E nós, estudantes,
curiosos, sedentos de conhecimentos sobre a grande cidade, costumávamos
percorrê-la, linha por linha, nas tardes de sábados, domingos e feriados. A
trama das linhas (de bondes) – um pouco mais complexa do que agora apresentada
– facilitava a vida de comerciários, operários, estudantes, funcionários
públicos, fregueses de lojas e fieis rezadores das igrejas centrais.
Era barulhento:
rodas de aço sobre trilhos de aço. Mas, também, o bonde era bom e barato, e
relativamente rápido para extensões radiais de quatro a sete quilômetros. À
noite havia de se cuidar com os horários, porque, após certas horas, a
circulação entrava em recesso para voltar apenas nas primeiras horas da manhã
seguinte, em plena madrugada.
Não foi uma nem
duas vezes que eu e Florestan Fernandes saímos da Praça da República e fomos a
pé até a Praça da Sé, pelo eixo da Rua Barão de Itapetininga - Viaduto do Chá,
Praça do Patriarca – Rua Direita para apanhar o Bonde Belém – Quarta Parada.
Florestan parava na Rua do Belém, onde morava em uma modesta pensão. E eu
prosseguia até a Rua Padre Adelino, onde morava com a família, em uma casa
pequena e pobre, ao lado de uma vila-cortiço.”
Aziz Nacib Ab’Saber: São Paulo: Ensaios Entreveros. EDUSP/Imprensa Oficial, 2004.
AZIZ NACIB
AB’SABER (1924-2012), geógrafo e professor da USP. Tive o prazer de
entrevistá-lo algumas vezes tanto na época em que trabalhei na USP quanto no
período da Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Deixou uma vasta obra que
inclui entre muitas outras: “Litoral Brasileiro”, “Amazônia: do discurso à práxis”
e “A Terra Paulista”.
Foto HPA: Museu dos Transportes Públicos Gaetano Ferolla, 2014.
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