Religiosidade
ou preguiça de pensar? Ou ambas? É o que sempre me pergunto quando observo o
nome que os portugueses do século XVI foram dando aos locais por onde passavam
com suas caravelas. Pindorama foi chamada de Vera Cruz e de Santa Cruz; houve
um breve tempo que se chamou Terra dos Papagaios. Felizmente, chegaram a Terra
do Brasil, uma referência à árvore que eles (e outros europeus antes deles) exploraram
de forma insustentável. Depois foi a vez das denominações locais. O principal
responsável pela denominação santificada foi o italiano Américo Vespúcio
(1454-1512), que fazia parte da primeira expedição exploradora, que partiu de
Lisboa em maio de 1501.
Gonzaguinha, São Vicente, 2016. |
Assim é a Vespúcio que a primeira vila brasileira deve seu nome: São
Vicente. Basta possuir uma hagiografia à mão para saber que a esquadra passou
pela ilha em 22 de janeiro de 1502, dia de Vicente de Saragoça (?-304). E não é
que trinta anos depois, Martim Afonso de Souza (1490-1564) após ir até a foz do
rio da Prata resolveu iniciar a colonização das terras lusitanas pela ilha
de São Vicente, onde por acaso (como sempre) ele aportou em 21 de janeiro de
1532. O local já era habitado e os relatos são de que João Ramalho e Antônio
Rodrigues o ajudaram a fundar, no dia seguinte, a primeira vila do Brasil,
confirmando o nome dado por Vespúcio.
Santa Casa da Misericórdia, 2016. |
A segunda
aniversariante do mês comemora a elevação de sua condição de vila à categoria
de cidade em 26 de janeiro de 1839. Trata-se de Santos (SP). A vila de
Santos foi fundada em 1º de novembro de 1546 por Braz Cubas (1507-1592), que
acompanhara Martim Afonso na viagem ao Brasil. Com uma visão mais empreendedora
do que o conterrâneo, Braz Cubas resolveu mudar o porto para área abrigada da
ilha de São Vicente para onde se transferiu com outros moradores da vila de São
Vicente. Junto ao porto construiu também o primeiro hospital da colônia,
inaugurado em 1º de novembro de 1546 com o nome de Santa Casa de Misericórdia -
Hospital de Todos os Santos. A vila se tornou conhecida pela forma reduzida do
nome do hospital – Santos. Em matéria de nome Braz Cubas não foi muito original
também e acabou homenageando não um, mas a todos os santos. O fato é que Santos
faz a sua festa na data em que foi elevada à categoria de cidade pela Assembleia
Provincial (Assembleia Legislativa), na época presidida por Venâncio José Lisboa.
Não é de causar admiração que a terceira
aniversariante de janeiro tenha o nome de um santo, afinal, foi fundada por um
grupo de padres: os jesuítas Manuel da Nóbrega (1517-1570), Manuel de Paiva
(1508-1584) e José de Anchieta (1534-1597). Uma vila diferente – no planalto de
Piratininga, longe do litoral, e iniciada com um colégio feito de taipa. “A 25 de
Janeiro do Ano do Senhor de 1554 celebramos, em paupérrima e estreitíssima
casinha, a primeira missa, no dia da conversão do apóstolo São Paulo e, por
isso, a ele dedicamos nossa casa”, como escreveu Nóbrega. A padroeira da
cidade, entretanto, era Santa Ana, mãe de Maria e avó de Jesus, desde maio de
1732. E não é que 272 anos depois resolveram substituí-la por São Paulo? A
Cúria nomeou São Paulo padroeiro oficial da arquidiocese paulistana e patrono
da Capital em 2008.
Assim,
vamos preparando o fôlego para muitas e muitas velinhas!
3 comentários:
Delícia de texto, Hilda.
Ha! “Amante da Música”, sou eu, o Terron rsrsrs
Obrigada, Terron. Forte abraço.
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