Fundação de São Paulo, tela de Oscar Pereira da Silva (1865-1939). Acervo do Museu Paulista. |
SÃO PAULO EM DIFERENTES ÉPOCAS
“Fundada
a povoação, todas as preocupações se voltam para a consolidação da conquista.
Depois a tarefa que se impõe é dilatar e aproveitar a zona ocupada. Abre-se
então o ciclo das entradas para a expulsão e descimento do gentio. Numa
sociedade assim absorvida por interesses imediatos o tempo não sobra para mais.
De
livrarias, nem sombra. Nas tendas de Antônio de Azevedo Sá, Diogo de Moura e
outros mercadores de fama, tudo se encontra, menos livros. O próprio sortimento
de papel de escrita é mesquinho: duas ou três mãos, uma resma quando muito. De
sua raridade há mais de uma prova. Em um pedacinho de 15 por 12 centímetros
estão o testamento de Paulo Bueno e os despachos que mandam imprimi-lo.
Enganar-se-ia,
no entanto, quem supusesse inteiramente broncos os paulistas. A redação dos
documentos seiscentistas delata um avanço notável sobre a dos anteriores; e é
visível o empenho com que se promove, sem embargo da limitação dos recursos, a
instrução e educação da infância, mandando-se os órfãos à escola.”
Alcântara Machado: Vida e Morte do
Bandeirante, 1928.
JOSÉ
ALCÂNTARA MACHADO (1875-1941) foi professor e diretor da Faculdade de Direito
da USP, líder da bancada da Assembleia Nacional Constituinte de 1933 e escreveu
vários livros sobre Direito, mas sua obra principal é “Vida e Morte do
Bandeirante”. Nesse livro, ele traçou um retrato do cotidiano em São Paulo com
base numa pesquisa cuidadosa a partir de inventários paulistas do período entre
1578 e 1700.
“São Paulo em si
é uma cidade graciosa, branca, espraiada no alto de um morro e descendo para um
planalto, bem arborizada e com boas águas, e montanhas ao longe, por toda a
volta. Saindo para o campo, há cobras, macacos, jaguares e gatos selvagens,
escorpiões e aranhas [...].” Isabel Burton, trecho de carta à mãe dela.
ISABEL BURTON (1831-1896) foi mulher de
Sir Richard Francis Burton (1821-1890), erudito, aventureiro, escritor,
explorador, diplomata e agente secreto inglês, que entre 1865-1868 atuou no
Brasil como diplomata, aventurou-se na busca de ouro e escreveu “Viagem do Rio
de Janeiro a Morro Velho” (1869). Isabel Burton é autora e tradutora de várias
obras. Ela traduziu “Iracema”, de José de Alencar, que teve um relativo sucesso
em inglês.
Apesar da
majestosa natureza que a circunda, da suave elevação em que se acha colocada e
do ameno clima que a bafeja, a cidade de São Paulo é triste, monótona e quase desanimada.
...
A antiga
cidade dos jesuítas deve ser considerada, pois, debaixo de dois pontos de vista
diversos. A capital da província e a Faculdade de Direito, o burguês e
estudante, a sombra e a luz, o estacionarismo
e a ação, a desconfiança de uns e a expansão muitas vezes libertinas de outros,
e, para concluir uma certa monotonia da rotina personificada na população
permanente e as audaciosas tentativas de progresso encarnadas na população
transitória e flutuante.
Augusto Emílio Zaluar: Peregrinação pela Província de São Paulo (1860-1861).
AUGUSTO EMÍLIO ZALUAR (1849-1882) foi jornalista e escritor.
Português, ele se estabeleceu no Brasil em 1850 e se naturalizou em 1856.
“(...) São
Paulo nunca me pareceu feia: era uma cidade selvagem, como o são todas as
cidades americanas, com exceção de Washington, DC (...) Quanto a São Paulo,
era, na época, indômita.” Claude
Lévi-Strauss: "Tristes Trópicos", 1955.
CLAUDE LÉVI-STRAUSS veio
para o Brasil em 1935 com a chamada “missão” francesa que trabalhou na
implantação da Universidade de São Paulo. Lévi-Strauss escrevei que em 1934 o
Brasil e a América do Sul nada significavam para ele. E muito menos para o
diretor da Escola Normal Superior de Paris, que o convidou para a aventura
brasileira, pois ao ouvir que o jovem estava realmente interessado em etnologia
arrematou: “Então, apresente sua candidatura para professor de Sociologia na
Universidade de São Paulo. Os arredores estão repletos de índios, a quem você
dedicará os seus fins de semana”. Ao chegar a São Paulo Lévi-Strauss percebeu
que as coisas não eram bem assim. Ele embarcaria nas férias de verão em viagens
de pesquisa pelo Sul e Centro-oeste que o levaram a várias tribos, como de
bororós e nhambiquaras. Ele retornou à França três anos depois, mas só em 1955
escreveu “Tristes Trópicos”, em que narra a experiência no Brasil, e é considerado
um dos melhores livros de ciências humanas do século XX. Entre suas obras incluem-se
“As estruturas elementares do parentesco”, “Antropologia estrutural” e “O
pensamento selvagem”.
Avenida Paulista, junho, 2018. |
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