sábado, 12 de janeiro de 2019

INGLESES E O RIO DO SÉCULO XVIII

O pintor e botânico John Barrow (1764-1848) integrou a comitiva do embaixador George Macartney à China em 1792/1793 e deixou um relato sobre os locais por onde passou. A beleza natural do Rio de Janeiro o arrebatou. A descrição é vívida e ele relata com simplicidade e elegância os pontos principais da cidade.

Pão de Açúcar (sugar-loaf), visto de Niterói. 2015.
Embora eu deva me esforçar para esboçar uma noção geral dos atributos dessa parte da costa brasileira, estou plenamente consciente de que qualquer descrição que eu possa empregar transmitirá uma ideia inadequada da grandiosidade e da beleza da região àqueles que nunca tiveram a oportunidade de vê-la. O primeiro objeto notável que prende a atenção depois de passar por Cape Frio é um hiato, ou fenda, no come verdejante das montanhas que beiram a costa. Tal abismo aparece, de uma certa distância, como um portal estreito entre duas faces de rocha sólida que, sendo perfeitamente nuas, são as mais notáveis, já que toda outra parte proeminente do cume de montanhas é revestida com uma vegetação luxuosa. Ao se aproximar do abismo, que é na verdade a entrada do grandioso porto do Rio de Janeiro, a face esquerda, ou lado oeste, é revelada como uma única pedra de forma cônica ou, na linguagem náutica, um sugar-loaf, inteiramente destaca, não completamente perpendicular, mas um pouco inclinada na direção da entrada.
[...]
Ao desembarcar, o primeiro objeto na cidade que chama atenção é uma bonita praça, cercada por prédios em três de seus lados, estando o quarto aberto à água. Ao longo desse lado ergue-se um nobre cais de pedra, com passagem em cada extremidade e no centro, dos quais o último é o comum local de desembarque. Quando essa linha de alvenaria for estendida por todo o comprimento da cidade, o que se intencionava fazer, irá servir não só como mero ornamento e conveniência, mas uma notável defesa a tentativa de um inimigo desembarcar. Perto da escadaria central, há um obelisco quadrangular lançando de cada uma das suas quatro faces um esguicho constante de água pura e límpida para uso da parte mais baixa da cidade e dos navios no porto. O lado superior da praça, de frente para o porto, é inteiramente ocupado pelo palácio do Vice-rei, uma construção longa e plana, não notável pela elegância de seu desenho, nem particularidade de construção.
Chafariz da Pirâmide, o "obelisco"(1789), de mestre Valentim. 
    
  O palácio, o obelisco e o píer são todos construídos com blocos de granito cortados e a superfície da praça é de um chão sólido do mesmo material, espargido com areia quartzosa. Sendo o granito do tipo que contém uma grande porção de mica cintilante, é altamente nocivo ao olho, cuja aptidão para aguentar os raios estonteantes do sol brincando durante todo o dia em um lado ou outro de tal área aberta é irrisória – fulgurando emblema das brilhantes façanhas da nação portuguesa em tempos atrás!”



 John Barrow. A Voyage to Conchinchina, In the years 1792 and 1793. London: Printed for T. Cadell and W. Davies in the Strand, 1806. Tradução de Danilo Lopes Brito. Fonte: Biblioteca Nacional. Fotos: Hilda Prado Araújo.

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