quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

ANIVERSARIANTES DO MÊS


Religiosidade ou preguiça de pensar? Ou ambas? É o que sempre me pergunto quando observo o nome que os portugueses do século XVI foram dando aos locais por onde passavam com suas caravelas. Pindorama foi chamada de Vera Cruz e de Santa Cruz; houve um breve tempo que se chamou Terra dos Papagaios. Felizmente, chegaram a Terra do Brasil, uma referência à árvore que eles (e outros europeus antes deles) exploraram de forma insustentável. Depois foi a vez das denominações locais. O principal responsável pela denominação santificada foi o italiano Américo Vespúcio (1454-1512), que fazia parte da primeira expedição exploradora, que partiu de Lisboa em maio de 1501.
Gonzaguinha, São Vicente, 2016.
Assim é a Vespúcio que a primeira vila brasileira deve seu nome: São Vicente. Basta possuir uma hagiografia à mão para saber que a esquadra passou pela ilha em 22 de janeiro de 1502, dia de Vicente de Saragoça (?-304). E não é que trinta anos depois, Martim Afonso de Souza (1490-1564) após ir até a foz do rio da Prata resolveu iniciar a colonização das terras lusitanas pela ilha de São Vicente, onde por acaso (como sempre) ele aportou em 21 de janeiro de 1532. O local já era habitado e os relatos são de que João Ramalho e Antônio Rodrigues o ajudaram a fundar, no dia seguinte, a primeira vila do Brasil, confirmando o nome dado por Vespúcio.
Santa Casa da Misericórdia, 2016.
A segunda aniversariante do mês comemora a elevação de sua condição de vila à categoria de cidade em 26 de janeiro de 1839. Trata-se de Santos (SP). A vila de Santos foi fundada em 1º de novembro de 1546 por Braz Cubas (1507-1592), que acompanhara Martim Afonso na viagem ao Brasil. Com uma visão mais empreendedora do que o conterrâneo, Braz Cubas resolveu mudar o porto para área abrigada da ilha de São Vicente para onde se transferiu com outros moradores da vila de São Vicente. Junto ao porto construiu também o primeiro hospital da colônia, inaugurado em 1º de novembro de 1546 com o nome de Santa Casa de Misericórdia - Hospital de Todos os Santos. A vila se tornou conhecida pela forma reduzida do nome do hospital – Santos. Em matéria de nome Braz Cubas não foi muito original também e acabou homenageando não um, mas a todos os santos. O fato é que Santos faz a sua festa na data em que foi elevada à categoria de cidade pela Assembleia Provincial (Assembleia Legislativa), na época presidida por Venâncio José Lisboa.

        Não é de causar admiração que a terceira aniversariante de janeiro tenha o nome de um santo, afinal, foi fundada por um grupo de padres: os jesuítas Manuel da Nóbrega (1517-1570), Manuel de Paiva (1508-1584) e José de Anchieta (1534-1597). Uma vila diferente – no planalto de Piratininga, longe do litoral, e iniciada com um colégio feito de taipa. “A 25 de Janeiro do Ano do Senhor de 1554 celebramos, em paupérrima e estreitíssima casinha, a primeira missa, no dia da conversão do apóstolo São Paulo e, por isso, a ele dedicamos nossa casa”, como escreveu Nóbrega. A padroeira da cidade, entretanto, era Santa Ana, mãe de Maria e avó de Jesus, desde maio de 1732. E não é que 272 anos depois resolveram substituí-la por São Paulo? A Cúria nomeou São Paulo padroeiro oficial da arquidiocese paulistana e patrono da Capital em 2008.
Assim, vamos preparando o fôlego para muitas e muitas velinhas!

3 comentários:

Amante da Música disse...

Delícia de texto, Hilda.

Amante da Música disse...

Ha! “Amante da Música”, sou eu, o Terron rsrsrs

Hilda Araújo disse...

Obrigada, Terron. Forte abraço.