, os ramos estão secos”; o zelador jura que fez o que pôde, mas as árvores estão muito velhas. “Que isto fique entre nós: eu as plantara, eu vira suas primeiras folhas” – queixa-se Sêneca, que em sua visita à vila descobre a própria velhice.
Com os avanços científicos e tecnológicos do século XX, a expectativa de vida do Homem aumentou e o conceito de velhice mudou. A Organização Mundial de Saúde estima que em 2050 haverá dois bilhões de idosos no mundo e em 2020 pela primeira vez na história o número de pessoas com mais de 60 anos será maior que o de crianças até cinco anos e 80% dessas pessoas viverão em países de baixa e média renda*. Os idosos estão incluídos na categoria da terceira idade, contudo, já se fala até na quarta idade, que agrupa pessoas acima dos 80 anos. Em 2010 eram menos de três milhões nessa faixa de idade e as projeções mostram que em 2060 haverá mais de 19 milhões nessa categoria.  O Japão pode ser um exemplo do futuro. Com taxa de natalidade em declínio, o país registra a maior porcentagem de idosos do mundo, pois 24% dos habitantes têm 65 anos ou mais. A expectativa de vida é de 84,19 anos, perdendo para Mônaco (89,73) e Macau (84,41), segundo dados do CIA World Factbook.
Numa sociedade em que cada vez mais se valoriza o novo e a aparência, cresce o medo do envelhecimento e surge, triunfante, o que a socióloga de saúde americana Anne Karpf chama de “mercado anti-idade”. Com um potencial de consumo global de U$ 10 trilhões em 2020, o público sênior (acima de 60 anos) deve ganhar cada vez mais relevância no varejo. Mas os cuidados para evitar o envelhecimento, entretanto, começam muito mais cedo, na faixa dos trinta anos ou até menos, o que amplia a clientela da indústria anti-idade.
Em 2010, o Brasil tinha 190.732.694 milhões de habitantes dos quais 23,5 milhões estavam com mais de 60 anos, de acordo com o censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O crescimento da população de idosos foi acompanhado de uma grande mudança comportamental, com reflexos na economia. Os avós do século XXI são muito diferentes dos que tivemos. A maioria ao se aposentar enfrenta problemas financeiros; entretanto muitos se prepararam para a nova fase e aproveitam o ócio merecido. De modo geral são independentes. A alimentação guia-se pelo saudável e quando saem é para praticar esportes, caminhar, passear e buscar novos interesses que incluem atividades culturais e turismo. Os passatempos caseiros incluem tecnologia digital.
O mercado está de olho neles. Os bancos mostram-se sempre ávidos para fornecer crédito consignado àqueles que enfrentam problemas econômicos após a aposentadoria. Para estes felizmente, há bilhetes especiais para o transporte público que lhes permite escapar das quatro paredes para se distrair ou mesmo para trabalhar. Entidades públicas como as universidades paulistas, e instituições como o SESC, CIEE entre outras oferecem cursos, palestras e seminários gratuitos ou a preços mínimos para que enriqueçam a vida e façam novos amigos. As empresas de turismo preparam-lhes “pacotes especiais”.
Cursos de dança, bailes e concursos de beleza atraem um público animado e, na esteira deles, move-se o mercado de moda, e cosméticos. Embora a gerontologia – ciência que estuda o processo de envelhecimento sob o ponto de vista biológico, psicológico e social – tenha se desenvolvido a partir da II Guerra Mundial, o tema vem sendo analisado desde a Antiguidade. No Ocidente, Marco Túlio Cícero (106-42 a. C.) escreveu “Saber envelhecer”, que deveria ser lido com muita atenção por jovens e idosos porque é incrivelmente contemporâneo.
Na medicina, a geriatria é uma área em franca expansão. O geriatra “se preocupa com todos os aspectos da saúde do idoso conforme as particularidades do processo de envelhecimento”. Outra atividade em crescimento é a do cuidador de idoso que, na maioria dos casos, é exercida por pessoas sem preparo que precisam de um rendimento; entretanto, há vários cursos disponíveis para melhorar a qualidade do serviço prestado. A Cruz Vermelha Brasileira (Filial São Paulo), por exemplo, promove cursos gratuitos para formação do prestador de serviços nessa área. Por mais que se doure a pílula da velhice, nem todos enfrentam essa etapa da vida como gostaria. 



 “Acaso os adolescentes deveriam lamentar a infância e depois, tendo amadurecido, chorar a adolescência? A vida segue um curso muito preciso e a natureza dota cada idade de qualidades próprias. Por isso a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice são coisas naturais que devemos apreciar cada uma em seu tempo.” SABER ENVELHECER, obra escrita há mais de dois mil anos por Marco Túlio Cícero (106-42 a. C.), político e filósofo romano.

Um comentário:

Unknown disse...

Belissima e cuidadosa matéria. Muito agradável e de sábios conhecimentos.